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Gastroenterologia6 dezembro 2024

WCPGHAN 2024: Abordagem sem biópsia para pacientes pediátricos com doença celíaca

Durante o WCPGHAN 2024, a palestrante Ugur Halac apresentou um estudo sobre realização de diagnóstico de DC sem realização de biópsia
Por Jôbert Neves

A doença celíaca (DC) é um distúrbio autoimune causado por uma resposta imunológica anormal ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, centeio e cevada. Afeta indivíduos geneticamente predispostos e pode levar a vários sintomas, incluindo problemas gastrointestinais e má absorção de nutrientes. 

Embora globalmente a DC afeta aproximadamente 1% da população, muitos permanecem sem diagnóstico devido a sintomas vagos e à natureza invasiva do processo de diagnóstico tradicional, que inclui endoscopia e biópsia. Diagnosticar crianças representa ainda mais desafios, especialmente em áreas com recursos médicos limitados. Durante o Congresso Mundial de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (WCPGHAN 2024) que acontece em Buenos Aires, na Argentina, a palestrante Ugur Halac apresentou um estudo sobre realização de diagnóstico de DC sem realização de biópsia. 

O foco da aula foi a apresentação de um estudo que foi conduzido em um centro pediátrico de destaque do Canadá, conhecido por tratar e pesquisar sobre a DC. Dados mostraram que antes de 2020, a biópsia era obrigatória para o diagnóstico, sendo parte essencial dos critérios de diagnóstico de DC. No entanto, com o advento de testes sorológicos mais precisos e as restrições impostas pela COVID-19, houve uma mudança para métodos menos invasivos, devido a impossibilidade de realização de endoscopia digestiva durante esse período. Os métodos escolhidos foram a medição dos níveis séricos de transglutaminase IgA tecidual (TGA) e a confirmação de resultados positivos com um teste de anticorpos anti-endomísio (EMA) quando os níveis de TGA estavam significativamente elevados. 

Principais descobertas, veja: 

  • A maioria das 318 crianças diagnosticadas eram do sexo feminino, com idade mediana de 9,6 anos. Isso apoia estudos existentes que sugerem uma maior prevalência em mulheres. 
  • Transição diagnóstica: Apesar da dependência histórica das biópsias, 42,5% dos diagnósticos foram feitos apenas usando testes sorológicos durante o período do estudo. Isso marca uma potencial mudança significativa para diagnósticos não invasivos. 
  • Confiabilidade dos testes: O estudo não encontrou falsos negativos ou positivos entre pacientes que realizaram tanto o teste sorológico quanto a biópsia tradicional, indicando alta confiabilidade da abordagem sorológica quando critérios rigorosos são aplicados. 
  • Desafios no diagnóstico e cuidado: A transição para testes sorológicos ajudou a mitigar os atrasos causados pelo acesso limitado a procedimentos endoscópicos durante a pandemia. No entanto, o estudo também destacou atrasos no acesso à orientação dietética após o diagnóstico. 

Implicações e futuras perspectivas 

Melhoria na precisão diagnóstica: A implementação bem-sucedida de testes sorológicos reduz a necessidade de biópsias invasivas, tornando o processo de diagnóstico mais rápido e confortável para pacientes jovens. 

Eficiência de recursos: Ao adotar uma abordagem sorológica, os centros pediátricos podem aliviar a pressão sobre os serviços endoscópicos, permitindo um uso mais eficiente dos recursos médicos. 

Adaptação de diretrizes: O estudo defende a adoção mais ampla dos critérios diagnósticos sorológicos, especialmente em regiões com acesso limitado a serviços gastroenterológicos. Isso é crucial para diagnósticos precisos e em tempo hábil, particularmente benéfico durante pandemias ou outras interrupções nos cuidados de saúde. 

Pesquisa e treinamento contínuos: Mais pesquisas são necessárias para avaliar continuamente a confiabilidade dos kits de diagnóstico e melhorar os protocolos laboratoriais para manter a precisão diagnóstica. Treinar profissionais de saúde nas diretrizes mais recentes e metodologias de teste também é essencial para resultados ótimos dos pacientes. 

Mensagem prática  

As diretrizes internacionais, em especial a da sociedade europeia e americana de gastroenterologia, hepatologia e nutrição pediátrica (ESPGHAN and NASPGHAN), têm protocolos claros e bem estabelecidos para o diagnóstico de DC. Apesar disso, segue desafiador em países onde o acesso à saúde ainda é um problema, realizando o diagnóstico de alguns pacientes, seja pela dificuldade de agendar métodos invasivos como a endoscopia ou de encontrar um especialista. Neste contexto, as discussões sobre a simplificação do diagnóstico, por meio de métodos sorológicos exclusivos, pode ser uma potencial solução. Apesar disso, vale a pena lembrar a possibilidade de falsos negativos e outros fatores que podem elevar os marcadores sorológicos, tendo um diagnóstico errôneo. De qualquer forma, o estudo apresentado destaca a importância de estratégias diagnósticas inovadoras na melhoria da prestação de cuidados de saúde para a DC, tema que necessita de mais discussões. 

Autoria

Foto de Jôbert Neves

Jôbert Neves

Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa  de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).

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