Um dos maiores desafios para o pré-natalista é o tratamento da diabetes mellitus gestacional (DMG). De acordo com Reginatto (2016), essa doença tem incidência variável no mundo, chegando a 17,8% das gestações, já no Brasil estima-se que ela ocorra entre 2,4 a 7,2% das gestações. Sendo um problema de saúde pública com gastos importantes para o sistema de saúde e com consequências maternas e fetais desfavoráveis. Segundo Hoff (2015), o objetivo principal do tratamento de DMG é melhorar a glicemia das pacientes para diminuir a ocorrência de macrossomia fetal, pré-eclâmpsia e óbito fetal. Por estes motivos, cada vez mais estudos vêm sendo elaborados com o objetivo de sanar dúvidas relativas a esta patologia. A associação entre o consumo de soja e os resultados adversos da gravidez também permanece obscura, e pode estar relacionada a um fator de proteção em relação à diabetes mellitus gestacional.
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O objetivo da pesquisa que trago hoje para discussão foi de investigar o consumo de soja de mulheres grávidas no segundo trimestre, e explorar uma possível associação entre a ingestão de soja e o risco de resultados adversos na gravidez, como a diabetes mellitus gestacional.
Metodologia
Foram recrutadas mulheres grávidas entre 13 a 24 semanas de gestação em um hospital no sudoeste da China, de junho a dezembro de 2019. A ingestão alimentar no meio do trimestre foi avaliada por um questionário semiquantitativo de frequência alimentar. As participantes foram divididas em grupo insuficiente (< 40 g/dia) e o grupo controle (≥ 40 g/dia) de acordo com o consumo diário de soja, sendo acompanhados até o parto. Os resultados da gravidez, incluindo diabetes mellitus gestacional (DMG), cesariana e macrossomia foram obtidos para posterior análise.
Um total de 224 participantes foram incluídas neste estudo prospectivo de coorte, dos quais identificaram 36 (16,1%) casos de DMG, e 120 (53,6%) casos de parto cesáreo. Mais da metade (55,8%) das mulheres grávidas consumiram menos soja do que 40 g/dia. A ingestão diária de soja inferior a 40 g foi associada ao aumento do risco de DMG e cesariana, sem ajuste para fatores de confusão, como idade, índice de massa corporal pré-gravidez, paridade, ingestão diária de vegetais, frutas, frutos do mar e nozes. Depois de ajustar para estes fatores, a ingestão diária de soja de menos de 40 g aumentou 2,16 vezes o risco de DMG, mas não com um risco significativamente aumentado de cesariana.
Conclusão
A ingestão insuficiente de soja pode aumentar o risco de DMG, sugerindo que a ingestão adequada de soja pode ter um papel benéfico na prevenção de DMG. Esta é mais uma possibilidade para orientarmos nossas pacientes grávidas durante o pré-natal, com o objetivo de evitar desfechos obstétricos desfavoráveis devido a DMG.
Referências bibliográficas
- Wang, Y., Luo, B. & Xiang, J. The association between soy intake and risk of gestational diabetes mellitus: a prospective cohort study. BMC Pregnancy Childbirth 21, 695 (2021). https://doi.org/10.1186/s12884-021-04175-9
- Hoff L, Pereira LL, Pereira PL, Zanella MJ. Diabetes mellitus gestacional: diagnóstico e manejo. Acta Méd (Porto Alegre). 2015;36:1-8.
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Diabetes mellitus gestacional. Revista da Associação Médica Brasileira [online]. 2008;54(6):477-480. doi: 10.1590/S0104-42302008000600006.
- Harrison AL, Shields N, Taylor NF, Frawley HC. Exercise improves glycemic control in women diagnosed with gestational diabetes mellitus: a systematic review. J Physiother. 2016;62(4):188-96. doi: 10.1016/j.jphys.2016.08.003.
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