Helicobacter pylori, ou apenas H. pylori, é a principal causa de úlcera péptica, adenocarcinoma gástrico e linfoma MALT gástrico. Nos últimos anos, observa-se uma redução global nas taxas de erradicação do H. pylori para menos de 80% com as terapias triplas baseadas em inibidores de bomba de prótons (IBP), o que é atribuído, principalmente ao aumento na resistência à claritromicina.
A vonoprazana é um bloqueador ácido competitivo de potássio (PCAB), atualmente aprovado para o tratamento da infecção por H. pylori e outras doenças relacionadas ao ácido em vários países, incluindo o Japão. Recentemente, a vonoprazana foi disponibilizada no mercado brasileiro. Acredita-se que ela poderia melhorar as taxas de erradicação do H. pylori por meio de uma maior supressão do ácido gástrico e sua atividade antimicrobiana.
Recentemente, Chey e colaboradores realizaram um ensaio clínico randomizado para avaliar a eficácia da terapia dupla e tripla com vonoprazana em relação a terapia convencional com lansoprazol.
Método do estudo
Estudo de fase 3, randomizado, controlado, que incluiu adultos virgens de tratamento com infecção por H. pylori. Os pacientes elegíveis tinham pelo menos 18 anos e idade e ao menos uma das seguintes condições clínicas: dispepsia; diagnóstico novo/recente de úlcera péptica não hemorrágica; história de úlcera péptica não tratado previamente para infecção por H. pylori; ou necessidade de tratamento de longo prazo com drogas anti-inflamatórias não-esteroidais.
Todos os pacientes tinham infecção por H. pylori confirmada com teste respiratório de ureia marcada com carbono 13. Na triagem, todos os pacientes foram submetidos a endoscopia digestiva alta. Duas biópsias (curva maior do antro e curva menor do corpo) foram colhidas para cultura e testes de sensibilidade antimicrobiana.
Os pacientes foram, então, randomizados 1:1:1 em três grupos de tratamento:
1) 20 mg de vonoprazana duas vezes ao dia e 1 g de amoxicilina três vezes ao dia por 14 dias (grupo aberto);
2) 20 mg de vonoprazana duas vezes ao dia, 1g de amoxicilina duas vezes ao dia e 500mg de claritromicina duas vezes ao dia por 14 dias (grupo duplo cego);
3) 30mg de lansoprazol duas vezes ao dia, 1g de amoxicilina duas vezes ao dia e 500mg de claritromicina duas vezes ao dia por 14 dias (grupo duplo cego).
O status da infecção por H. pylori foi avaliado por teste respiratório com ureia marcada com carbono 13 após a semana 6 (4 semanas após a última dose dos medicamentos do estudo). O desfecho primário foi não inferioridade nas taxas de erradicação em pacientes sem cepas resistentes à claritromicina e amoxicilina. Os resultados secundários avaliaram a superioridade em taxas de erradicação em infecções resistentes à claritromicina, e em todos os pacientes.
Resultados
Foram randomizados 1.046 pacientes de um total de 3.385 indivíduos triados para elegibilidade em 103 centros dos Estados Unidos, Reino Unido, Bulgária, República Checa, Hungria e Polônia. Desses, 349 utilizaram terapia tripla com vonoprazana, 349, terapia dupla com vonoprazana, e 348, terapia tripla com lansoprazol. 4,5% dos pacientes (47 de 1046) não completaram o estudo.
Os regimes triplo e duplo com vonoprazana atingiram o desfecho de não inferioridade à terapia tripla com lansoprazol. A terapia tripla com vonoprazana erradicou o H. pylori em 84,7% (222 de 262) dos pacientes vs. 78,8% (201 de 255) para terapia tripla com lansoprazol (diferença 5,9%; IC 95%, 0,8 a 12,6; P de não inferioridade < 0,001). A terapia dupla com vonoprazana erradicou o H. pylori em 78,5% (208 de 265) dos pacientes (diferença para terapia tripla com lansoprazol –0,3%; IC 95%, 7,4 a 6,8; P de não inferioridade = 0,007).
A resistência a claritromicina foi observada em 22,2% das cepas de H. pylori. As taxas de erradicação em infecções resistentes à claritromicina foram as seguintes: terapia tripla com vonoprazana = 65,8%, terapia dupla com vonoprazana = 69,6%; vs terapia tripla com lansoprazol = 31,9% (ambos superiores; diferença 33,9%; IC 95%, 17,7–48,1; P = 0,001; diferença 37,7%; IC 95%, 20,5–52,6; P < 0,001, respectivamente). Considerando o conjunto de todos os pacientes, a terapia tripla e dupla com vonoprazana foi superior à terapia tripla com lansoprazol (80,8% e 77,2%, respectivamente, vs. 68,5%; diferença 12,3%, IC 95%, 5,7–18,8, P = 0,001; diferença 8,7%, IC 95%, 1,9–15,4, P = 0,013). A frequência geral de eventos adversos relacionados ao tratamento foi semelhante entre regimes de vonoprazana e lansoprazol (P > 0,05).
Mensagens práticas
Observa-se um aumento global da resistência do H. pylori aos esquemas convencionais de tratamento, o que pode ser ainda mais exacerbado após a pandemia de COVID-19. As diretrizes de manejo de H. pylori sugerem que regimes triplos baseados em IBP e claritromicina devem ser usados apenas em pacientes sem uso prévio de macrolídeos que vivem em regiões onde a prevalência de resistência à claritromicina é menor que 15%.
A taxa de resistência do H. pylori à claritromicina no Brasil está situada entre 15%-20%, segundo os últimos estudos. Os achados desse novo estudo apoiam o uso dos regimes duplo ou triplo à base de vonoprazana no tratamento da infecção por H. pylori, especialmente em cenários de alta resistência a claritromicina. A vonoprazana está comercialmente disponível no Brasil.
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