A pré-eclâmpsia é uma complicação da gravidez que afeta 2-8% das gestações em todo o mundo, e é uma das principais causas de morbidade e mortalidade maternas e perinatais. Uma de suas complicações é a prematuridade e recém-nascidos de baixo peso.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como baixo peso ao nascer (BPN) o nascimento de recém-nascidos com peso inferior a 2.500g, enquanto muito baixo peso (MBP) é considerado quando o peso é menor que 1.500g (até 1.499g).
Devido a melhorias nos cuidados e instalações perinatais, as taxas de sobrevivência de lactentes de muito baixo peso aumentaram notavelmente nas últimas duas décadas. Além das intercorrências a curto prazo desses lactentes, complicações neurológicas a longo prazo parecem ser uma grande preocupação na infância e foi relatado que afeta 20-50%.
Poucos estudos anteriores avaliaram a influência da pré-eclâmpsia no quadro neurológico a longo prazo de lactentes MBP, e os resultados têm sido inconsistentes.
O estudo trazido aqui nesse texto, objetivou investigar o impacto da pré-eclâmpsia nos resultados do neurodesenvolvimento em lactentes MBP aos 6, 12 e 24 meses de idade.
Pré-eclâmpsia e recém-nascidos MBP
Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo de com lactentes MBP nascidos entre 2011 e 2018. Os participantes foram divididos em três grupos: (1) mães sem pré-eclâmpsia, (2) pré-eclâmpsia sem critérios de gravidade e (3) pré-eclâmpsia com critérios de gravidade.
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A ferramenta de avaliação do neurodesenvolvimento mais amplamente utilizada para crianças é a Bayley Scales of Infant Development (BSID), inicialmente publicado em 1969, com a segunda edição (BSID-II) em 1993, e a terceira edição (BSID-III) em 2006.
A escala BSID-III foi usada para avaliar o neurodesenvolvimento dos participantes. Foram analisados domínio de linguagem, cognitivo e motor. O escore BSID-III < 85 foi definido como comprometimento do neurodesenvolvimento.
Resultados
Ao todo, 482 lactentes nascidos de 482 mulheres foram analisados, das quais 327 não tiveram pré-eclâmpsia e 155 tiveram pré-eclâmpsia (58 sem e 97 com critérios de gravidade).
As crianças nascidas de mães com pré-eclâmpsia grave tiveram as pontuações BSID-III mais baixas em 6, 12 e 24 meses e após ajustes, pré-eclâmpsia grave foi significativamente associada com alteração do neurodesenvolvimento cognitivo (razão de chances ajustada [aOR] 4,14, intervalo de confiança de 95% [CI] 1,21-14,16, P=0,024) e de linguagem (aOR 3,37, 95% CI 1,55-7,34, P = 0,002), aos 2 anos de idade.
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Conclusão
De acordo com os resultados do estudo, lactentes de muito baixo peso ao nascer de mães com pré-eclâmpsia grave tiveram pior desfecho de neurodesenvolvimento aos 2 anos, que principalmente se manifesta nos domínios cognitivo e de linguagem.
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