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Endocrinologia24 maio 2025

Suplementação de vitamina D na prevenção de DM em indivíduos idosos

Estudo avaliou se a suplementação prolongada de vitamina D3 seria capaz de reduzir a incidência de DM2 em adultos mais velhos e saudáveis

O diabetes tipo 2 (DM2) é uma condição crônica que não para de aumentar em incidência e prevalência em todo o mundo. Atualmente, estima-se que mais de 530 milhões de adultos vivem com a doença, com projeções alarmantes para as próximas décadas, o que deve chamar a atenção da medicina como um todo para estratégias de prevenção, sobretudo aquelas que possam ser aplicadas amplamente e com segurança.  

A vitamina D, reconhecida por seu papel clássico na homeostase do cálcio, vem sendo investigada há anos por seus potenciais efeitos extrarrenais — entre eles, a regulação da secreção de insulina, a sensibilidade periférica e o estado inflamatório sistêmico, todos fundamentais na fisiopatologia do DM2. Estudos observacionais sugerem que níveis baixos de 25-hidroxivitamina D [25(OH)D] se associam de forma consistente a um maior risco de desenvolvimento de DM2. Há plausibilidade para o papel protetor da vitamina D. 

Contudo, a evidência vinda de ensaios clínicos randomizados permanece inconclusiva: enquanto alguns estudos mostraram efeito positivo em populações com risco metabólico elevado, outros, realizados em indivíduos saudáveis ou com níveis adequados de vitamina D, não confirmaram esse benefício. Nesse cenário, foi elaborado um estudo, o FIND (Finnish Vitamin D Trial), para trazer mais dados sobre o assunto, avaliando se a suplementação prolongada de vitamina D3 seria capaz de reduzir a incidência de DM2 em adultos mais velhos e saudáveis, sem fatores de risco estabelecidos para o desenvolvimento da doença. Trazemos o estudo para cobertura no portal. 

Métodos 

O FIND foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, conduzido na Finlândia, que randomizou e acompanhou 2.271 participantes durante um período de até cinco anos. Foram incluídos homens com 60 anos ou mais e mulheres a partir de 65 anos, todos sem diagnóstico prévio de diabetes, doenças cardiovasculares, câncer ou insuficiência renal, e sem uso de medicamentos hipoglicemiantes no momento do início do seguimento, buscando refletir uma população geral e saudável. Os participantes foram randomizados para receber uma das três intervenções: Placebo, 1600 UI diárias de vitamina D3 ou 3200 UI diárias de vitamina D3. 

O desfecho primário foi avaliar a incidência de DM2, definida com base nos códigos diagnósticos registrados em bancos de dados nacionais de saúde finlandeses. Paralelamente, uma subcoorte de 505 indivíduos foi acompanhada com maior detalhamento clínico e laboratorial, incluindo avaliações periódicas de glicemia, insulina, perfil antropométrico e níveis de 25(OH)D. 

 A média de idade dos participantes foi de 68,2 anos, com 55% homens e 45% mulheres. A maior parte dos participantes era branca, característica esperada por se tratar de uma coorte finlandesa. O IMC médio era de 26,8 kg/m² (sobrepeso leve), sendo que apenas cerca de 11% tinham IMC ≥ 30 kg/m² e menos de 5% tinham histórico de glicemia de jejum ≥ 6,1 mmol/L (110 mg/dL). A média basal de 25(OH)D era de 74,5 nmol/L (equivalente a cerca de 30 ng/mL) e apenas 9,3% dos participantes tinham níveis de vitamina D < 50 nmol/L (~20 ng/mL), ou seja, a grande maioria da população estava com status adequado de vitamina D na randomização.  

Leia mais: Guideline recomenda Vitamina D para a prevenção de diabetes: entenda!

Resultados 

Durante um seguimento médio de 4,2 anos, foram documentados 105 novos casos de DM2, sendo 38 casos no grupo placebo (5,0%), 31 casos no grupo 1600 UI (4,2%) – HR: 0,81 (IC95%: 0,50–1,30) e 36 casos no grupo 3200 UI (4,7%) – HR: 0,92 (IC95%: 0,58–1,45). 

Quando os dois grupos tratados com vitamina D foram combinados, também não se observou redução estatisticamente significativa da incidência de DM2 (HR: 0,86; IC95%: 0,58–1,29; p para tendência = 0,73). 

A análise estratificada por IMC mostrou que entre os indivíduos com IMC <25 kg/m² (e, portanto, mais magros), observou-se uma tendência a menor risco de DM2 com a suplementação de vitamina D (HR: 0,43), porém com amplo intervalo de confiança, servindo apenas como uma hipótese advinda de análise exploratória. Já entre os participantes com sobrepeso ou obesidade, o efeito foi neutro (HR ~1,0). Por outro lado, nas análises globais, não houve qualquer diferença significativa nas curvas de glicemia de jejum, insulina plasmática, HOMA-IR, IMC ou circunferência abdominal ao longo dos 24 meses de seguimento da subcoorte. 

Os achados do FIND sugerem que em uma população idosa saudável, com níveis adequados de vitamina D e sem fatores de risco metabólicos relevantes, a suplementação com doses moderadas ou elevadas de vitamina D3, por mais de quatro anos, não reduziu a incidência de diabetes tipo 2.  

Perspectivas 

O estudo reforça que a suplementação de vitamina D3 não deve ser recomendada de forma rotineira com o objetivo de prevenir o diabetes tipo 2 em adultos saudáveis e idosos, especialmente aqueles com níveis séricos adequados. O uso sistemático e empírico, sem avaliação prévia de 25(OH)D, não oferece benefício glicêmico comprovado, mesmo em doses elevadas e com longa duração de tratamento. 

A prática clínica deve, portanto, concentrar-se em identificar e tratar indivíduos com real deficiência de vitamina D, ou com fatores de risco reconhecidos para DM2, nos quais intervenções personalizadas podem ser mais eficazes. Para a população brasileira, em que a exposição solar e a prevalência de hipovitaminose variam amplamente conforme região, estação e hábitos culturais, talvez os benefícios da suplementação sejam ainda menores. 

Conclusão e mensagem prática 

O FIND não descarta um possível papel protetor da vitamina D em subgrupos bem definidos, mas desestimula a suplementação universal da vitamina D como estratégia populacional para prevenção do diabetes. 

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Referências bibliográficas

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