No dia 16 de abril de 2021, o secretário do Ministério da Saúde Raphael Parente em entrevista coletiva recomendou que as mulheres brasileiras, se possível, adiassem seus planos de gravidez durante o período da pandemia de Covid-19.
Segundo um estudo realizado pelo CDC, que reuniu mulheres sintomáticas de 15 a 44 anos nos Estados Unidos com infecção confirmada por laboratório entre em 30 de janeiro e 3 de outubro de 2020, as gestantes tinham uma probabilidade significativamente maior de necessidade de terapia intensiva (10,5 casos por 1.000, frente a 3,9). Também se duplicava o risco de que fossem necessária ventilação mecânica e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). Pela primeira vez, além disso, esse estudo detectou que a probabilidade de morte era maior: 34 mortes (1,5 por 1.000 casos) entre 23.434 mulheres grávidas sintomáticas, e 447 (1,2 por 1.000 casos) entre 386.028 mulheres não grávidas, o que reflete um aumento de 70% no risco de morte associado à gestação.
Esses riscos, além do mais, se agravam com a idade: as mulheres grávidas de 35 a 44 anos com Covid-19 tinham quase quatro vezes mais probabilidades de precisar de ventilação invasiva e duas vezes mais probabilidades de morrer que as não gestantes da mesma idade, aponta a pesquisa do CDC
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Por que gestantes possuem mais risco?
Ainda não temos respostas e sim hipóteses. A principal delas se baseia na imunomodulação que o organismo materno desenvolve para diminuir a rejeição ao feto, ocasionando assim uma pior resposta às doenças de uma forma geral.
Posicionamento da FEBRASGO
Em entrevista no dia 15 de Abril de 2021 para o Bom dia Rio da Rede Globo, o presidente da Federação de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) Agnaldo Lopes ratifica que a escolha por engravidar ou não, deve ser sempre da mulher, e o obstetra deve aconselhá-la e apoiar a decisão. Além disso, ele enfatiza que postergar um ano ou mais os planos de engravidar poderia impactar de forma determinante na fertilidade da paciente, bem como aumentar riscos de hipertensão, diabetes e abortamento.
Posicionamento de outras sociedades
A opinião do presidente da FEBRASGO está alinhada com o posicionamento publicado pelo The New England Journal of Medicine no final do ano passado, que defende que o aconselhamento sobre como evitar a gravidez tende a se basear em uma doutrina de aconselhamento não-diretivo, em que um médico oferece informações sobre os riscos e abordagens para minimizá-los e apoia as pacientes na tomada de decisões informadas”.
De forma bastante pertinente, o artigo divulgado no New England faz uma analogia à diabetes. A Diabetes também está associada a um risco aumentado de aborto espontâneo, prematuridade, restrição de crescimento, mortalidade perinatal e macrossomia, e mulheres grávidas com diabetes estão em risco de infarto agudo do miocárdio, progressão da retinopatia, nefropatia e cetoacidose diabética. E apesar desses riscos, muitas mulheres com diabetes optam por engravidar.
O exercício da autoridade pública em uma área tão profundamente pessoal e privada como a decisão sobre se e quando ter um filho requer forte justificativa, dadas as muitas questões éticas que levanta.
Referências bibliográficas:
- Rasmussen AS, et al. Delaying Pregnancy during a Public Health Crisis — Examining Public Health Recommendations for Covid-19 and Beyond, The New England Journal of Medicine. 2020; 383:2097-2099. doi: 10.1056/NEJMp2027940
- G1. Ministério da Saúde recomenda que mulheres adiem, se possível, gravidez. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/04/16/ministerio-da-saude-recomenda-que-mulheres-adiem-se-possivel-gravidez.ghtml
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