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Infectologia27 abril 2015

Novo antibiótico pode decretar o fim das superbactérias resistentes

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2012, foram reportados 450000 novos casos de tuberculose multi-droga resistente (MDR) no mundo todo e este número não para de crescer. Além da tuberculose, a resistência antimicrobiana se estende também a outras bactérias, como as hospitalares: enterobactérias resistentes a carbapenêmicos (ERC), enterococos resistentes a vancomicina …

Por Eduardo Moura

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2012, foram reportados 450000 novos casos de tuberculose multi-droga resistente (MDR) no mundo todo e este número não para de crescer.

Além da tuberculose, a resistência antimicrobiana se estende também a outras bactérias, como as hospitalares: enterobactérias resistentes a carbapenêmicos (ERC), enterococos resistentes a vancomicina (VRE), e o temido S. aureus resistente a meticilina e vancomicina (MRSA e VRSA, respectivamente).

A resistência também não se restringe apenas ao ambiente hospitalar, e já se detecta um número crescente de infecções por germes comunitários resistentes, vide casos crescentes de pneumonias por pneumococo resistente ou infecção de trato urinário por enterobactérias resistentes.

A insurgência de bactérias resistentes se contrasta com o limitado desenvolvimento de novos antimicrobianos, afinal, pense nos últimos 10 anos de sua prática médica e lembre-se de quantos antibióticos novos você prescreveu. Muito poucos não é verdade?

Esse cenário apocalíptico, anunciado como a “era pós-antibiótica”, em que pessoas poderão morrer de infecções comuns e lesões relativamente simples, está próximo de se tornar real.

A maioria dos antibióticos em uso na medicina atual provém de microorganismos do solo, cujo exemplo mais clássico é a própria penicilina. Não é nenhuma surpresa, portanto, que nossa esperança venha dali. A grande dificuldade, no entanto, no estudo desses microorganismos e suas substâncias de propriedade antimicrobiana é que os mesmos são muito difíceis de cultivar em laboratório. Consequentemente, 99% dos microorganismos ainda não foram pesquisados como fontes de novos antibióticos. O que nos leva a uma conclusão matemática tão simples quanto amparadora: é mais fácil crer que temos os melhores antibióticos nos 1% que conhecemos ou nos 99% desconhecidos? Pois é, tudo leva a crer que nos falta pesquisa.

Este foi o grande avanço da equipe liderada pelo microbiologista e professor Kim Lewis da Northeastern University, em Boston – Massachussets. Kim e colaboradores desenvolveram uma maneira de cultivar estas bactérias em laboratório e poder estudar suas substâncias e propriedades antimicrobianas. Através de um equipamento que eles chamam de “câmara de difusão”, em que os microorganismos são separados em compartimentos individuais por membranas semipermeáveis. A seguir, são enterrados dentro das câmaras no solo, em que os microorganismos são expostos a condições semelhantes ao natural através da membrana semipermeável e assim se multiplicam, desenvolvendo colônias grandes o suficiente para estudo.

Do estudo com 10000 colônias de microorganismos diferentes, a equipe identificou 25 substâncias potencialmente antibióticas, das quais a nomeada “teixobactina” demonstrou-se a mais promissora. In vitro, a teixobactina demonstrou-se bactericida para microorganismos resistentes, como o MRSA e o VRE. Testes posteriores com camundongos demonstraram resultados igualmente animadores contra bactérias que causam septicemia, infecções de pele e  infecções pulmonares.

A teixobactina age destruindo irreversivelmente a parede celular bacteriana, o que não é nenhuma surpresa como mecanismo de ação antimicrobiano, porém seu grande segredo de sucesso é que se liga a regiões não-peptídicas da parede celular, ou seja, não passíveis de mutação, o que sugere que será muito difícil para microorganismos desenvolverem resistência a esta droga, ao menos pelos mecanismos que conhecemos hoje.

Sua aparente “resistência à resistência” foi colocada a prova por exposições repetidas das bactérias S. aureus e M. tuberculosis à teixobactina, e o novo antimicrobiano não decepcionou, não sendo revelado desenvolvimento algum de resistência.

Se a teixobactina será ou não o superantibiótico para nossas superbactérias futuras pesquisas nos dirão. A maior conquista é que já podemos identificar um caminho para o desenvolvimento de novos antibióticos com alto potencial de evitar a resistência bacteriana, e, mais uma vez, a esperança veio do solo: sábio Alexander Fleming.

 

Referências Bibliográficas:

  • https://www.who.int/topics/tuberculosis/
  • Losee L. Ling, Tanja Schneider, Aaron J. Peoples, Amy L. Spoering, Ina Engels, Brian P. Conlon, A new antibiotic kills pathogens without detectable resistance, Nature 517, 455–459 (2015); doi:10.1038/nature14098

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