Um dos maiores desafios globais de saúde pública, a obesidade possui uma prevalência mundial que mais do que dobrou entre 1990 e 2022, atingindo mais de 890 milhões de adultos. Por isso, é essencial que os médicos estejam aptos a abordar a questão do excesso de peso com seus pacientes de forma eficaz e empática. Um recente estudo publicado no JAMA aborda esta temática, destacando como técnicas específicas de comunicação podem influenciar positivamente o resultado das intervenções médicas em pacientes com obesidade.
O estudo em questão analisou diversas técnicas de comunicação aplicadas em consultas médicas reais, identificando aquelas que mais contribuíram para a receptividade dos pacientes e para o sucesso no tratamento do excesso de peso. Estudos revisados no artigo incluíram gravações de consultas médicas na atenção primária, com 237 interações entre médicos e pacientes.
Em relação à forma como o assunto do peso é introduzido na consulta, abordagens gentis e delicadas foram mais bem aceitas pelos pacientes, reduzindo resistência e possibilitando um diálogo construtivo. Estratégias como mencionar conversas anteriores sobre peso ou condições de saúde relacionadas a ele, empregar qualificadores para tornar o objetivo do emagrecimento mais acessível (“você sabia que perder um pouco de peso poderia melhorar sua pressão arterial?”) e realizar uma “meta-avaliação”, reconhecendo previamente que a conversa pode ser desconfortável, mostraram-se eficazes.
Por outro lado, tentativas de “forçar” o paciente a discutir seu peso, especialmente após uma negativa inicial, resultaram em sentimentos como raiva e frustração, e dificultaram a abordagem, tornando-a ineficaz. O estudo aponta a significância da aceitação da decisão do paciente sobre discutir ou não o assunto, reconhecendo sua autonomia. Nesse sentido, uma técnica eficaz, chamada “referência retrospectiva”, pode ajudar. Ela consiste em relacionar o tema do peso com preocupações específicas que paciente tenha levantado durante a própria consulta. Esse método demonstrou melhor receptividade e facilitou a adesão dos pacientes às recomendações médicas. Perguntas diretas, como “Como você se sente/o que você pensa sobre essa opção?”, incentivaram diálogos colaborativos e mais personalizados, aumentando a aceitação das intervenções propostas.
A comunicação positiva, enfatizando os benefícios do emagrecimento ao invés de focar nos riscos associados à obesidade, também emergiu como determinante no sucesso dos tratamentos. A análise de um estudo mostrou que consultas nas quais os médicos destacavam claramente os benefícios específicos da perda de peso estavam associadas a uma maior probabilidade de adesão às intervenções, com uma diferença absoluta de risco de 0,45 (IC 95%, 0,34-0,56), e também a uma perda de peso média significativamente maior após um ano (-3,60 kg; IC 95%, -6,58 a -0,62 kg).
Os resultados também apontam para a superioridade das abordagens que oferecem tratamentos específicos em vez de conselhos gerais sobre mudanças no estilo de vida. Em um estudo randomizado com 1882 pacientes com obesidade, aqueles que receberam encaminhamentos diretos para programas estruturados de emagrecimento apresentaram resultados melhores que os que receberam apenas aconselhamento. Cerca de 25% dos pacientes com encaminhamento específico perderam pelo menos 5% do peso corporal, comparado a apenas 14% no grupo que recebeu apenas conselhos. Além disso, perderam pelo menos 10% do peso corporal 12% dos encaminhados especificamente, versus 6% no grupo dos aconselhados.
Uma comunicação muito vaga e cientificamente não embasada, que transmitem orientações genéricas e demasiadamente simples, como “coma menos e mova-se mais”, podem atrapalhar. Essas mensagens, além de serem ineficazes, podem gerar uma percepção negativa implicando erroneamente que há uma suposta falta de esforço ou conhecimento por parte dos pacientes.
A forma como o profissional de saúde aborda o tema da obesidade com seus pacientes é decisiva para o sucesso das intervenções médicas. A comunicação gentil, empática e personalizada, focada nos benefícios concretos da perda de peso, oferece resultados comprovadamente superiores em comparação a abordagens genéricas e potencialmente estigmatizantes. A tabela abaixo sumariza algumas orientações e exemplos disponibilizados pelo estudo.
Técnica |
Exemplo |
Iniciar a comunicação sobre perda de peso com gentileza | |
Mencionar uma época em que o peso ou uma condição relacionada já foi discutida anteriormente |
“Eu sei que já falamos sobre peso antes…” |
Suavizar a linguagem |
“Antes você mencionou um pouco sobre seu peso, e também tem falado sobre dores nas costas…” “Você sabia que se perdesse um pouco de peso…” |
Incorporar meta-avaliações |
“Talvez este seja um tema meio delicado para conversarmos…” |
Adaptar a comunicação ao que é relevante para o paciente | |
Fazer referência a algo já mencionado |
“Então acho que perder peso seria realmente benéfico, especialmente por causa do problema que temos discutido…” |
Fazer perguntas e adaptar respostas |
“Como você se sente sobre essa opção?” “Como isso soa para você?” |
Aceitar a resposta do paciente |
“Não? Não está interessado? Tudo bem, sem problemas.” |
Comunicar positivamente e enfatizar os benefícios da perda de peso | |
Incluir projeções otimistas para o futuro |
“Pode ser que perder um pouco de peso ajude a reduzir sua pressão arterial.” |
Utilizar palavras explicitamente positivas | “Isso certamente ajudará positivamente…” |
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