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Endocrinologia20 fevereiro 2020

Diabetes gestacional: o diagnóstico deve ser revisto?

O diabetes gestacional é uma das endocrinopatias mais frequentes, definida como qualquer grau de hiperglicemia cujo diagnóstico é feito durante a gravidez.

O diabetes gestacional é uma das endocrinopatias mais frequentes durante a gravidez, definida como qualquer grau de hiperglicemia cujo diagnóstico é feito durante a gravidez.

Há mais de 25 anos tenta-se responder à mesma pergunta: como deve ser feito o screening diagnóstico idealmente?
Ideal que não seja tão baixo a ponto de fazer muitos diagnósticos falso positivos, nem alto demais que aumente os falsos negativos (levando inclusive a complicações obstétricas durante o pré-natal, parto e sequelas pós-parto).

mulher grávida, com diabetes gestacional, com as mãos na barriga, em frente a monitor de usg

Diabetes gestacional

A literatura mundial vem testando várias alternativas nessa busca implacável para trazer o equilíbrio . Um estudo muito interessante publicado no começo de dezembro de 2019 na revista Diabetology & Metabolic Syndrome avaliou na forma de meta-análise algo em torno de 5.500.000 mulheres através do mundo em estudos agrupando-as em sete grupos de acordo com os vários critérios diagnósticos utilizados atualmente para diabetes gestacional, a saber:

  1. Definição do IADPSG, com teste screening com TOTG de 75g com teste de 2 horas. Limites: um valor maior que 92, 180 e 153 mg/dl, para jejum , 1 ,2, e 3 horas .
  2. Screening baseado do TOTG de 75g com teste de 2 horas. Limites: um valor maior que 100 e 144 mg/dl para jejum e 2 horas.
  3. Screening baseado do TOTG de 75g com teste de 2 horas. Limites: um valor maior que 110 e 140 mg/dl para jejum, 1 e 2 horas.
  4. Screening baseado do TOTG de 75g com teste de 2 horas. Limites: valor maior que 180 mg/dl para 2 horas.
  5. Screening com Teste Simplificado com 50 g dextrosol avaliação em 1 hora. Limites: valores maiores que 140 vão para TOTG cm 100g. Limites: valores maiores que 95, 180,155 e 140 mg/dl respectivamente para jejum. 1, 2 e 3 horas OU teste simplificado com 50g com resultado maior ou igual a 140 mg/dl seguido de TOTG com 75 g de 3 horas. Limites : 95,180,155 e 140 mg/dl para jejum, 1,2 e 3 horas;
  6. Screening com teste simplificado com 50g em 1 hora resultado maior que 140 mg/dl seguido de TOTG de 100g com avaliação de 3 horas. Limites: > 105 ou 190, 155, 165 e 145 mg/dl para jejum, 1,2 e 3 horas;
  7. Screening com TOTG de 100g em 3 horas. Limites: um valor > que 120, 175, 155 e 140 mg/dl para jejum, 1, 2, e 3 horas.

Leia também: Diabetes gestacional: Ministério da Saúde lança novo consenso

Resultados e análises

Com os grupos montados testou-se a incidência de diabetes gestacional em cada país que utilizou cada um dos métodos para screening e diagnóstico. Vemos como o screening e o diagnóstico podem ser discordantes entre ginecologistas e endocrinologistas, que seguem critérios diferentes. O que parece ser consenso é o screening universal e o diagnóstico deva ser realizado com curva glicêmica. As quantidades e valores administradas de dextrosol e de corte respectivamente, ainda precisam de consenso.

Utiliza-se ao redor do mundo em geral o que se vê no grupo 1. Entretanto os critérios utilizados nos remetem a algumas questões para reflexão:

  • Quanto mais baixo o ponto de corte para screening e diagnóstico, maior a incidência de diabetes gestacional;
  • Maior número de pacientes diabéticas vai impactar diretamente no dia a dia dessas pacientes: dieta, controles, mudança de hábitos às vezes das famílias – gerando maiores custos para as mesmas. Elas estarão preparadas para absorver? O governo irá subsidiar o tratamentos? Considerando que os maiores números de nascimentos acontecem em países pobres ou em desenvolvimento;
  • O diagnóstico de “mulher diabética” pode estigmatizar essa gestante, sua família e perdurar por gerações. Como desfazer esse possível “trauma”?

Mais do autor: Coronavírus na gravidez: um novo paradigma

Esse estudo merece ser lido e avaliado pela sua robustez em população (em torno de 5.5 milhões de gestantes), metodologia (englobou todas as formas de screening e diagnóstico conhecidas) e seu foco em avaliar prevalência de acordo com cada critério.

Apresenta, entretanto, limitações por não relatar IMC prévio e posterior das gestantes, idades maternas, que podem ser fatores de confusão. Mesmo assim é um estudo de respeito, boa leitura!

Referências bibliográficas:

  • Behboudi-Gandevani S, Amiri M, Bidhendi Yarandi R, Ramezani Tehrani F. The impact of diagnostic criteria for gestational diabetes on its prevalence: a systematic review and meta-analysis. Diabetol Metab Syndr. 2019;11:11. Published 2019 Feb 1. doi:10.1186/s13098-019-0406-1
  • Waters TP, Kim SY, Werner E, et al. Should women with gestational diabetes be screened at delivery hospitalization for type 2 diabetes?. Am J Obstet Gynecol. 2020;222(1):73.e1–73.e11. doi:10.1016/j.ajog.2019.07.035
  • Kuo, C.-H., & Li, H.-Y. (2019). Diagnostic Strategies for Gestational Diabetes Mellitus: Review of Current Evidence. Current Diabetes Reports, 19(12). doi:10.1007/s11892-019-1271-x

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