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A neuroartropatia de Charcot, ou mais popularmente conhecida como Pé de Charcot, é uma deformidade nos ossos e articulações dos pés neuropáticos, cuja estrutura e arquitetura dos ossos apresentam alterações, podendo ser radiográficas, que são caracterizadas pela destruição e também por constante remodelamento ósseo, danos nas articulações, luxação e subluxação.
Trata-se de uma complicação importante e complexa da Diabetes e da Hanseníase, e está presente em cerca de 10% dos diabéticos que apresentam quadro de neuropatia e que também apresentem alterações radiográficas relacionadas. Contudo, estudos já apresentaram esta doença associada a casos de neurosífilis, siringomielia, lepra entre outras patologias neurológicas.
Aproximadamente 5 milhões de brasileiros são portadores de Diabetes Mellitus, uma prevalência de 7,6% da população. E estudos norte-americanos sugerem que 25% dos pacientes diabéticos desenvolvem a neuropatia com comprometimento importante de pés e tornozelos, com alto risco para desenvolvimento de úlceras e neurartropatia de Charcot, porém, infelizmente aqui no Brasil ainda não temos estatísticas relevantes para este mesmo tema, o que nos deixa ainda no escuro.
O Pé de Charcot surge com aproximadamente 10 anos do estabelecimento da Diabetes e comumente na faixa dos 50 a 60 anos. Considerada pela medicina como uma grave complicação, reduzindo significativamente a qualidade de vida dos portadores da doença ao mesmo tempo em que aumenta sua morbimortalidade.
Tratamento do Pé de Charcot
O foco do tratamento da neurartropatia de Charcot é conseguir o alinhamento de pés plantígrados e ao mesmo tempo estáveis prevenindo assim a formação de áreas de aumento de pressão que são altamente predispostas à ulceração.
Normalmente os portadores desta doença respondem bem ao tratamento com uso de gessos de contato total ou órtese moldada. Porém, existem os casos onde este tipo de tratamento não é competente na prevenção da formação de úlceras recorrentes, assim como a órtese moldada também pode não se adaptar a certas deformidades muito atípicas, sendo indicado, portanto, a abordagem cirúrgica.
Leia mais: Lesões ortopédicas pelo diabetes: pé de Charcot, quando devemos suspeitar?
A abordagem cirúrgica da artropatia do pé de Charcot historicamente se resume ao desbridamento de feridas infectadas, correção de deformidades em que a braçadeira acomodativa não alcançou bons resultados, e amputação quando o pé foi considerado sem recuperação.
A neurartropatia desenvolve alterações ósseas progressivas, e foram divididas por Eichenholtz em três fases, evoluindo em nível de severidade nas fases I, II e III. Sendo portando considerada uma doença silenciosa e de baixa ou nenhuma sensibilidade, ou seja, exige absoluto monitoramento.
Problema de saúde pública
Atualmente já podemos contar com o Programa Nacional de Educação e Controle de Diabetes criado pelo Ministério da Saúde do Brasil, que tem por objetivo mapear e tratar os pacientes. Hoje este projeto já apresenta uma queda expressiva no número de descompensações agudas atendidas nas emergências hospitalares, contudo as complicações diabéticas crônicas, incluindo úlceras nos pés e amputações, ainda representam um sério problema para a saúde da população.
O apoio destas entidades contribuiu com a difusão do projeto em praticamente todo o território nacional, e como profissionais de saúde, permanecemos com o desafio de cada vez mais, salvar o maior número possível de pés diabéticos.
Conclusão
O pé de Charcot tem com consequências prejuízos individuais e sociais importantes, uma vez que possuem relação direta com epidemia da Diabetes, carecendo de total atenção e critério para que se possa diagnosticar e tratar precocemente esta complicação decorrente deste grave problema de saúde pública.
A capacitação na assistência profissional para a prevenção e intervenção em tempo hábil, assim como a abordagem multidisciplinar à ulceração do pé diabético já preconizado pelo Ministério da Saúde são de extrema importância, do mesmo modo que a educação do portador para o autocuidado são fundamentais para que permaneçamos nessa crescente de resultados positivos na redução da incidência.
Referências:
- PINHEIRO, Ana. Pé de Charcot: Uma visão actual da neuroartropatia de Charcot. Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, v. 22, n. 1, p. 24-33, 2014.
- STÉFANI, K.; MERCADANTE, M. Treatment principles of foot and ankle Charcot neuroarthropathy. Rev Bras Ortop, v. 38, n. 9, p. 497-506, 2003.
- GROSSI, Sonia Aurora Alves; DE PASCALI, Paula Maria. Cuidados de enfermagem em diabetes mellitus. Grupo Gen-AC Farmacêutica, 2000.
- Dias RJS, Carneiro AP. Neuropatia diabética: fisiopatologia, clínica e eletroneuromiografia. Acta Fisiátrica. 2000; 7(1); 35-44.
- Governo Do Distrito Federal. Protocolo de Manejo do Pé Diabético na Atenção Primária e Especializada de Saúde.
- Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36)
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