O uso de plasma convalescente (PC) ou imunoglobulina não é novidade na medicina. O plasma convalescente tem sido utilizado como alternativa terapêutica em paciente com SARS não responsivo à metilprednisolona pulsada.
O PC também já foi utilizado em surtos de infecções respiratórias, como na epidemia de SARS-CoV de 2003, a pandemia do vírus influenza H1N1, ocorrida em 2009, na epidemia de MERS-CoV, em 2012, e em 2014 nos surtos do vírus ebola. Aventa-se como provável explicação para seus resultados terapêuticos a possibilidade de os anticorpos contidos no plasma convalescente possam suprimir a viremia apresentada pelo paciente com determinada doença.
Plasma convalescente e Covid-19
O plasma convalescente (PC) coletados de indivíduos que se recuperaram da Covid-19 e contém anticorpos para o SARS-CoV-2 está sendo estudado para administração em pacientes com a doença.
Destaca-se o estudo piloto realizado em conjunto por três hospitais na China, onde houve a administração de PC em dez pacientes com Covid-19 considerados graves de acordo com as Diretrizes Interinas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e as Diretrizes de Diagnóstico e Tratamento da Covid-19 da Comissão Nacional de Saúde da China. Os casos analisados foram confirmados pelo teste de RNA viral em tempo real para a doença em questão.
Estudo chinês
Dos indivíduos que participaram do estudo, seis pacientes eram homens e quatro eram mulheres, a idade média dos indivíduos foi de 52,5 anos e o tempo de transfusão do PC foi uma média de 16,5 dias após o início da doença.
Os critérios de inclusão adotados foram:
- Idade ≥ 18 anos;
- Dificuldade respiratória, FR ≥30 batimentos/min;
- Nível de saturação de oxigênio menor que 93% em repouso; e
- Pressão parcial de oxigênio (PaO2)/concentração de oxigênio (FiO2) ≤ 300 mmHg (1 mmHg = 0,133 kPa).
Foi transfundida uma dose de 200 mL de plasma convalescente (CP) derivado de doadores recuperados recentemente de Covid-19 com os títulos de anticorpos neutralizantes acima de 1:640 , dentro de 4 horas após o protocolo de transfusão de sangue da OMS e foram mantidos cuidados de suporte máximos e agentes antivirais.
Alguns pacientes receberam tratamento com antibióticos, administração de antifúngico, glicocorticoide e oxigênio em quantidade ideal.
Leia também: Coronavírus: testes in vitro com dois medicamentos mostram resultados eficientes
Os resultados desse estudo estão elencados abaixo:
- Bom nível de segurança e baixo risco na administração do plasma convalescente nos pacientes.
- Melhora dos sintomas clínicos nos 10 pacientes. Parâmetros como febre, tosse, falta de ar e dor no peito, desapareceram ou apresentaram grande melhora em até três dias após a transfusão de PC.
- Houve redução das lesões pulmonares nos exames de tomografia de tórax de todos os pacientes. Os exames radiológicos mostraram graus variados de absorção das lesões pulmonares em sete dias.
- Foi observada a melhora dos valores dos exames laboratoriais de rotina e função pulmonar com aumento da saturação de oxigênio. Observou-se melhora da linfocitopenia com aumento da contagem dos linfócitos e diminuição do valor da proteína C reativa (PCR).
- Ocorrência de nível indetectável de carga viral , em sete pacientes com viremia prévia , após transfusão com plasma convalescente.
- Ausência de efeitos adversos graves, onde apenas um paciente apresentou uma vermelhidão facial.
Conclusões
Esse estudo clínico realizado pelos chineses é bastante relevante por apresentar significativos resultados positivos e pela segurança no uso do PC em pacientes com Covid-19.
No entanto, trata-se de análise de um pequeno grupo de doentes, apenas dez indivíduos e esses também faziam uso de outras terapias medicamentosas quando foram submetidos à transfusão de plasma convalescente.
Veja também: Coronavírus: qual o papel da anticoagulação em pacientes graves?
Apesar dos bons resultados obtidos nessa análise científica, o plasma convalescente Covid-19 ainda não foi aprovado para uso pela Food and Drug Administration (FDA), sendo regulamentado como um produto experimental e sua eficácia e segurança necessitam de mais ensaios clínicos para confirmação e uso aprovado para a população em geral.
A comunidade científica está empenhada em encontrar uma medicação para o SARS-CoV-2, porém, ainda não há nenhum tratamento específico para essa doença.
Referências bibliográficas:
- Effectiveness of convalescent plasma therapy in severe COVID-19 patients. [Acessado em 08. abril.2020 ] Disponível em: https://www.pnas.org/content/early/2020/04/02/2004168117
- World Health Organization, Coronavirus disease (COVID-19) Pandemic. [Acessado em 14. abril. 2020] Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
- Convalescent plasma as a potential therapy for COVID-19. [Acessado em 11. abril. 2020] Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(20)30141-9/fulltext
- Recommendations for Investigational COVID-19 Convalescent Plasma. [Acessado em 13 abril.2020 ] Disponível em: https://www.fda.gov/vaccines-blood-biologics/investigational-new-drug-ind-or-device-exemption-ide-process-cber/recommendations-investigational-covid-19-convalescent-plasma#Patient%20Eligibility
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.