Ensaio clínico randomizado compara microagulhamento com insulina tópica e placebo no tratamento de cicatrizes atróficas da acne.
O Estudo em Foco
Publicado no Dermatologic Surgery, o estudo busca determinar se a insulina, conhecida por suas propriedades anabólicas, pode otimizar os efeitos regenerativos do microagulhamento, uma técnica já consolidada.
Acne e Cicatrizes: A Patogênese
A acne vulgar é uma doença inflamatória crônica da unidade pilossebácea, caracterizada por lesões como comedões, pápulas, pústulas, nódulos e cistos. Sua patogênese envolve hiperprodução de sebo, hiperqueratinização folicular e proliferação da bactéria Cutibacterium acnes. As cicatrizes atróficas são uma sequela comum, resultantes de cicatrização deficiente com perda de colágeno e depressão tecidual, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Formação da Cicatriz Atrófica e Neocolagênese
As cicatrizes atróficas surgem da cicatrização inadequada pós-inflamatória. A inflamação da acne libera citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-α) e enzimas proteolíticas (MMPs) que degradam colágeno e elastina. Diferentemente da cicatrização fisiológica, há uma resposta fibrótica deficiente, com fibroblastos menos ativos e produção insuficiente de colágeno, resultando na depressão da pele.
Panorama dos Tratamentos Atuais para Cicatrizes Atróficas de Acne
Por que o microagulhamento ajuda?
O microagulhamento, ao criar microlesões controladas, desencadeia uma cascata de cicatrização. Este processo estimula a liberação de fatores de crescimento (TGF-β, PDGF, EGF, FGF) e citocinas que ativam fibroblastos. Estes, por sua vez, produzem novo colágeno (neocolagênese, tipos I e III), elastina e glicosaminoglicanos, preenchendo o tecido deprimido. A insulina tópica, teoricamente, potencializaria essa resposta anabólica, acelerando a síntese de colágeno e a remodelação tecidual.
Metodologia e Protocolo Terapêutico
O estudo utilizou um desenho de face dividida: microagulhamento em ambos os lados, seguido por insulina regular tópica (1 UI/0,1 mL) em um lado e placebo (solução salina) no outro. O tratamento foi iniciado após a resolução da acne ativa. A aplicação tópica, em ambiente estéril, não implicou em hipoglicemia, um ponto de segurança crucial.
O Procedimento de Microagulhamento
O microagulhamento é realizado com dispositivos que contêm múltiplas agulhas finas e estéreis. No estudo em questão, foi utilizado um Dermapen®, um dispositivo elétrico que permite controle preciso da profundidade e velocidade das agulhas, criando microperfurações cutâneas verticais.
A profundidade das agulhas utilizadas geralmente varia de 1–2,5 mm. Agulhas menores, de até 1,5 mm, são comumente usadas para cicatrizes superficiais a moderadas, enquanto aquelas maiores do que 2 mm podem ser empregadas para cicatrizes mais profundas. A escolha da profundidade depende da gravidade e do tipo de cicatriz, bem como da área anatômica a ser tratada.
A anestesia é pautada em um creme anestésico tópico (geralmente lidocaína a 5% ou similar), aplicado na área a ser tratada cerca de 30 a 60 minutos antes do procedimento e removido antes do início do microagulhamento.
Após a anestesia e a desinfecção da pele, o dispositivo de microagulhamento é passado sobre a área a ser tratada em diferentes direções (vertical, horizontal e diagonal) garantindo cobertura uniforme e criação de microperfurações.
Na sequência do microagulhamento, a pele é limpa e a substância ativa (insulina) ou o placebo (solução salina) é aplicada topicamente.
Critérios de inclusão e exclusão
O estudo contemplou indivíduos de uma clínica ambulatorial de dermatologia da Universidade do Cairo, com idade mínima de 18 anos e alocados entre fevereiro e agosto/2022.
Foram excluídas gestantes e paciente com acne inflamatória aguda, infecções cutâneas ativas, doenças sistêmicas (HAS, DM2 e discrasias sanguíneas) e histórico de exposição a retinóides sistêmicos ou terapia com laser no último semestre.
Resultados e Implicações Clínicas
O estudo contemplou 20 pacientes (76,2% das mulheres), com média de idade de 29 anos e duração média de acne de 10 anos.
A comparação foi realizada por dois médicos por meio de fotografias submetidas ao escrutínio do Sistema de graduação global qualitativo e quantitativo de Goodman & Baron (GSGS); bem como pela percepção de melhora, satisfação e qualidade de vida do paciente.
O estudo demonstrou que tanto o microagulhamento com insulina tópica quanto com placebo resultaram em melhora significativa das cicatrizes, com queda do escore do GSGS em um terço em ambos grupos, mas sem diferenças significativas entre eles (P = 0,903). Contudo, a análise comparativa não revelou diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos, sugerindo que, nas condições testadas, a adição de insulina tópica não proporcionou um benefício adicional mensurável em relação ao placebo.
Os dados atrelados à percepção do paciente também demonstraram a ausência de diferença significativa entre os grupos.
Conclusão
A insulina tópica, nas condições da pesquisa, não demonstrou superioridade estatística que justifique sua recomendação rotineira em associação ao microagulhamento. Entretanto, investigações futuras, explorando diferentes formulações, sistemas de entrega e concentrações, são aguardadas.
Autoria

Daniela Cristina Cardoso Lima Estrella
Possui graduação em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (2019). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Clínica Médica, Dermatologia Sanitária e Cirúrgica e Medicina de Emergência.
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