A acne é uma dermatose muito comum com grande repercussão psicológica – estudos sugerem que seu impacto emocional é comparável ao experimentado por pessoas com doenças sistêmicas como diabetes. Apesar do fácil diagnóstico, o tratamento da acne é complexo, demorado e requer abordagem individualizada.
Nos casos mais leves, o tratamento pode ser apenas local, e os retinóides tópicos como adapaleno ou tretinoína costumam ser a primeira escolha. Essas substâncias previnem a formação de comedões por regularem a proliferação de queratinócitos, diminuírem a produção de sebo e por terem efeitos anti-inflamatórios. São capazes de prevenir o surgimento de cicatrizes atróficas e despigmentação. Os principais efeitos colaterais são irritação, vermelhidão, xerose e descamação. Em pacientes virgens de tratamento iniciamos com concentrações menores e escalonamos gradualmente conforme tolerância. O ácido azeláico é outro agente eficaz em casos menos complexos pela sua ação bacteriostática, anti-inflamatória, antioxidante e anti-queratinizante.
Saiba mais: Microagulhamento: indicações, drug delivery e riscos
Quando o paciente apresenta lesões inflamatórias como pústulas, nódulos ou cistos, nos quadros leves podemos utilizar antibióticos tópicos como a clindamicina. É recomendável sua associação – no mesmo produto – aos retinóides ou peróxido de benzoíla, já que em monoterapia a taxa de resistência do Cutibacterium acnes é elevada. Embora o peróxido de benzoíla seja um agente comedolítico e antibacteriano e possa ser usado como monoterapia, seu uso combinado aumenta a eficácia do tratamento.
Casos graves de acne
Nos casos de acne inflamatória moderada a grave, os antibióticos orais são indicado. A fim de evitar a resistência eles também devem ser associados a retinóides tópicos e/ou peróxido de benzoíla ; já a combinação com antibiótico tópico deve ser evitada. As ciclinas (tetraciclina, doxiciclina, minociclina, limeciclina) são a terapia de primeira escolha. Clindamicina e eritromicina podem ser usados quando há contraindicação às tetraciclinas, mas apresentam taxas de resistência mais elevadas. Outras opções como sulfametoxazol trimetoprim, penicilinas e cefalosporinas tem evidência limitada e são prescritos quando tetraciclinas e macrolídeos são contraindicados.
Quando há falha terapêutica em casos moderados, tendência para formação de cicatrizes ou lesões graves a isotretinoína oral deve ser prescrita precocemente, desde que não existam contraindicações (gravidez e lactação, uso concomitante de tetraciclinas, alterações hepáticas ou valores lipídicos elevados). Quando corretamente indicada é uma medicação segura e bem tolerada.
Leia também: Psoríase: estudo indica superioridade de risanquizumabe em comparação ao secuquinumabe
Tratamentos complementares incluem peelings químicos, laser, medicações com efeito antiandrogênico (anticoncepcionais orais e espironolactona) e dietas de baixo índice glicêmico com pouco consumo de laticínios. Apesar de ser uma doença comum, o tratamento da acne ainda é desafiador – as reações cutâneas e a resposta demorada a agentes terapêuticos são motivos frequentes para a descontinuação do tratamento. Mais estudos são necessários para comparar associações entre medicações sistêmicas, tópicas, tratamentos hormonais e modalidades físicas como peeling e lasers. Os efeitos da dieta e do uso de prebióticos e probióticos na acne também não estão completamente esclarecidos.
Referências bibliográficas:
- Habeshian KA. Current issues in the treatment of acne vulgaris. Pediatrics. 2020 May;145(Suppl 2):S225-S230. doi: 10.1542/peds.2019-2056L
- Fox L. Treatment modalities for acne. Molecules. 2016 Aug 13;21(8):1063. doi: 10.3390/molecules21081063
- Dikicier BS. Topical treatment of acne vulgaris: efficiency, side effects, and adherence rate. J Int Med Res .2019 Jul;47(7):2987-2992. doi: 10.1177/0300060519847367
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.