As ostomias – ileostomias e colostomias –, apesar de serem alternativas que podem salvar os pacientes, são procedimentos com estigmas significativos. Estima-se que mais de 100.000 ostomias são confeccionadas por ano nos Estados Unidos e as principais causas são câncer e doenças intestinais inflamatórias. Traumatismos graves, com lesão importante dos cólons associados à instabilidade hemodinâmica também são motivos para realização de ostomias.
Uma das complicações associadas a ostomias são as hérnias paraostomais, que trazem grandes desconfortos, além de causarem dor recorrente e contribuir para o prolapso das ostomias, principalmente as colostomias. Atualmente, se discute os benefícios que o uso de telas profiláticas pode trazer para prevenir esse tipo de hérnia.
Metodologia
Um artigo publicado por Emile SH et al., em agosto de 2024, realizou uma revisão sistemática sobre a eficácia e segurança do uso de telas. Foram analisados 19 artigos publicados entre 2010 a 2023. Os estudos eram ensaios clínicos randomizados, com exceção de dois que também incluíram estudos observacionais. O número de pacientes avaliados em cada estudo variou de 128 a 1252 pacientes e o período mínimo de observação foi de 12 meses.
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Resultados
Vale lembrar que nem toda hérnia paraostomal é sintomática e, por isso, existe uma diferença entre a real incidência, diagnosticada por exames de imagem que podem chegar até 80% das colostomias e as sintomáticas, com taxas de até 39%.
A meta-anlálise conduzida por Emile SH et al., identificou redução relativa do risco de hérnias clinicamente identificadas, que variou de 39% a 89%, com mediana de 76%. Quando se analisou os riscos baseados em diagnóstico por imagem, que englobam as hérnias sintomáticas e assintomáticas, a redução relativa do risco ficou em torno de 25% a 79%, com mediana de 39%.
Outro ponto avaliado foi a necessidade de correção cirúrgica com e sem o uso de tela, e esse resultado foi bem controverso. Isso porque, seis estudos identificaram redução da necessidade de correção cirúrgica de hérnias nos grupos que usou tela profilática. Entretanto, em outros seis estudos, a taxa de correção cirúrgica de hérnias foi semelhante nos grupos com e sem tela profilática.
Dentre as complicações associadas ao uso profilático de telas, as mais encontradas foram estenose e necrose, mas quase todos os estudos avaliados apresentaram taxas dessas complicações semelhantes nos grupos com e sem tela – 0,81 (IC de 95%: 0,66-1, p = 0,05, I2 = 13%).
Um ponto importante do estudo de Emile SH et al. foi que o subgrupo de meta-análises em que os pacientes foram acompanhados por 24 meses tiverem resultados pouco diferentes. Os riscos relativos de hérnias foram menores tanto nas sintomáticas (HR: 0,24; IC de 95%: 0,18–0,32,p < 0,0001, I2 = 11%) quanto nas diagnosticadas por exames de imagem (HR: 0,63; IC de 95%: 0,53–0,76, p < 0,0001,I2 = 34%). As taxas de correção cirúrgica e complicações foram semelhantes nos grupos com e sem tela.
Na prática médica
Como visto, grande parte dos estudos analisados no artigo principal identificaram redução do risco com o uso profilático de telas. Mas esses números isolados não afirmam, por si só, a eficácia das telas. É preciso considerar que a diferença real no uso das telas pode ser demonstrado na necessidade de reabordagem cirúrgica devido à hérnia. E em relação a esse fato, especialmente estudos com acompanhamento por período maior, os resultados foram semelhantes nos grupos com e sem tela.
Considerando também que existem diferentes tipos de ostomias, pode-se identificar um risco maior nas colostomias terminais. Emile et al. sugere que o uso de tela pode ser mais útil nas colostomias terminais e permanentes, pois nesses casos há um maior risco de hérnias paraosotmais.
Em síntese, o uso profilático de tela em ostomias é uma alternativa válida, que deve ser considerada principalmente nas colostomias. Mas ainda é necessário mais estudos com períodos maiores de acompanhamento dos pacientes para se definir com segurança a sua real eficácia.
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