Qual a melhor abordagem no momento de tratar o abortamento incompleto? Muitas vezes o profissional se depara com uma dúvida sobre optar pela histeroscopia cirúrgica ou pela vácuo aspiração. Um estudo publicado recentemente no JAMA teve como objetivo avaliar a superioridade da histeroscopia cirúrgica sobre a vácuo aspiração no tratamento do abortamento incompleto.
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Métodos
Trata-se de um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, que recrutou mulheres com diagnóstico de abortamento incompleto antes de 14 semanas, em 15 centros franceses. O estudo recrutou mulheres de novembro de 2014 a maio de 2017 e seguiu essas mulheres por dois anos.
O objetivo principal do estudo foi avaliar as taxas de fertilidade subseqüentes pós aborto espontâneo incompleto entre mulheres que pretendem conceber, comparando as tratadas por histeroscopia e as submetidas à aspiração a vácuo. O objetivo secundário foi investigar se a histeroscopia está associada a menos complicações intra e pós-operatórias, incluindo reintervenção cirúrgica.
Resultados
Foram incluídas 574 mulheres, divididas em dois grupos: tratamento cirúrgico por histeroscopia (n=288) e tratamento cirúrgico por vácuo aspiração (n=286).
As análises de intenção de tratar incluíram 563 mulheres (idade média [DP], 32,6 [5,4] anos). Todos os procedimentos de aspiração foram concluídos. O procedimento histeroscópico não pode ser concluído para 19 pacientes (7%), 18 dos quais foram convertidos para aspiração a vácuo. Uma histeroscopia falhou devido a uma falsa passagem durante a dilatação cervical. Durante os 2 anos de acompanhamento, 177 pacientes (62,8%) no grupo histeroscopia e 190 (67,6%) no grupo vácuo aspiração (controle) alcançou o resultado primário (diferença, -4,8% [IC 95%, -13% para 3,0%]; P = 0,23). As análises não mostraram diferença estatisticamente significativa entre os grupos para o desfecho primário (razão de risco, 0,87 [IC 95%, 0,71 a 1,07]).
A duração de cirurgia e hospitalização foram significativamente mais longos para histeroscopia. Taxas de novo abortos espontâneos, gravidez ectópica, complicações cirúrgicas de Clavien-Dindo de grau 3 ou superior (requer intervenção cirúrgica, endoscópica ou radiológica ou evento ou risco de vida morte), e as reintervenções para remover produtos remanescentes da concepção não diferiram entre grupos.
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Conclusões e mensagem prática
Apesar da histeroscopia ser um procedimento que permite visualização direta da cavidade uterina, quando utilizado para o tratamento cirúrgico de abortos incompletos, ela não demonstrou superioridade a vácuo aspiração quanto a complicações cirúgicas e taxa de fertilidade subsequente. Por outro lado, esteve associado a maior tempo de internação e não possibilitou o tratamento completo em todos os casos.
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