A tomografia por emissão de pósitrons (PET) com 18F-fluorodesoxiglicose (18F-FDG) com tomografia computadorizada (TC) é uma importante ferramenta diagnóstica na avaliação de malignidades e doenças inflamatórias. O 18F-FDG é um análogo da glicose que se acumula em tecidos metabolicamente ativos, como tumores malignos. Portanto, incidentalomas descobertos na PET/CT com 18F-FDG apresentam um risco relativamente alto de malignidade em comparação com incidentalomas detectados por outras modalidades de imagem (por exemplo, ultrassonografia).
Incidentalomas da tireoide podem ser classificados como focais ou difusos. A captação difusa de 18F-FDG na tireoide é frequentemente causada por doença inflamatória, como tireoidite (autoimune) ou doença de Graves. Em contraste, a captação focal de 18F-FDG é mais provavelmente causada por doença tireoidiana benigna ou malignidade, ou seja, adenoma, carcinoma da tireoide, metástase de outra origem ou linfoma.
Um recente estudo conduzido por um grupo de pesquisadores brasileiros do Hospital das Clínicas da FMUSP avaliou as implicações endócrinas de incidentalomas tireoidianos detectados durante o estadiamento de linfomas com PET/CT utilizando 18F-FDG.
Métodos
A análise retrospectiva incluiu 795 pacientes adultos com linfoma, sendo observadas alterações tireoidianas em 17,5% dos casos. O achado de captação focal de FDG foi identificado em 4,2% dos pacientes, com uma taxa de malignidade de 18,2% (e de 28,6% entre os que realizaram punção aspirativa). Já a captação difusa, observada em 2,5%, mostrou forte associação com autoimunidade tireoidiana (58,3% com autoanticorpos positivos, p < 0,01). Mulheres e indivíduos mais velhos apresentaram maior risco de captação tireoidiana incidental.
Resultados
O estudo demonstrou que, apesar de amplamente utilizado na oncologia, o PET-FDG possui limitações na estratificação de risco de nódulos tireoidianos. Parâmetros como SUVmax, densidade (HU) e volume não se correlacionaram significativamente com malignidade. Curiosamente, todos os carcinomas papilíferos identificados ocorreram em nódulos classificados como ACR TI-RADS 4 ou 5, reforçando a importância da avaliação ultrassonográfica e da citologia na conduta. Ademais, a maioria dos carcinomas apresentou SUVmax abaixo de 5, o que ressalta que baixa atividade metabólica não exclui malignidade.
Conclusão
Esses achados reforçam a necessidade de uma abordagem multimodal diante de captação tireoidiana incidental no PET-FDG. A captação focal da tireoide apresenta maior risco de malignidade e deve exigir investigação mais aprofundada, mesmo quando os valores de SUVmax são baixos. A captação difusa está fortemente associada à autoimunidade tireoidiana, destacando a importância do monitoramento da função tireoidiana. A identificação precoce de neoplasias tireoidianas potencialmente curáveis justifica o encaminhamento para avaliação endócrina, evitando atrasos no tratamento oncológico.
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