A tireoide é uma das glândulas endócrinas mais importantes do corpo humano. É ela quem direta ou indiretamente controla todo o nosso metabolismo: incluindo a frequência cardíaca, pressão arterial, ciclo sono-vigília, ritmo intestinal, peso corporal, ciclo menstrual nas mulheres, dentre outras funções.
Um papel muito importante da tireoide é no metabolismo ósseo. Recentemente, foi divulgada uma revisão/metanálise que visou elucidar o papel da terapia com levotiroxina no metabolismo mineral/ósseo.
O hipotireoidismo é uma desordem endócrina muito comum, sendo caracterizado por deficiência do hormônio tireoidiano. Ele pode ser classificado em hipotireoidismo subclínico (TSH elevado com T4l livre) ou hipotireoidismo franco (TSH elevado e T4l baixo).
Os hormônios tireoidianos desempenham papel importante nas funções dos osteoblastos e osteoclastos, mas também na regulação do metabolismo ósseo. Alguns estudos já observaram que o hipotireoidismo pode vir acompanhado de declínio da densidade mineral óssea (BMD), osteoporose e até fraturas, porém ainda não está claro qual é o efeito da levotiroxina no metabolismo ósseo.
No presente estudo analisado, foi realizada uma revisão sistemática/metanálise para entender os efeitos da terapia com levotiroxina na BMD e marcadores ósseos em pacientes com hipotireoidismo subclínico (HSC) e hipotireoidismo franco (HF).
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Métodos
No período de dezembro de 2022 a outubro de 2024, em base de dados eletrônicos, foram coletados estudos que avaliaram os efeitos da levotiroxina na saúde óssea de pacientes com hipotireoidismo subclínico ou franco.
Os critérios de inclusão foram: os participantes deveriam ter o diagnóstico de HSC ou HF, os estudos deveriam incluir participantes com hipotireoidismo primário, sem nenhuma restrição de dose ou duração do tratamento e com pelo menos algum dos parâmetros analisados: BMD em diversos sítios, dosagem sérica de cálcio ou fósforo e marcadores de metabolismo ósseo. Por fim, os estudos deveriam comparar pacientes com HF ou HSC com e sem tratamento.
Já os critérios de exclusão foram com participantes com hipotireoidismo congênito ou central, gestantes, menores de 18 anos, pacientes em terapia supressora com levotiroxina para câncer de tireoide e pacientes recebendo outras medicações para desordens ósseas tais como: bifosfonatos, teriparatide e terapia de reposição hormonal com estrogênio.
Resultados
Foram incluídos 13 estudos na revisão/metanálise, desses cinco foram ensaios clínicos randomizados com foco em HSC enquanto os outros 8 eram estudos observacionais de HF.
Nos estudos, havia um total de 1135 participantes, sendo a maioria do sexo feminino com idade variando entre 32,8 e 74,3 anos. A duração do tratamento com levotiroxina também variou de quatro meses a 12,5 anos.
Dos cinco estudos de HSC, não foram encontradas diferenças significativas na BMD em coluna lombar de pacientes tratados ou não com levotiroxina. Também não teve diferença significativa da BMD em outros sítios tais como rádio, pulso e colo do fêmur.
Já para pacientes com HF, a BMD na coluna lombar, foi estatisticamente menor no grupo que usou levotiroxina, porém sem diferença significativa na BMD em colo do fêmur, trocanter e triângulo de Wars desses pacientes. Além disso, a BMD em coluna lombar foi significativamente menor em homens com HF em tratamento com levotiroxina há menos de cinco anos quando comparados aos que estavam tratando há mais de cinco anos.
Também não houve diferenças nos marcadores de metabolismo ósseo de pacientes com HSC e HF em tratamento com levotiroxina ou sem tratamento.
Discussão
O objetivo do estudo foi elucidar os efeitos da reposição com levotiroxina no metabolismo ósseo de pacientes com HF ou HSC. Os achados indicam que não houve diferença na BMD em coluna lombar para os pacientes com HSC que receberam tratamento ou não, porém para os pacientes com HF que receberam tratamento com levotiroxina, houve uma discreta redução da BMD.
Devido à pouca disponibilidade de dados, foi difícil conduzir uma análise quantitativa das alterações nos biomarcadores ósseos em pacientes com HSC que receberam tratamento ou não. Estudos prévios mostram que não houve impacto do tratamento com levotiroxina na saúde óssea de pacientes com HSC, revelando que baixas doses de LVT podem ser seguras para a saúde óssea dessa população.
O presente estudo contou com algumas limitações tais como: heterogeneidade da população estudada, foco na população mais idosa com HSC, a maioria dos participantes ser do sexo feminino e pouca distinção feita em relação ao estado de menopausa ou não.
Tais limitações revelam que é desafiador a análise dos efeitos da levotiroxina em pacientes com HSC ou HF.
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Conclusão e mensagem prática
A presente revisão e metanálise demonstrou um discreto efeito adverso da terapia com levotiroxina no metabolismo ósseo de pacientes com hipotireoidismo franco, porém sem efeitos consideráveis na população com hipotireoidismo subclínico.
No entanto, fica o alerta de que mais estudos são necessários para validar tais achados e investigar melhor o papel da reposição com levotiroxina na saúde óssea dos pacientes com hipotireoidismo.
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