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Gastroenterologia13 dezembro 2025

Diretrizes novas sobre doença de Crohn

Confira as novas diretrizes da British Society of Gastroenterology para as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) em adultos.
Por Leandro Lima

As diretrizes da British Society of Gastroenterology para as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) em adultos, publicadas no prestigiado periódico Gut em 2025, compilaram o estado da arte atual sobre o tema e as principais mudanças em relação à versão de 2019 nós destacamos para você!

Leia mais: Doença de Crohn: abordagem diagnóstica e conduta frente a achados

Retocolite ulcerativa (RCU)

  • Além da terapia anti-TNF, vedolizumabe, ustekinumabe e tofacitinibe, que já constavam na versão anterior, uma série de drogas novas foram incorporadas: filgotinibe, upadacitinibe (iJAK1), ozanimode e etrasimode (moduladores de S1P) e os anti-IL-23/IL-23p19 mirikizumabe e risanquizumabe.
  • Para RCU grave aguda, passou-se a considerar iJAK de ação rápida (tofacitinibe, upadacitinibe) como opção terapêutica de resgate em cenários selecionados após falha de corticoide, embora mantenha o destaque para a ciclosporina e infliximabe para os pacientes que não respondem até o 3° dia de corticoterapia e colectomia subtotal com ileostomia para a falha terapêutica no 7° dia.
  • Houve a proposição de um algoritmo prático de calprotectina fecal:
    • < 100 µg/g → alta probabilidade de remissão endoscópica;
    • 100–200 µg/g → zona cinza (repetir exame/observar tendência);
    • > 200 µg/g (limite superior de 250 μg/g para a doença de Crohn) → avaliar colonoscopia pela baixa probabilidade de remissão endoscópica.
  • Na monitorização da remissão, além dos índices clínicos, laboratoriais (hemoglobina, PCR e calprotectina fecal), exames seccionais de imagem, endoscópicos e histológicos, ganhou força o papel da ultrassonografia intestinal, que inclui a avaliação da espessura intestinal, Doppler, padrão das haustrações e borramento de gordura, com forte correlação com os escores endoscópicos.

Doença de Crohn (DC)

  • O risanquizumabe (anti-IL-23 p19) e upadacitinibe foram introduzidos como opções recomendadas para indução e manutenção de remissão em doença moderada a grave.
  • O vedolizumabe foi rebaixado: o guideline de 2025 não sugere vedolizumabe para DC moderada a grave, por efeito modesto e início de ação mais lento, o que corresponde exatamente à percepção prática dos gastroenterologistas desde que a droga chegou no mercado.
  • Em 2019, a profilaxia pós-ressecção ileocecal focava em tiopurinas e/ou anti-TNF, com 5-aminossalicilatos sendo considerados ineficazes. Em 2025, recomenda-se anti-TNF ou vedolizumabe na prevenção de recorrência pós-operatória em pacientes de alto risco, e tiopurinas/5-ASA deixam de ser protagonistas na profilaxia.
  • Após dois anos de comboterapia (anti-TNF + tiopurina), a retirada da azatioprina ou 6-mercaptopurina pode ser considerada em casos selecionados de remissão clínica há mais de 6 meses, com o propósito de reduzir o risco de malignidades (linfoma e câncer de pele não melanoma) e infecções oportunistas, mas com o contraponto de risco aumentado de recidiva e perda secundária da resposta ao tratamento.

Antibióticos, probióticos e transplante de microbiota fecal (TMF)

O guideline de 2019 deixava alguma abertura para uso de probióticos em RCU leve/moderada e considerava TMF em contexto experimental. Já em 2025, a mensagem ficou mais clara: na manutenção de remissão da RCU e DC, os probióticos não são recomendados, os antibióticos de longo prazo não são sugeridos e o TMF é desencorajado fora de estudos clínicos.

Tiopurinas e anti-TNF: monitorização dos níveis séricos

Em 2019, o texto reconhecia o valor da dosagem de metabólitos (6-tioguanina e 6-metil-mercaptopurina), mas ressaltava que não estava claro se a monitorização rotineira era benéfica para todos. Já em 2025, houve a sugestão de usar a dosagem dos metabólitos para otimizar a eficácia terapêutica e reduzir a toxicidade. As ferramentas, infelizmente, são de acesso extremamente limitado na prática cotidiana brasileira.

