O título em si pode não ser uma novidade saída do forno como por exemplo o SURMOUNT-1, porém foi um tema de destaque na ADA 2022 pela sua relevância e por muitas dúvidas acerca do assunto. Afinal, nos últimos anos, após o advento dos “CVOTs” (ou estudos de segurança cardiovascular para as medicações em diabetes), diversos dados apareceram sobre redução de infarto, AVC, desfecho composto por morte cardiovascular, AVC e infarto não fatal (os famosos MACEs) a respeito de basicamente todas as drogas para tratamento do diabetes, uma vez que passou a ser exigência do FDA para liberação para a comercialização. Por tal motivo, nem sempre fica claro quais efeitos são de classe e quais não são para determinados desfechos.
A dra Liana Billings falou a respeito do benefício que os agonistas de GLP-1 podem trazer na redução de risco de AVC.
Confira toda a cobertura do congresso da American Diabetes Association (ADA 2022) aqui no Portal PEBMED. O evento acontece o dia 07 de junho e está sendo realizado em New Orleans, Estados Unidos. Confira tudo o que está rolando!
Agonistas de GLP-1 reduzem o risco de AVC em cerca de 17%
O AVC é uma das condições mais temidas, capazes de deixar sequelas permanentes como imobilidade, afasia e mesmo óbito. O estudo STENO-2 demonstrou que o controle de diversos fatores de risco cardiovasculares em conjunto, dentro deles o diabetes, pode resultar numa redução de risco de 69% de ter um AVC.
Para provar seu argumento, a dra Billings começou relembrando que já no estudo Leader, de 2016, que avaliou a segurança cardiovascular da liraglutida, houve uma tendência a redução de AVC não fatal (HR 0,89) como desfecho secundário, mas não significativo. Desde o Leader e do ELIXA (que avaliou a lixisenatida), diversos outros estudos com agonistas de GLP-1 e desfechos cardiovasculares foram lançados e recentemente, algumas metanálises desses ensaios clínicos foram realizadas com o objetivo de se avaliar especificamente se existe um efeito protetor quanto ao risco de AVC não fatal.
A dra Billings traz dados robustos, advindos de três metanálises diferentes, publicadas entre 2020 e 2021 (Bellastela et al, stroke; Giugliano et al, diabetology; Sattar et al, Lancet) que incluíram dados dos estudos Elixa, Leader, Sustain-6, Exscel, Harmony, Rewind, Pioneer-6, e os dois últimos até o Amplitude-O.
O resultado:
Bellastela et al, stroke, 2020: HR 0.84 (0,76 – 0,93; IC 95%; P = 0,01)
Giugliano et al, diabetology, 2021: HR 0.84 (0,79 – 0,94; IC 95%; P < 0,001)
Sattar et al, Lancet, 2021: HR 0.83 (0,76 – 0,92; IC 95%; P < 0,002)
Ou seja, uma redução de cerca de 17% no risco. Vale lembrar que a maioria dos estudos selecionou uma população de alto risco, com a maioria já tendo eventos cardiovasculares prévios e que a incidência de AVC hemorrágico nos estudos foi baixa, menor que 10%. Portanto estamos falando mais sobre AVC isquêmico, porém também é provável que exista um efeito protetor nos hemorrágicos. O mecanismo parece ser atribuível não só à redução da glicada mas também por efeito em redução da aterosclerose no sistema nervoso central e efeitos de neuroproteção a ser esclarecidos.
E os inibidores de SGLT-2?
Apesar de ser uma classe importante e muito útil, estas medicações de forma isolada não parecem reduzir o risco de AVC, também demonstrado em 4 metanálises, a mais recente publicada em 2021, no JAMA cardiology (McGuire et al).
Esta é uma classe complementar, sobretudo por seus efeitos em proteção renal e no tratamento da insuficiência cardíaca.
Conclusão
Os agonistas de GLP-1 não devem ser esquecidos dentre as medicações paral pacientes de alto risco cardiovascular e, dentre diversos benefícios, podem reduzir por si só a chance de um paciente com diabetes ter um AVC.
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