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Hematologia11 dezembro 2024

ASH 2024: O estudo que mobilizou a platéia do ASH 2024: AMPLIFY trial

Um estudo abarrotou os salões do último dia do congresso ASH 2024 e você pode conferir aqui quais os resultados que ele trouxe.

No último dia do congresso ASH 2024, da American Society of Hematology, três auditórios se abarrotaram de pessoas ansiosas pelo resultado do esperado AMPLIFY study. O estudo fase 3 que compara acalabrutinibe + venetoclax com ou sem obinutuzumabe a quimioimunoterapia para leucemia linfoide crônica em primeira linha de tratamento foi apresentado pela dr. Jennifer Brown do Dana Farber Cancer Institute.

Métodos do estudo

Este foi o primeiro estudo que adicionou venetoclax ao acalabrutinibe. Antes dele, o ELEVATE-TN havia comparado acalabrutinibe com ou sem obinutuzumabe ao clorambucil com obinutuzumabe, demonstrando sobrevida livre de progressão em 24 meses em 93% dos pacientes quando associado a obinutuzumabe e 87% em monoterapia, comparados aos 47% do braço comparados.

O AMPLIFY (ACE-CL-311; NCT03836261) é um ensaio randomizado, aberto e em andamento, de fase 3, com pacientes com LLC em primeira linha de tratamento, com idade ≥18 anos, sem del(17p) ou mutação TP53.

Os pacientes foram randomizados em uma proporção de 1:1:1 para receber acalabrutinibe-venetoclax (AV), acalabrutinibe-venetoclax-obinutuzumabe (AVO) ou a escolha do investigador entre fludarabina-ciclofosfamida-rituximabe (FCR) ou bendamustina-rituximabe (BR).

Aqui, eu já chamo atenção para um detalhe: Não serão comparados os desfechos do braço AV em relação a AVO. Ou seja, tudo que este trabalho trouxer de dado será comparando os dois a quimioimunoterapia.

O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada por revisão central cega e independente (IRC) de AV vs FCR/BR na população por intenção de tratar (todos os pacientes randomizados). Os desfechos secundários incluem a taxa de doença residual mínima indetectável (uMRD), sobrevida global (OS) e SLP avaliada por IRC para AVO vs FCR/BR.

Resultados

Resultados apresentados 867 pacientes foram randomizados (AV, n=291; AVO, n=286; FCR/BR, n=290) com idade mediana de 61 anos. É importante ressaltar que a maioria dos pacientes do estudo (em torno d e 57-59% variando entre os grupos) tinha IGHV não mutada, e 15% em cada grupo apresentava cariótipo complexo.

Na mediana de follow up de 41 meses.
 FCR/BR AV Hazard ratio em relação ao FCR/BR p AVO Hazard ratio em relação ao FCR/BR p 
Sobrevida livre de progressão em 3 anos  66,5% 

Mediana 47.6 meses 

76,5% 

Mediana Não atingida 

0.65 (0.49-0.87) P= 0.0038 83.1% 

Mediana não atingida 

 

0.42 (0.3 -0.59) P< 0.001  
Sobrevida global        
Doença residual mínima (em sangue periférico com sensibilidade 10-4) indetectável ao final do tratamento 72,9% 45%   95%   

Considerações

Ao estratificar a população por status mutacional do IGHV, o braço AVO apresentou SLP em três anos de 82.8% comparado a 56.8% da quimioimunoterapia enquanto ao braço AV apresentou 68.9%. Já no subgrupo com IGHV mutado, o braço AVO apresentou praticamente a mesma SLP, 83.6%, enquanto o braço AV apresentou marcado incremento para 86%. De novo, o estudo não foi desenhado para comparar AV com AVO, mas este resultado levanta a sugestão de que o obinutuzumabe possa ser omitido neste subgrupo de pacientes sem prejuízo de PFS, o que já não pode ser dito sobre o grupo não mutado. No braço quimioimunoterapia, a SLP foi de 79.9%, e é importante ressaltar que na comparação dos braços entre tivemos resultados de Hazard ratio não significativos.

O estudo encontrou diferenças de sobrevida global entre os grupos – um desfecho difícil de ser satisfeito em estudos de doenças indolentes como a LLC.

Conclusão

Entendendo que a sobrevida livre de progressão é particularmente maior naqueles pacientes que alcançam a DRM indetectável ao final do tratamento, e que o braço com menores taxas de DRM negativa foi o AV, difícil entender como eles performaram tão melhor que a quimioimunoterapia na SLP. A autora mostrou também um Kaplan Meier da PFS daqueles pacientes que terminaram o tratamento em DRM positiva, e nele, a PFS em três anos do braço AV era 72.7% comparada a 45.2% da quimioimunoterapia, com HR de 0.44. Uma explicação possível para essa discordância é a de que, mesmo em DRM+, os pacientes que são tratados com AV mantém o clone “controlado” e seu ressurgimento é muito lento até de fato ocorrer a progressão.

Quanto aos eventos adversos, 20% dos pacientes do grupo AVO apresentaram algum evento que levou a descontinuação do tratamento comparado a 7,9% no grupo AV e 10,8% no quimioimunoterapia.

Neutropenia febril foi um evento raro, no máximo 2% no grupo AVO, assim como fibrilação atrial.

Mensagens práticas

A SLP é maior em pacientes com LLC virgens de tratamento ao usaram acalabrutinibe + venetoclax com ou sem obinutuzumabe ao se comparar a FCR/BR. A vantagem do esquema é que ele tem a proposta de terapia finita, algo que até o momento só é aprovado no Brasil para o esquema venetoclax + obinutuzumabe (conforme estudo CLL14 [2]). O CLL14 apresentou SLP em 6 anos para 47% do grupo IGHV não mutado, dado que até o momento não podemos comparar com resultados do AMPLIFY dado o follow up mais curto deste último.

Na prática, associar obinutuzumabe ao A+V não parece ser justificável para a maioria dos pacientes ,sobretudo mais frágeis, considerando que 1/5 dos pacientes do estudo interrompeu o uso das drogas por toxicidades e os desfechos clínicos são muito parecidos entre A+V e A+V+O. Talvez o obinutuzumabe seja interessante somente para pacientes mais jovens e com doença de pior prognóstico.

Da mesma forma que a associação ibrutinibe + venetoclax (CAPTIVATE [3]) parece não ter se consolidado como primeira escolha para a maioria da comunidade médica, vamos ver se o acalabrutinibe + venetoclax vai convencer. A publicação do estudo no New England Journal of Medicine já foi aceita, mas até o dia de hoje ainda não estava disponível online.

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