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Gastroenterologia15 setembro 2023

Qual o risco evolutivo para adenocarcinoma esofágico na DRGE não erosiva?

Embora o papel da DRGE erosiva (DRGEe) na gênese do AcE esteja bem definido, o mesmo não pode ser dito em relação à DRGE não-erosiva.

Por Leandro Lima

A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), caracterizada principalmente por pirose e regurgitação ácida, acomete até 20% da população adulta de países desenvolvidos e é o principal fator de risco para o adenocarcinoma esofágico (AcE), uma malignidade de incidência crescente e com prognóstico reservado.  

Embora o papel da DRGE erosiva (DRGEe) na gênese do AcE esteja bem definido, o mesmo não pode ser dito em relação à DRGE não-erosiva (DRGEne), com estudos precedentes demonstrando que a incidência do AcE entre os portadores de DRGEne não difere da esperada para a população geral.   

Em agosto de 2023 foi publicado, no British  Medical Journal (BMJ), um estudo de coorte, com base populacional, tratando dessa problemática em três países nórdicos: Dinamarca, Finlândia e Suécia. 

Saiba mais: Quando pensar em DRGE? [podcast]

Qual o risco evolutivo para adenocarcinoma esofágico na DRGE não erosiva?

Qual o risco evolutivo para adenocarcinoma esofágico na DRGE não erosiva?

Métodos 

Foram incluídos 486.556 pacientes, com idade entre 18 e 90 anos (média de 58,5 anos) e diagnóstico clínico de DRGE, submetidos a pelo menos uma endoscopia digestiva alta (EDA) entre janeiro de 1987 e dezembro de 2019. Com objetivo de se evitar o subdiagnóstico da DRGEe, foi orientada a suspensão de terapia antiácida nas semanas antecedentes ao exame endoscópico. 

Os indivíduos foram então alocados em dois grupos: DRGEe (200.745 pacientes) e DRGEne (285.811 pacientes). A última condição só foi definida diante da ausência de alterações mucosas esofágicas à EDA inicial e qualquer outra condição esofágica diagnosticada nos primeiros 12 meses de alocação no estudo, período após o qual foi deflagrado o tempo zero de seguimento, com o objetivo de se evitar o viés do período imortal.    

Foram excluídos pacientes que realizaram EDAs anteriores à alocação no estudo, bem como os diagnosticados previamente com esôfago de Barrett, câncer esofágico ou gástrico.  

Resultados 

A demografia dos grupos DRGEe e DRGEne foi semelhante, por exceção da maior representação de mulheres no grupo DRGEne (58,7% Vs 44,6%), um dado compatível com os expressos na literatura.  

O período de seguimento se estendeu por até 31 anos, com média de 6,3 e 7,8 anos para os grupos DRGEne e DRGEe, tendo sido identificados entre os principais resultados: 

Incidência de adenocarcinoma esofágico 
Grupos DRGEne DRGEe
Casos  228 542 
Incidência (*) 11 31 
Taxa de incidência padronizada (**) 1,04 (IC 95%: 0,91 – 1,18) 2,36 (IC 95%: 2,17 – 2,57) 
Incidência ao longo dos anos Não progressiva Progressiva 

DRGEne: Doença do refluxo gastroesofágico não-erosiva; DRGEe: Doença do refluxo gastroesofágico erosiva; (*): Incidência por 100.000 pessoas-ano; (**) Taxa de incidência padronizada relativa à população geral.  

O tempo médio de seguimento para o diagnóstico do AcE foi de 6,2 e 7 anos para os grupos DRGEne e DRGEe, respectivamente, sendo que o acompanhamento foi interrompido por ocasião do estabelecimento do diagnóstico de câncer esofágico, constatação de morte ou término do período de estudo, o que ocorresse primeiro. 

Leia também: Uso excessivo de medicamentos antirrefluxo em bebês

Conclusão e mensagens práticas 

  • Nos países nórdicos, os portadores de doença do refluxo gastroesofágico não-erosiva (DRGEne) não diferem da população geral em termos de incidência de adenocarcinoma esofágico (AcE) no tempo de seguimento avaliado.  
  • Dessa forma, pode-se considerar a não realização de vigilância endoscópica para o rastreio do AcE entre os portadores de DRGEne, reservando-se a repetição da endoscopia digestiva alta (EDA) para os casos que desenvolvam sinais de alarme, como a disfagia. 
  • A restrição geográfica do estudo impede a generalização automática dos seus resultados para a população brasileira. 
  • Entre as limitações do estudo, ponderamos a ausência de dados relativos à obesidade e ao tabagismo, fatores de risco contribuintes para o AcE, bem como o fato de que o seu tempo médio de seguimento se aproximou muito do tempo médio necessário para o diagnóstico de AcE, gerando dúvidas sobre a possibilidade de incremento da taxa de incidência do AcE com a exposição mais prolongada à DRGEne.   

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Referências bibliográficas

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