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Gastroenterologia12 março 2020

Caso clínico: gastrenterite eosinofílica com ascite em um menino de 15 anos

Embora a gastroenterite eosinofílica (GE) tenha sido descrito pela primeira vez na década de 1930, sua epidemiologia ainda é motivo de discussão.

Por Eduardo Nogueira

Um menino de 15 anos foi levado ao departamento de emergência da Santa Casa de Misericórdia de Santos (SP, Brasil) devido a uma semana de história de dor abdominal forte e progressiva, juntamente com diarreia, náusea e vômito. O exame cardiopulmonar era normal e ele referia dor durante a palpação da fossa ilíaca direita e hipogástrio. O paciente também apresentava história de atopia: rinossinusite alérgica, alergia a camarões e picadas de mosquito.

A tomografia computadorizada mostrou que a última porção do intestino delgado e do ceco estava dilatada, o que levantou a hipótese de apendicite aguda. Durante a apendicectomia, observou-se um líquido amarelo-citrino na cavidade abdominal, juntamente com um intestino estreitado e espessado, a apenas 40 cm da válvula ileocecal. A lesão apresentava coloração vinho e aspecto macroscópico da doença inflamatória intestinal. Alguns fragmentos foram removidos para biópsia.

Enterite aguda e ulcerada com intensa eosinofilia foi demonstrada na histopatologia do intestino delgado, enquanto o linfonodo e o apêndice apresentavam hiperplasia linfoide com eosinofilia sinusal moderada no linfonodo.
A esofagogastroduodenoendoscopia não revelou achados significativos.

O menino recebeu um tratamento oral com 15 mg de prednisolona, ​​que após 7 dias foi reduzido para 10 mg e, finalmente, para 5 mg na terceira semana de tratamento. Ele também recebeu 20 mg de inibidor da bomba de prótons por 3 meses.

Discussão do caso

Embora a gastroenterite eosinofílica (GE) tenha sido descrito pela primeira vez na década de 1930, sua epidemiologia ainda é motivo de discussão. Sabe-se que a GE é uma doença inflamatória rara (22-28/100.000 nos EUA) que afeta ambos os sexos e todas as idades com uma preponderância de homens de meia idade e que está profundamente ligada a uma história de atopia em pelo menos 80% dos casos.

Considerando que esta é uma condição que pode danificar qualquer parte do trato gastrointestinal, as manifestações clínicas podem ser muito abrangentes de acordo com a área afetada, extensão da lesão e profundidade da infiltração. Porém, de maneira geral, dor abdominal, náusea/vômito e diarreia são os sintomas mais comuns e geralmente estão relacionados à forma mucosa da condição que, desde Klein et al (1970), pode ser dividida em mucosa, muscular e subserosa. Curiosamente, embora a maioria das queixas de nosso paciente estivesse relacionada à forma mucosa, ele apresentava ascites, presentes apenas na forma subserosa.

A etiologia da GE é desconhecida, mas já foi dito que antígenos alimentares podem ser a causa da infiltração eosinofílica mediada por linfócitos T Helper tipo 2. De fato, a hipersensibilidade à proteína do leite é uma causa importante de GE em crianças, embora não seja comum.

A terapia com corticosteroides é descrita na literatura médica como a primeira linha de tratamento com boa resposta dos pacientes. Estudos recentes estão sendo feitos sobre o uso de anticorpos monoclonais contra IgE.

Veja mais casos:

Autores:

Em conjunto com: Marcio Roberto Facanali Junior¹, Aline Marques Ribeiro², Beatriz Carnier², Claudio Messias³, Débora Medeiros² e Luiza Thienne Colombo².

  1. Médico da equipe de Gastroenterologia e endoscopia digestiva e respiratória da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos e preceptor da Liga de Clínicas Médicas e Emergências Clínicas da UNIMES.
  2. Médicos graduados pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES) e membro da Liga de Clínicas Médicas e Emergências Clínicas da UNIMES.
  3. Médico da equipe de cirurgiões da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos.

Referências bibliográficas:

  • Lourenço LC, Horta DV, Reis J.Eosinophilic Ascites: Uncommon Presentation of Eosinophilic Gastroenteritis in a Young Adult Male. GE Port J Gastroenterol 2017; 24: 206-208.
  • Shimamoto Y, Harima Y. A Case of Eosinophilic Gastroenteritis Forming a Rigid Chamber Mimicking Giant Duodenal Ulcer on Computed Tomography Imaging. Am J Case Report, 2016; 17: 259-263.
  • Safari MT, Shahrokh S, Miri MB, Ardakani MJE. Eosinophilic Gastroenteritis as a Rare Cause of Recurrent Epigastric Pain. Emergency (2016); 4 (2): 108-110.
  • Hui CK, Hui, NK. A Prospective Study on the Prevalence, Extent of Disease and Outcome of Eosinophilic Gastroenteritis in Patients Presenting with Lower Abdominal Symtoms. Gut and Liver, Published online December 8, 2017.
  • Soriano-Ramos M, et al. Hematemesis como debut de gastroenteritis eosinofílica em lactantes. Na Pediatr ( Barc). 2017.
  • Choi JS, Choi SJ, Lee KJ, Kim A, Yoo JK, Yang HR. Clinical Manifestations and Treatment Outcomes of Eosinophilic Gastroenteritis in Children. Pediatr Gastroenterol Hepatol Nutr 2015; 18(4): 253-260.
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