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Gastroenterologia17 outubro 2023

Abscessos Hepáticos Piogênicos: Fatores prognósticos

Os abscessos hepáticos piogênicos (AHP), embora raros, implicam em grande morbimortalidade, com letalidade que varia entre 3 e 30%.

Por Leandro Lima

A apresentação clínica mais frequente dos abscessos hepáticos piogênicos (AHP) é dor abdominal acompanhada por febre, sendo o diagnóstico corroborado por imagens e dados microbiológicos provenientes de hemoculturas ou culturas do próprio abscesso. Entre os principais agentes implicados, destacamos os estreptococos (Streptococcus anginosus), Escherichia coli e Klebsiella. Os enterococos tornam-se mais importantes em AHP recorrentes.

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Na literatura médica são fatores atrelados à mortalidade a idade avançada, desenvolvimento de sepse e injúria renal aguda, bem como leucocitose, hipoalbuminemia e a presença de diabetes mellitus.

A taxa de recorrência se aproxima de 10% e são mais frequentes na presença de etiologia biliar, infecções por microrganismos multirresistentes e histórico de colangite. As complicações locais mais frequentes são a trombose de veia porta e fístulas hepatogástricas e entero-hepáticas.

Abscessos Hepáticos Piogênicos Fatores prognósticos

Estudo recente

O estudo alvo da presente sinopse, publicado por Bläckberg e colaboradores em julho de 2023 no Open Forum Infectious Diseases (OFID), objetivou investigar variáveis associadas à mortalidade e recorrência de AHP em uma coorte de adultos da Escânia, um condado ao sul da Suécia que conta com uma população de 1,34 milhão de habitantes.

Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo e baseado em população, que contemplou todos os episódios de AHP entre 2011 e 2020. Foram excluídos abscessos parasitários e com localização extra-hepática.

O desfecho primário foi de mortalidade em 90 dias por todas as causas, enquanto o desfecho secundário foi recorrência de AHP.

Na década analisada, foram identificados 452 episódios de AHP entre 360 pacientes. A média de idade foi de 71 anos, com predomínio do sexo masculino (56%), sendo as principais comorbidades diabetes mellitus (29%), malignidades sólidas (31%) e imunossupressão (24%). A mediana do índice de comorbidades de Charlson foi 5.

A duração média entre o início dos sintomas e a internação foi de 3 dias, sendo a febre o sintoma mais comum (43%), seguida por dor abdominal (30%) e fadiga (8%). A mediana de proteína C-reativa à admissão foi de 179 mg/L e os leucócitos globais de 13.700/mm³.

Oitenta e dois por cento dos casos foram detectados por tomografia computadorizada, enquanto 14% por ultrassonografia. Em aproximadamente um terço dos casos os abscessos eram múltiplos, com diâmetro mediano de 6 cm e envolvimento predominante do lobo direito (66%). A trombose da veia porta foi identificada em 10% e as fístulas em 6% dos casos.

A mediana de internação foi de 14 dias. A drenagem percutânea foi realizada em 48%, a punção por agulha fina em 14% e a drenagem cirúrgica em 2% dos casos. A antibioticoterapia foi prescrita em praticamente todos os casos (98%), com duração mediana de 35 dias.

A mortalidade geral em 90 dias foi de 16% (58 indivíduos) e a taxa de recorrência de 20% (92 indivíduos).

Em análise de regressão logística multivariável foram identificados os seguintes fatores independentes para a mortalidade geral em 90 dias (P < 0,05):

  • Insuficiência hepática (OR 6,3 – IC 95%: 2,7 – 14,5);
  • Infecções polimicrobianas (OR 3,8 – IC 95%: 2,2 – 6,9);
  • Malignidade (OR 3,7 – IC 95%: 1,9 – 7,1);
  • Sexo feminino (OR 2,0 – IC 95%: 1,1 – 3,9).

Já em relação ao risco de recorrência de abscessos hepáticos piogênicos (AHP), foram observados os seguintes fatores (P ≤ 0,01):

  • Doença hepática crônica (OR 3,0 – IC 95%: 1,4 – 6,5);
  • Idade entre 64 e 74 anos (OR 2,5 – IC 95%: 1,3 – 4,8);
  • Malignidade (OR 2,1 – IC 95%: 1,3 – 3,6);
  • Sexo masculino (OR 2,1 – IC 95%: 1,2 – 3,6).

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Conclusão e Mensagens práticas

  • A identificação de fatores de prognóstico desfavorável em pacientes com abscesso hepático piogênico (AHP) é fundamental para a otimização do tratamento, mitigando a mortalidade e taxa de recorrência.
  • Os pontos fortes do estudo foram a grande população da coorte e o seguimento por uma década, enquanto os pontos negativos foram a natureza retrospectiva e omissão de dados prognósticos importantes, como albumina e bilirrubina sérica.

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Referências bibliográficas

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