Na seara dos linfomas agressivos, a sessão de trabalhos orais conduzida no domingo 08 de dezembro de 2024 contou com a apresentação da avaliação de cinco anos de seguimento do estudo POLARIX. A apresentação foi conduzida pelo dr Gilles Salles, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, e traria resultados muito aguardados pela multidão da plateia.
Antes de apresentar os novos achados, o dr Salles nos lembrou do desenho do estudo duplo-cego, randomizado, fase três, POLARIX, que é bem familiar da maioria presente, que envolvia o uso em primeira linha de Polatuzumabe vedotina 1.8 mg/kg + R-CHP, comparado ao braço R-CHOP, por seis ciclos, cada ciclo composto de 21 dias, e duas doses adicionais de rituximabe ao final do tratamento.
Métodos
Com os dados atuais, o trabalho conta com 879 pacientes, seguidos por uma mediana de 64 meses.
A mediana de idade ao diagnóstico foi de 66 anos, e a maioria era IPI 3-5 no screening. A maioria dos pacientes foi categorizada como linfoma difuso de grandes células B (LDGCB), seja subtipo célula B ativada (ABC), subtipo centro germinativo (CG) ou sem outras especificações, ficando a população de linfomas de alto grau/ double-triple-hit com 9.8-11% de representação. A classificação quanto à célula de origem foi feita por perfil de expressão gênica, e em média 30-35% dos pacientes eram subtipo ABC e 35-49% eram subtipo CG.
Resultados
- O benefício em sobrevida livre de progressão (SLP) encontrado no estudo inicial se manteve, havendo uma pequena taxa de depuração (SLP em 2 anos de 76.7% no grupo Pola-R-CHP que cai para 64.9% em 5 anos). Ser tratado com Pola-R-CHP seguiu sendo um fator de proteção para progressão de doença, com hazard ratio de 0.77 em relação ao regime padrão R-CHOP.
- A necessidade de uma segunda linha de tratamento foi especialmente maior no grupo R-CHOP, pois 336 pacientes (correspondendo a 61.7% do grupo) precisaram de uma nova linha, comparados aos 290 (38.3%) dos pacientes que receberam Pola-R-CHP.
Mas e a sobrevida global?
É. Eu pensei nisso, você pensou nisso, toda a platéia pensou nisso – e estava assistindo a apresentação por este motivo. Em se tratando de uma doença agressiva e curável, claro que o desfecho de diferença de sobrevida global é sempre desejável.
E para lembrarmos sempre que, mesmo na estatística, a semântica é extremamente importante, o autor descreveu que “Numericamente, foram descritos menos óbitos no braço Pola-R-CHP que no R-CHOP, conferindo hazard ratio para morte de 0,85 em favor do Pola-R-CHP”. Mas, como ninguém ali é bobo, uma simples interpretação do slide mostrava que a diferença entre as sobrevidas não foi estatisticamente significativa, assim como o HR descrito. Em resumo: sem diferença de sobrevida global.
Apesar disso, na análise de subgrupo, pacientes com subtipo ABC apresentaram HR para sobrevida global de 0.49 (0.26 – 0.86), este estatisticamente significativo. Fo o único subgrupo com benefício em sobrevida global, ao passo que os pacientes com IPI entre 3-5 também foram especialmente beneficiados quanto à sobrevida livre de progressão junto aos subtipo ABC, com HR 0.72 (0.55-0.94) para os tratados com Pola-R-CHP em relação ao R-CHOP.
Mensagem prática
O POLARIX continua não sendo um regime para qualquer tipo de LDGCB. Considerando que é um esquema com custo significativamente mais elevado que o bom e velho R-CHOP, boa parte da comunidade médica atualmente considera que sua indicação se restringe aos pacientes com IPI de alto risco e/ou subtipo ABC.
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