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Hematologia6 dezembro 2025

ASH 2025: Tratamento de combinação tripla a pacientes com LMA FLT3-mutada

Seguimento de longo prazo de estudo comparativo de azacitidina + venetoclax + gilteritinibe demonstra boa resposta.

No ASH 2025, a dra Roberta Azevedo (MD Anderson) apresentou o seguimento de três anos do estudo fase II avaliando a combinação tripla azacitidina (AZA), venetoclax (VEN) e gilteritinibe (GILT) em pacientes com LMA recém-diagnosticada FLT3-mutada inelegíveis a quimioterapia intensiva. Ela iniciou sua apresentação justificando o racional biológico dessa associação, que se baseia na forte sinergia pré-clínica entre VEN e inibidores de FLT3, com bloqueio convergente de vias antiapoptóticas, e o próprio MD Anderson já havia mostrado previamente que a combinação tripla alcançava taxas de MRD- negatividade próximas de 90%, muito superiores às de AZA+VEN isoladamente. 

A população avaliada foi pequena. Abaixo, vocês veem como o regime foi administrado: 

Basicamente, os pacientes receberam: 

  • Indução
     
  • AZA 75 mg/m² D1–7
     
  • VEN 400 mg D1–28
     
  • GILT 80 mg D1–28
     
  • Avaliação de medula óssea no D14:
    Se aplasia ou blastos <5%, VEN e GILT eram suspensos imediatamente até recuperação.
     
  • Consolidação (ciclos 2–24)
     
  • AZA D1–5
     
  • VEN apenas 7 dias por ciclo (padrão institucional)
     
  • GILT contínuo
     
  • Manutenção após ciclo 24
     
  • Gilteritinibe em monoterapia
     

População 

Entre 2020 e 2022, 30 pacientes foram incluídos (mediana 71 anos; 30% ≥75 anos). Deles: 

  • FLT3-ITD: 73%
     
  • FLT3-TKD: 27%
     
  • Mutação em via RAS: 23%
     

Eficácia 

A taxa de resposta foi excepcional: 

  • CR/CRi: 100% (nenhuma mortalidade na indução!!!)
     
  • Quando à DRM negativa, tivemos uma taxa de 93% — reforçando profundidade de resposta sem precedentes em LMA FLT3-mutada inelegível
    (consistente com dados prévios do MD Anderson mostrando DRM– em ~90% dos pacientes)
     

Transplante e desfechos pós-resposta 

Entre os 30 pacientes que responderam: 

  • 14 (47%) foram encaminhados ao transplante alogênico
     
  • 5 morreram em CR
     
  • 3 recaíram
     
  • 8 recaíram globalmente no estudo e continuam em seguimento
     

Entre os pacientes que recaíram: 

  • Mediana de duração de resposta: 19,9 meses
     
  • 67% perderam a mutação FLT3 na recaída (mostrando escape biológico)
     
  • 75% apresentaram evolução clonal
     

Sobrevidas 

Com seguimento mediano de 41,5 meses: 

  • RFS (mediana): 23,4 meses
     
  • OS (mediana): 29,7 meses
     
  • RFS e OS superiores em FLT3-TKD vs ITD
     
  • ITD: RFS 17 meses; OS 21,8 meses
     
  • TKD: RFS 38,5 meses; OS não alcançada
     
  • A idade não afetou prognóstico (≥75 anos vs <75)
     
  • Mutação em via RAS mostrou tendência a pior prognóstico, porém sem significância estatística
     

Notavelmente, transplante alogênico não melhorou a sobrevida, provavelmente influenciado pela alta mortalidade relacionada ao TMO (5/14 transplantados morreram em CR). 

 

Padrão de resposta baseado em FLT3-TKD vs ITD 

RFS por subtipo FLT3 

FLT3 subtype N Median RFS 1-year RFS 2-year RFS 3-year RFS 
ITD 22 17.0 months 64% 41% 32% 
TKD 8 38.5 months 100% 75% 75% 

OS por subtipo FLT3 

FLT3 subtype N Median OS 1-year OS 2-year OS 3-year OS 
ITD 22 21.8 months 77% 50% 36% 
TKD 8 Undefined 100% 75% 75% 

 

Padrão da recaída 

A apresentadora mostrou que 67% das recaídas já não esboçaram FLT3 mutado, e 75% apresentavam sinais citogenéticos e moleculares de evolução clonal, conforme tabela abaixo: 

 

Patient FLT3 type Co-mutations at diagnosis Co-mutations at relapse 
#1 ITD RUNX1, KRAS RUNX1, GATA2 
#2 TKD TET2, NRAS, SF3B1, SMC1A, STAG2, BCORL1 DNMT3A, NRAS, ZRSR2, GATA2 
#3 ITD DNMT3A, PTPN11, U2AF1, TET2 BCOR, DNMT3A, PTPN11, U2AF1, TET2 
#4 TKD DNMT3A, RUNX1 DNMT3A, RUNX1, IKZF1 
#5 TKD BCOR, DNMT3A, SH2B3, U2AF1 BCOR, DNMT3A, EZH2, NRAS 
#6 ITD DNMT3A, WT1 FLT3-TKD (VAF 5%) 
#7 TKD   

 

Toxicidade e manejo 

O regime mostrou toxicidade moderada e manejável: 

  • Infecções durante indução: 27%
     
  • Infecções na consolidação: 48%
     
  • Neutropenia febril ≥G3: 40% 
     
  • Sepse ≥G3: 17%
     

A medicação com maior necessidade de ajuste foi venetoclax (48%), seguida de: 

  • Azacitidina: 44%
     
  • Gilteritinibe: 28%
     

A principal causa de descontinuação precoce foi o encaminhamento para transplante. 

Os pacientes receberam mediana de 3 ciclos, embora alguns tenham completado até 36 ciclos. 

Pontos adicionais relevantes 

  • O estudo não teve tamanho amostral suficiente para avaliar o papel prognóstico da MRD de forma definitiva.
     
  • Quando questionada sobre o uso de venetoclax por 7 dias, a investigadora destacou que este é o padrão institucional do MD Anderson para consolidação em tripla combinação, provavelmente pois esse esquema triplo é reconhecidamente muito mielotóxico.
     
  • Os resultados reforçam que a sinergia VEN + GILT parece ser um dos motores da profundidade de resposta, permitindo DRM negativa  muito elevada e respostas prolongadas.
     

 

Autoria

Foto de Luiza Lapolla Perruso

Luiza Lapolla Perruso

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