O mieloma múltiplo representa cerca de 10% de todas as malignidades hematológicas e caracteriza-se por proliferação clonal de plasmócitos com consequentes produção e secreção de imunoglobulina monoclonal (proteína M), o que, por sua vez, causa disfunção orgânica.
Mieloma múltiplo
O mieloma é discretamente mais frequente em homens e em afrodescendentes e predomina em idosos, com mediana de idade ao diagnóstico de 65 anos.
Terapêutica
Seu tratamento vem evoluindo rapidamente nos últimos anos, o que tem impactado positivamente nas taxas de sobrevida dos pacientes.
Principais classes terapêuticas utilizadas no mieloma múltiplo:
- Imunomoduladores (ex.: talidomida, lenalidomida);
- Inibidores de proteassoma (ex.: bortezomibe, carfilzomibe, ixazomibe);
- Anticorpos monoclonais (ex.: daratumumabe, elotuzumabe);
- Alquilantes (ex.: ciclofosfamida);
- Corticosteroides (ex.: dexametasona, prednisona).
O principal divisor de águas na escolha terapêutica é a avaliação quanto ao transplante autólogo de células-tronco hematopoiéticas:
- Em pacientes elegíveis ao procedimento, o objetivo é atingir remissão da doença para posterior consolidação com o transplante. A indução de remissão é feita com esquemas compostos por três drogas, durante 3-4 meses;
- Para os indivíduos não-candidatos ao procedimento, o objetivo é manter a doença em platô, a fim de se garantir melhor qualidade de vida e maior sobrevida livre de progressão aos pacientes. Recomenda-se quimioterapia por mais ciclos (8-12 ciclos), com esquemas compostos por três drogas, seguida ou não de manutenção até progressão ou toxicidade. Em alguns casos (como pacientes frágeis), pode-se oferecer esquemas com duas drogas.
Alguns autores vêm estudando o melhor momento para a realização do transplante: primeira ou segunda remissão. Dados na literatura evidenciam impacto positivo na sobrevida livre de progressão quando o transplante é feito precocemente, mas parece não haver diferença nas taxas de sobrevida global.
A escolha terapêutica na recaída também não é uma tarefa simples. Deve-se levar em consideração fatores relacionados ao paciente e à doença, como performance status, idade, tratamento anterior, resposta ao tratamento anterior, tempo entre tratamento anterior e recaída e agressividade da doença. Transplante autólogo deve ser considerado em pacientes elegíveis, independente se já tiverem sido submetidos ao procedimento anteriormente ou não.
Vale ressaltar a dificuldade de acesso a algumas medicações em diversos centros brasileiros. Muitas vezes, infelizmente, o tratamento é escolhido não por ser o melhor para aquele indivíduo, mas por ser a única opção disponível.
Leia também: Mieloma múltiplo refratário: FDA aprova novo tratamento para a doença
Recente estudo abrangendo países da América Latina mostrou que a maioria dos pacientes com mieloma múltiplo é tratada em serviços públicos e que há grande disparidade entre os tratamentos ofertados nos serviços públicos e privados.
Muitas instituições públicas têm dificuldade para realizar o transplante, apesar do papel já bem estabelecido de tal modalidade na doença, assim como para fazer certos esquemas quimioterápicos devido à falta de um ou mais medicamentos.
Quer receber as principais novidades em Medicina? Inscreva-se em nossa newsletter!
Referências bibliográficas:
- Rajkumar SV. Multiple myeloma: Every year a new standard? Hematological Oncology. 2019;37(S1):62–65.
- Kumar SK, Dispenzieri A, Lacy MQ, et al. Continued improvement in survival in MM: changes in early mortality and outcomes in older patients. Leukemia. 2014;28(5):1122‐1128.
- Anderson KC. Progress and paradigms in multiple myeloma. Clin Cancer Res 2016; 22:5419-27.
- Magalhães Filho RJP, Crusoe E, Riva E, et al. Analysis of Availability and Access of Anti-myeloma Drugs and Impact on the Management of Multiple Myeloma in Latin American Countries. Clinical Lymphoma Myeloma and Leukemia, 2018, 19(1), e43-e50.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.