Em resposta aos esforços mundiais para combate à pandemia Covid-19, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) propôs um guia de suporte para atendimentos de gestantes com quadros suspeitos ou confirmados, onde sugere manejo em diferentes condições:
- Pré natal de pacientes ambulatoriais.
- Triagem da gestante no hospital.
- Manejo intraparto de mulheres confirmadas ou suspeitas Covid-19.
- Cuidados pós-parto e neonatais de mulheres confirmadas ou suspeitas de Covid-19.
- Suporte psicológico.
Abordagem de gestantes durante pandemia de Covid-19
A pandemia de Covid-19 tem causado quadros respiratórios graves em todo o mundo desde o caso índice em dezembro na China. Desde então temos tentado aprender, conhecer e principalmente combater essa pandemia que, em gestantes, pode ser uma doença grave, de potencial letal para mãe e feto. As sugestões para controle devem começar pelas precauções dos serviços que vão receber essas mulheres.
Pré-natal em pacientes ambulatoriais
- Atenção especial para pacientes com comorbidades (hipertensão e diabetes). Já que gravidez per se é uma condição que predispõe doenças respiratórias por sua condição cardiorrespiratória particular. Usar insulina se preciso para controle glicêmico eficaz;
- Redução número de consultas. Sempre verificar sinais e sintomas antes de vir para consulta de pré-natal:
Idade gestacional | Consulta | Ultrassonografia |
Comentários |
Em torno 12 semanas | Pessoalmente | USG com TN |
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16 semanas | Telemedicina | ||
20 semanas | Pessoalmente | Morfológico | |
24 semanas | Telemedicina |
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28 semanas | Pessoalmente | Rotina (checar necessidade de profilaxia RH) | |
30 semanas | Telemedicina | Rotina (checar PA ambulatorial, se possível) | |
32 semanas | Pessoalmente | Aval Crescimento fetal | Rotina |
34 semanas | Telemedicina | Rotina (checar PA ambulatorial, se possível) | |
36 semanas | Pessoalmente |
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37-41 semanas | Pessoalmente | Rotina | |
Pós-parto | Telemedicina | A não ser que tenha queixas necessárias para presencial |
Paciente na triagem hospitalar ou maternidade
Paciente gestante que chegar emergência com sintomas respiratórios ou sintomas obstétricos deve ser triada para Covid-19. Se triagem positiva, oferecer máscara, equipe usar EPI se precisar manipular paciente. Encaminhar paciente para isolamento. Avaliar os sinais e sintomas de Covid-19 e a testagem deve seguir os critérios locais para confirmação diagnóstica.
- Sintomas leves e sem fatores de risco: retorno ao serviço se piora dos sintomas. Encaminhar ao pré-natal. Monitorar sintomas em casa;
- Sintomas moderados ou com fatores de risco: exame físico detalhado, exames de laboratório e raio-X tórax, se necessário. A decisão de internação deve basear-se nos resultados dos exames;
- Sintomas doença grave: avaliação multidisciplinar (obstetra, intensivista, neonatologista, infectologista). Tratamento em geral em centros terciários. Parto deverá ser considerado. Conduta individualizada.
Manejo intraparto de mulheres confirmadas ou suspeitas Covid-19
- Covid-19 por si só não é indicação para interrupção da gravidez. Necessário avaliar condição respiratória da gestante e, se com o parto, a ventilação materna poderia ser melhorada por questões mecânicas. Internar, de forma ideal, em quartos com pressão negativa, se disponíveis;
- Diminuir ao mínimo necessário equipe para suporte ao parto. Diminuem as chances de contaminação profissionais de saúde. Doulas devem ser evitadas e acompanhantes devem ser restritos;
- Época do parto deve ser individualizada considerando: status clínico da paciente, idade gestacional e bem estar fetal. Parto vaginal pode ser conduzido com abreviação período expulsivo;
- Choque séptico, falência de órgãos ou sofrimento fetal agudo devem ser causas para interrupção imediata da gravidez por cesariana. Se possível em sala compressão negativa;
- Para proteção da equipe médica banheiras, piscinas de parto devem ser evitadas por evidências de presença de vírus em fezes de gestantes;
- Anestesia regional ou geral pode ser utilizada para alívio da dor ou para cesárea;
- Nos casos de prematuridade o uso de corticoterapia para acelerar maturidade pulmonar é aconselhado;
- Embriões/fetos filhos de mães suspeitas ou confirmadas de Covid-19 devem ser testados e seu descarte deve ser feito sempre considerando a possibilidade de estarem infectados.
Ouça o podcast: Especial Coronavírus: principais pontos da abordagem na gravidez
Cuidados pós-parto e neonatais de mulheres confirmadas ou suspeitas de Covid-19
- Cordão umbilical deve ser clampeado prontamente. Contraindica-se o contato pele-a-pele nas mães confirmadas ou suspeitas;
- Precauções de contato devem permanecer até que a mãe teste negativo;
- Aleitamento materno permitido (às evidências ainda não demonstraram transmissão pelo leite materno de forma consistente), desde que a condição clínica da mãe permita. Se a mãe estiver clinicamente instável, evitar aleitamento e tratar a mãe. Durante a mamada, mãe deve estar de máscara e com equipamento proteção se for sintomática respiratória leve;
- Alojamento conjunto é permitido. Orientar as mães para higienização e precaução de contato. Manter o berço (se possível incubadora – proteção física mais eficiente) a 2 metros da cama da paciente;
- Visitas: evitar. Sugerir envio de vídeos ou fotos através de mídias sociais. Mesmo na alta sugerir restrição de visitas pelo isolamento social. Seguindo protocolos locais de isolamento.
Suporte psicológico
- Gestantes e puérperas estão entre os grupos de risco para doenças depressivas ou síndromes ansiosas. Quando suspeitas/prováveis/confirmadas para Covid-19, esses quadros podem complicar os quadros respiratórios maternos ou levar a complicações fetais;
- Necessidade de separação de mãe – RN pode ser um fator limitante na lactação;
- Profissionais de saúde devem atentar para saúde mental dessas mulheres. Padrão de sono, aleitamento materno, sinais de ansiedade ou depressão ou tendências suicidas devem ser prontamente checadas e tratadas;
- O diagnóstico de um psiquiatra pode ser útil no período.
Não existem drogas confirmadas para prevenção do Covid-19. Assim sendo, até termos vacinas eficazes, a prevenção continua sendo nosso melhor aliado no combate a esse mal.
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Referência biliográfica:
Poon LC, et al. Global interim guidance on coronavirus disease 2019 (COVID-19) during pregnancy and puerperium from FIGO and allied partners: Information for healthcare professionals. Internationa Journal of Ginecology and Obstetrics. Special Article. 4 April 2020. https://doi.org/10.1002/ijgo.13156
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