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Hematologia13 junho 2025

EHA 2025: CARTITUDE-1 - uma única infusão, mais de 5 anos de resposta

O primeiro dia de apresentações do EHA 2025 trouxe ainda mais dados animadores sobre a terapia CARTIRUDE-1.

O primeiro dia de apresentações do Congresso Europeu de Hematologia (EHA), cuja edição de 2025 se deu em Milão, já veio com dados animadores!   

Que a terapia com car t cell veio para mudar o paradigma de tratamento dos pacientes com mieloma múltiplo, ninguém duvida. A pergunta que ainda não tinha resposta era: os resultados alcançados por essa terapia seriam duradouros o suficiente para justificar sua indicação?  

 O CARTITUDE-1 avaliou o uso de ciltacabtagene autoleucel (cilta-cel), uma terapia CAR-T de alvo duplo contra BCMA, em pacientes com MMRR altamente tratados (mediana de 6,5 linhas anteriores). Com um follow-up de 60,3 meses, os pesquisadores focaram nos dados de sobrevida e progressão livres de doença após pelo menos 5 anos da infusão única da CAR-T.  

Entre os 97 pacientes tratados, 32 (33%) permanecem vivos e sem progressão há 5 anos, sem qualquer nova terapia para mieloma — um número expressivo, considerando o perfil refratário desses pacientes.  

Esses 32 pacientes: 

  • Tinham idade mediana de 60 anos; 
  • Apresentavam citogenética de alto risco (23,3%) e doença extramedular (12,5%); 
  • Quase todos eram triplo-classes refratários (90,6%) e penta-refratários (46,9%); 
  • 12 pacientes avaliados em um centro com avaliação de doença residual mínima (DRM) com cutoff de detecção de 10⁻⁶ permaneceram em DRM negativa por 5 anos consecutivos.

Só para efeito de comparação: se o paciente receber um transplante autólogo de medula óssea como consolidação de tratamento de mieloma múltiplo EM PRIMEIRA LINHA, a sobrevida livre de progressão em 5 anos é de 28 a 31%. Em pacientes de alto risco, essa sobrevida livre de progressão em 5 anos cai para 12% pós transplante.   

Vale lembrar que, na maioria das vezes, deixamos nossos pacientes com manutenção pós transplante, predominantemente lenalidomida, de modo que ele não ficaria exatamente “off treatment” (quem maneja lenalidomida em consultório sabe como reduções de dose são muito comuns e necessárias, pois não é uma medicação isenta de eventos adversos).   

Ou seja: No CARTITUDE-1, o uso do cilta-cel para uma população intensamente tratada (mediana de linhas prévias de 5) levou ao benefício de não precisar de qualquer outra terapia de consolidação ou manutenção e manteve ⅓ dos pacientes a manter remissão após 5 anos!   

Biomarcadores imunológicos também se destacaram nesse grupo de “respondedores prolongados”, por exemplo: 

  • Menor carga tumoral basal (ex: menor % de plasmócitos na medula e níveis de BCMA solúvel).  
  • Perfil imunológico mais “saudável”:
    Maior fração de linfócitos T naïve no produto CAR-T.
    Maior razão T-células/neutrófilos.
    Maior pico de expansão de células CAR+ (E:T ratio).  
  • Níveis mais altos de hemoglobina e plaquetas antes da infusão.  

Ah, e a sobrevida global mediana do estudo foi de 60,6 meses — um número inédito até então para essa população.  

E o que isso muda na nossa prática aqui no Brasil?  

  • Acesso e registro: O cilta-cel já foi aprovado pela Anvisa em 2023, com o nome comercial Carvykti®. No entanto, não está disponível no SUS e seu custo no setor privado ultrapassa os R$ 2 milhões por infusão — o que ainda o coloca fora da realidade da maioria dos pacientes brasileiros. 
  • Impacto real na conduta: o estudo fortalece o racional de avaliar precocemente a elegibilidade para CAR-T em pacientes com MMRR, principalmente em centros privados e de pesquisa. 
  • Justifica o custo? Para um terço dos pacientes, sim — a chance de uma única infusão gerar mais de 5 anos de remissão completa, livre de nova terapia, com impacto direto em sobrevida global, é algo sem precedentes. O custo segue sendo uma barreira, mas os dados colocam o cilta-cel como possivelmente curativo, e isso muda completamente o patamar da discussão. 

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