Diante do cenário pandêmico da Covid-19, houve a percepção de um aumento considerável de gestações não planejadas tanto no Brasil, como no mundo. Essa tendência elevou o número de abortamentos espontâneos e provocados, natimortos, neomortos, e complicações maternas. As restrições da Covid-19 impuseram vários impasses ao uso de anticoncepcionais: fechamento de postos de saúde, farmácias; escassez de suprimentos, falta de conhecimento sobre interferência da pílula anticoncepcional com Covid-19.
Claramente observamos que pessoas de origens sócio-demográficas e econômicas mais desfavorecidas mostraram ser mais propensas a enfrentar barreiras à contracepção, sugerindo desigualdades crescentes no acesso à contracepção durante desastres.
Evidências atuais
O tema inspirou o European Journal of Contraception & Reproductive Health Care a publicar uma revisão sistemática em março deste ano de 2021 abordando como grandes desatres: pandemia, Covid-19, zika vírus, guerras, podem alterar a anticoncepção feminina nos países de alta renda.
O trabalho incluiu 110 artigos, dos quais a grande maioria era literatura latina com enfoque no surto do vírus da zika e Covid-19. As evidências incluídas nesta revisão confirmaram que a contracepção é altamente importante durante desastres.
O estudo ratifica a ideia do quão necessária é a anticoncepção para reduzir os resultados adversos de saúde, por exemplo, nascimentos com microcefalia relacionados ao zika vírus e os custos de cuidados de saúde associados, mas também para garantir que as necessidades contraceptivas sejam atendidas durante desastres que podem fazer com que as pessoas atrasem o planejamento familiar devido a questões financeiras ou médicas.
O estudo defende a ideia de que durante os cenários de desastres naturais ou sociais, deve haver esforços políticos para facilitar o acesso à anticoncepção, bem como disponibilização gratuita dos mesmos.
Os benefícios dos anticoncepcionais além da anticoncepção
Para mulheres em serviço implantadas, a contracepção é particularmente importante para a supressão menstrual. A revisão identificou que as mulheres em serviço em áreas de desastre tinham um grande desejo de supressão menstrual e de controle dos sintomas menstruais. Já que a menstruação faz com que as mulheres precisem usar mais os sanitários, situação inconveniente para as equipes de saúde que trabalham nas enfermarias Covid-19, pois o equipamento de proteção individual deve ser retirado e colocado a cada visita ao sanitário.
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Torna-se claro que há uma necessidade de remoção de barreiras aos anticoncepcionais em momentos de extrema ruptura social. Os efeitos colaterais que podem ser vistos como benéficos, como a supressão da menstruação, devem ser destacados para os usuários dos serviços, particularmente aqueles que atuam na de linha de frente da Covid-19.
Referência bibliográfica:
- Benjamin Freed, Sarah Hillman, Saran Shantikumar, Debra Bick, Jeremy Dale & Julia Gauly (2021) The impact of disasters on contraception in OECD member countries: a scoping review, The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care, doi: 10.1080/13625187.2021.1934440
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