Logotipo Afya
Anúncio
Endocrinologia12 maio 2025

Estratégias para "desprescrição" em pacientes idosos com DM2

Artigo visou abordar o realinhamento da prescrição para diabetes na população idosa, com estratégias para simplificar o tratamento
Por Juliane Braziliano

O tratamento do diabetes no idoso é desafiador por inúmeras razões: presença de múltiplas comorbidades, status funcional do paciente, uso de diversas medicações, maiores riscos de efeitos colaterais, dentre outros. 

Devido a tantos motivos, é cada vez mais encorajado que haja uma redução da quantidade de medicamentos na população idosa, sem que haja interferência na eficácia do tratamento.  

Recentemente, a revista Lancet publicou um artigo que visou abordar o realinhamento da prescrição para diabetes na população idosa, com estratégias para simplificar o tratamento. Veja abaixo um breve resumo dele. 

Ao redor do mundo, mais de 20% da população com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) tem mais de 65 anos. Com uma prevalência e incidência tão crescentes, é importante um cuidado especial com os idosos com DM2.  

A redução do risco de hipoglicemia é essencial, visto que ela está associada a piora cognitiva e precipitação de eventos cardiovasculares. 

A “desprescrição” na população idosa inclui cessar medicações de alto risco, redução de doses quando for possível e substituição por medicações mais seguras. No entanto, ainda há muitas lacunas para que essa ação ocorra de maneira adequada e eficaz. 

Para que os profissionais de saúde que lidam com idosos com DM2, pudessem reconhecer os sinais de alerta (red-flags) e realinhar as estratégias do tratamento com foco na demanda individual do paciente, um grupo de especialistas (geriatras, endocrinologistas, farmacêuticos, educadores, enfermeiros e pesquisadores) se reuniram nos dias 18 e 19 de maio de 2023 para tentar desenvolver estratégias da “desprescrição”. 

 Ao longo de meses de estudos e convenções, eles desenvolveram o “Caminho 4S” (4S Pathway). O objetivo do algoritmo é de conciliar segurança com eficácia no tratamento do idoso com DM2. 

 Vamos destrinchar cada etapa. 

Passo 1: Identificar gatilhos 

Deve incluir histórico médico detalhado e análise do humor e status cognitivos do paciente. O exame físico deve focar na mobilidade, equilíbrio, fragilidade, status funcional, perda ponderal, identificação de quadro infeccioso e padrões glicêmicos do paciente. 

Deve-se realizar inventário das medicações tanto para diabetes quanto para demais condições do paciente, além de determinação do quadro social. 

Passo 2: Decisão compartilhada sobre tratamento 

Os pacientes idosos com DM2 e seus cuidadores diretos devem participar sobre todas as vontades do paciente em relação ao seu tratamento junto com a equipe que os acompanha. 

Passo 3: Definir novas metas de tratamento 

A meta geral de Hemoglobina glicada (Hba1c) inferior a 7,0% não deve ser preconizada para todos os pacientes. 

Primeiramente, porque a análise da Hba1c isolada não é capaz de predizer as oscilações glicêmicas do paciente e segundo porque os níveis de Hba1c devem ser individualizados de acordo com o perfil dele. 

Por exemplo, pacientes idosos com bom status funcional e boa capacidade de reconhecer efeitos adversos de suas medicações, podem ter como meta Hba1c inferior a 7%. No entanto, idosos mais frágeis, devem ter suas metas mais flexibilizadas com o intuito de reduzir os efeitos colaterais, principalmente hipoglicemia. 

Passo 4: Medicações mais simples e seguras que permitam aos cuidadores identificar melhoras no status funcional, na qualidade de vida, nas preferências do paciente e assim manutenção da adesão ao novo tratamento. 

Por fim, é importante simplificar o tratamento do idoso com DM2 focando principalmente na redução da hipoglicemia, perda ponderal, desidratação e outros efeitos indesejados. 

Por exemplo, insulina e sulfonilureias podem ser problemáticas com o aumento da idade, fragilidade e da presença de múltiplas comorbidades. 

Medicações como inibidores de DDP-4, análogos de GLP-1 e inibidores de SGLT-2, podem ser alternativas medicamentosas mais seguras e eficazes por terem benefícios extra glicêmicos como melhora de desfechos renais e cardiovasculares. 

Em caso de necessidade de uso de insulina, deve-se sempre optar por insulinas sem pico de ação, visando redução de episódios de hipoglicemia. 

De todo modo, antes do início de qualquer medicação, é importante analisar a função renal, se o apetite do paciente está preservado e se ele apresenta alguma contraindicação a alguma medicação que possa ser iniciada. 

Conclusão e mensagem prática 

A população idosa com Dm2 é crescente a nível mundial. Os cuidadores desses pacientes devem estar preparados para saber lidar com as mudanças decorrentes do envelhecer tais como aumento da fragilidade, déficit cognitivo, múltiplas comorbidades e cenário sócio-econômico que possam prejudicar o manejo glicêmico. 

Com intuito de ajudar tais cuidadores a definir quando é necessário realinhar o tratamento do diabetes, o Caminho 4S foi criado com base em 4 etapas que visam promover um tratamento mais seguro e ao mesmo tempo eficaz para os idosos  

É necessário, porém, que mais estudos sejam realizados com intuito de validar tal algoritmo de forma que o tratamento do DM2 na população idosa possa ser visto sob uma nova perspectiva. 

Autoria

Foto de Juliane Braziliano

Juliane Braziliano

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Editora-médica de Endocrinologia do Portal Afya.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Endocrinologia