Para os anti-TNF (infliximabe, adalimumabe e certolizumabe), a dosagem de níveis séricos deve ser reservada para suspeita de perda secundária de resposta:

  • Níveis terapêuticos → sugere falha farmacodinâmica → trocar a classe.
  • Níveis baixos → sugere falha farmacocinética (anticorpos antidroga) → ajustar dose ou associar imunossupressor.

Segurança de iJAK e S1P

  • Em relação aos iJAK, deve-se ter cautela em idosos (> 65 anos), tabagistas e indivíduos com risco cardiovascular aumentado. Recomenda-se avaliação do lipidograma e consideração de estatinas concomitantes.
  • Para os moduladores do S1P, foi detalhado o risco de bradiarritmias, bloqueios atrioventriculares, insuficiência cardíaca e maculopatia, recomendando-se, antes do tratamento, a realização de ECG e avaliação oftalmológica.

Vacinas: COVID-19 e zoster recombinante

  • O esquema de vacinação para SARS-CoV-2 para imunossuprimidos segue a orientação geral de reforços semestrais (primavera/outono).
  • Houve atualização da recomendação para herpes-zoster com a vacina recombinante (Shingrix®): considerar para todos indivíduos ≥50 anos em imunossupressão e discutir vacinar todos com mais de 18 anos candidatos aos iJAK ou S1P.
  • A contraindicação de vacinas vivas (tríplice viral, febre amarela, varicela-zóster, rotavírus e poliomielite oral) durante a terapia avançada foi reforçada, bem como a necessidade de janela de 4 semanas antes de iniciar a terapia avançada e ≥3 meses após suspender.
Imunizações estratégicas na DII
●      Influenza anual;

●      Antipneumocócica com reforço em 5 anos (ou PCV20 em esquema único);

●      SARS-CoV-2 bimestral;

●      HPV para mulheres (com atualização do exame preventivo ginecológico);

●      Vacina recombinante contra herpes-zóster (Shingrix®) em pacientes acima de 50 anos ou acima de 18 anos em uso de inibidores de JAK.

No Brasil, deve-se consultar o calendário dos pacientes especiais da Sociedade Brasileira de Imunizações.

https://sbim.org.br/images/calend-vacinacao-pacientes-especiais-2025-250312-web.pdf_2025-03-12.pdf

Gestação e lactação:

  • Foi reiterado que o principal fator de risco para desfechos materno-fetais desfavoráveis é a atividade da própria DII. Portanto, a concepção deve se dar somente após remissão clínica por pelo menos 3 meses.
  • O novo guideline traz uma tabela de segurança na gestação/puerpério e reforça que os iJAK (tofacitinibe, upadacitinibe, filgotinibe), moduladores do S1P (ozanimode, etrasimode) e metotrexato são contraindicados na gestação ou amamentação pelo risco de teratogenicidade e devem ser suspensos pelo menos 3 meses antes da concepção.
  • Por outro lado, para o vedolizumabe e ustekinumabe, coortes e registros de vida real sugerem baixo risco na gestação e amamentação.
  • Mulheres com doença ativa no 3° trimestre de gravidez devem receber profilaxia para tromboembolismo venoso.
  • Quando os biológicos são mantidos durante a gestação (o que é natural para a maioria deles, pois o pior cenário é a doença entrar em atividade nesse período), as vacinas vivas do recém-nascido (incluindo a BCG) devem ser postergadas para após 12° mês de vida.

Conclusão e Mensagens práticas

Os avanços terapêuticos no âmbito das doenças inflamatórias intestinais têm gerado grande entusiasmo, mas também a necessidade de atualização constante sobre o tema, tanto de um ponto de vista individual, como do ponto de vista de gestão da saúde pública e suplementar, por meio da incorporação racional de novas ferramentas e tecnologias. Nesse sentido, a diretriz britânica de 2025 compilou as evidências atuais para o manejo da retocolite ulcerativa e doença de Crohn.

Autoria

Foto de Leandro Lima

Leandro Lima

Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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Referências bibliográficas

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