O universo tecnológico da medicina é tão amplo que às vezes é difícil de se manter atualizado. Uma das inovações que a cada dia temos diferentes aplicações é o uso da fluorescência no auxílio na tomada de decisões pelo cirurgião.
O fenômeno da fluorescência consiste na característica de certas substâncias conseguirem emitir luz em um comprimento de onda diferente daquele que foi estimulado. Este fenômeno é presente em diferentes objetos do dia a dia que muitas vezes nem valorizamos, como ponteiros de relógio e interruptores de luz.
Na medicina, utilizamos substâncias denominadas fluoróforos que ao ser estimuladas por um comprimento de onda específica, emitem o fenômeno da fluorescência. O mais famoso fluoróforo utilizado na medicina é o verde de indocianina que quando estimulado por um comprimento de onda próximo ao infravermelho apresenta este fenômeno. Novas câmeras de videolaparoscopia conseguem detectar esta fluorescência (invisível ao olho humano) e converter para uma luz visível, sendo que a maioria dos fabricantes a convertem digitalmente para a cor verde.
O trabalho publicado no World Journal of Surgical Oncology revisa justamente se a cirurgia guiada por fluorescência com uso de diferentes fluoróforos podem auxiliar o tratamento do câncer ovariano.
Métodos
Revisão sistemática que buscou identificar pacientes de qualquer idade com diagnóstico firmado de câncer de ovário que foram submetidos a tratamento cirúrgico com o auxílio da fluorescência. Foram medidas a taxa de detecção do linfonodo sentinela, sensibilidade e especificidade na detecção de metástase, além dos efeitos adversos relacionados ao uso do agente de fluorescência.
Resultados
Um total de 2747 trabalhos foram identificados em diferentes plataformas de divulgação científica, sendo que 21 artigos foram elegíveis para a análise final, correspondendo a 681 participantes. O verde de indocianina foi o agente mais utilizado 327 casos (48%) seguido de pafolacianina 216 casos (31,7%), depois o 5-ALA em 116 (17%) casos e por último EC-17 em 22 casos (3,2%).
Para a taxa de detecção de linfonodo sentinela o verde de indocianina foi o agente utilizado foi o verde de indocianina com uma taxa de detecção de 86,2% IC 69,6% – 97,5%, e o local de infusão era o infundíbulo pélvico.
Também foi verificado em 14 estudos que o uso de marcadores para a detecção depósitos tumorais demonstrou que pafolacianina apresentou a melhor acurácia foi o EC-17 com 98,2% de sensibilidade e 58,7% de especificidade seguida da pafolacianina com 87,4% e 17,1% de sensibilidade e especificidade respectivamente.
Em relação aos efeitos existem aqueles relacionados ao fármaco e também a aplicação propriamente dito, e dos estudos que verificaram efeitos adversos variaram de 14,3% a 83,3%. Todos foram classificados como leve e moderado. A maioria dos efeitos relacionados ao agente estão relacionados a sintomas abdominais como desconforto abdominal e vômitos. Um estudo relatou lesão de veia cava durante o processo de injeção do fluoróforo.
Discussão
O tratamento do câncer ovariano metastático implica na ressecção das metástases, e isto geralmente é baseado na detecção visual das metástases pelo cirurgião. Esta detecção visual é influenciada por diversos fatores, entre eles o próprio biotipo do paciente que pode dificultar a identificação. O uso de agentes marcadores com fluorescência tende a facilitar este processo. Apesar desta facilitação teórica não há consenso sobre o uso deles.
Este estudo demonstrou que o uso de fluoróforos especialmente associado a tecnécio pode aumentar para 97,5% a taxa de detecção de linfonodos sentinela, que é maior que o uso isolado do tecnécio ou verde de indocianina. Também foi demonstrado que os novos marcadores específicos para massas tumores ovarianos aumentam a detecção metastática, com sensibilidades de até 98%, porém com especificidade bem menor.
Em conclusão, o uso de fluorescência tanto para a detecção de linfonodos sentinelas, quanto para a ressecção de metástases, é um campo promissor com grande benefício para o paciente. Ainda carece de dados para determinarmos que o uso seja utilizado seja ainda mais ampliado.
Para levar para casa
Agregar fatores que possam facilitar o cirurgião e beneficiar o paciente é de suma importância para um bom desfecho. A fluorescência cirúrgica tem se mostrado com baixa morbidade associada, reprodutível e infelizmente ainda pouco disponível. Ampliar a disponibilidade talvez seja o próximo passo para ampliar e determinar os seus usos.
Autoria

Felipe Victer
Editor Médico de Cirurgia Geral da Afya ⦁ Residência em Cirugia Geral pelo Hospital Universitário Clementino fraga filho (UFRJ) ⦁ Felllow do American College of Surgeons ⦁ Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões ⦁ Membro da Sociedade Americana de Cirurgia Gastrointestinal e Endoscópica (Sages) ⦁ Ex-editor adjunto da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (2016 a 2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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