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A empresa americana de biotecnologia ImmusanT criou uma vacina experimental para doença celíaca que pode proteger pacientes dos efeitos do consumo de glúten, proteína encontrada no trigo, na cevada e no centeio. O sistema imunológico de quem sofre com a enfermidade reage anormalmente ao glúten, danificando o revestimento do intestino delgado e causando sintomas como diarreia, fadiga, flatulência e edema.
O tratamento, chamado Nexvax2, é um tipo de imunoterapia que visa “reprogramar” o sistema imunológico para ser tolerante ao glúten. A vacina já foi testada em um pequeno grupo de pessoas, se mostrando eficiente e bem tolerada entre pacientes com doença celíaca.
Nesta próxima etapa, os pesquisadores vão realizar um novo estudo clínico com 150 pacientes para testar ainda mais a segurança e a eficácia do tratamento. Os cientistas contaram em entrevista a veículos internacionais que participantes da Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos estão sendo selecionados para a continuação do trabalho.
Como funciona a vacina
A vacina funciona de forma semelhante às já existentes que são utilizadas em pacientes alérgicos. O tratamento consiste em tomar duas injeções por semana em um período de 16 semanas.
A vacina é composta de moléculas chamadas peptídeos, que provocam uma resposta imune em pacientes com doença celíaca. Em teoria, a exposição aos peptídeos ao longo do tempo pode ajudar a reprogramar as células do sistema imunológico, chamadas de células T, para se tornarem tolerantes ao glúten e não mais desencadear uma resposta imune à substância.
De acordo com o jornal britânico Daily Mail, a vacina contém pequenos fragmentos das proteínas responsáveis pela reação excessiva do sistema imunitário durante o processo digestivo. Uma vez que estas têm dimensões extremamente reduzidas é possível “ludibriar” o organismo até que este passe a aceitá-las como não sendo prejudiciais à saúde.
A terapia é destinada a pacientes com doença celíaca que carregam um gene do sistema imunológico chamado HLA-DQ2.5, encontrado em cerca de 90% dos indivíduos com a condição.
As injeções de manutenção podem ser aplicadas em casa, com um dispositivo que injeta automaticamente a vacina sob a pele.
Próximos passos
A empresa está atualmente recrutando pacientes na Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos para participar do estudo clínico.
A ImmusanT já completou cinco ensaios de fase 1 do Nexvax2. Como os primeiros testes levaram os pacientes a vomitar, a dose inicial da vacina foi reduzida. Ela é aumentada lentamente até as pessoas serem expostas a uma quantidade de glúten que é equivalente a dois pães.
Já a fase 2 deve durar seis meses. De acordo com os cientistas, é muito cedo para prever quando a vacina estará disponível ou ainda para estimar o seu custo.
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Doença celíaca: saiba mais
A doença celíaca é uma doença autoimune, ou seja, as próprias células de defesa imunológica agridem as células do organismo, causando um processo inflamatório. Na enfermidade, a inflamação é provocada pelo glúten, proteína presente no trigo, cevada e centeio. Esse processo inflamatório, que no caso ocorre na parede interna do intestino delgado, leva à atrofia das vilosidades intestinais, gerando diminuição da absorção dos nutrientes.
No geral, os sintomas como diarreia, constipação, perda de peso, anemia, sensação de estufamento, cólica e desconforto abdominal começam na infância. Na fase adulta, muitas vezes os sintomas são mais indefinidos, como dores eventuais.
A maneira mais segura de fazer o diagnóstico é realizar a dosagem no sangue dos anticorpos contra o glúten. Outro exame importante é a biópsia do intestino, para verificar se há alterações de inflamação e atrofia das vilosidades.
Ainda não há cura para a doença celíaca. Portanto, o tratamento consiste em retirar da dieta os alimentos que contenham glúten, responsável por desencadear a inflamação. Felizmente, é possível encontrar cada vez mais produtos sem glúten nas prateleiras dos supermercados, ampliando a variedade de opções para esses pacientes.
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Referências:
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