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Cirurgia25 junho 2025

Segurança e eficácia do ácido tranexâmico em cirurgia geral

Ácido tranexâmico mostra-se eficaz na redução de sangramentos em cirurgias gerais, sem elevar o risco de eventos cardiovasculares.
Por Jader Ricco

A cirurgia geral abrange vários procedimentos com diferentes riscos de sangramentos. Em cirurgias com alto risco, a morbidade e mortalidade associada a hemorragias são fatores relevantes e mecanismos que possam ser eficazes no combate ao sangramento podem mudar o desfecho operatório. 

Atualmente, o ácido tranexâmico (ATX), um agente antifibrinolítico, vem demonstrando potencial em reduzir os riscos de sangramento perioperatório em cirurgias não cardíacas. O estudo Perioperative Ischemic Evaluation-3 (POISE-3) foi um ensaio clínico internacional randomizado, publicado em 2022, que avaliou a eficácia do ATX em 9.535 pacientes, dentre os quais 3.542 foram submetidos a procedimentos de cirurgia geral. Os dados encontrados revelaram redução significativa do sangramento em comparação com o placebo sem aumentar riscos cardiovasculares. 

No entanto, dados sobre segurança e eficácia do ATX ainda necessitam de mais investigações. Um subestudo POISE-3, recentemente publicado na JAMA Surgery, teve por objetivo avaliar se o uso de ATX no perioperatório afetou o risco de sangramento ou eventos cardiovasculares em 30 dias em pacientes submetidos à cirurgia geral. 

Ácido tranexâmico

Métodos 

O estudo conduzido por Park Lj et al. são uma análise do POISE-3 direcionada à avaliação da eficácia e segurança do ATX especificamente em pacientes submetidos a procedimentos de cirurgia geral. Após reclassificação dos pacientes, a amostra foi constituída por 3.260 pacientes, dentre os quais 1.635 receberam TXA (grupo intervenção) e 1.625, placebo.  

Diferentemente do POISE-3, os pacientes do subestudo em análise foram alocados em subcategorias de cirurgias como hepatopancreatobiliar, colorretal, gastrointestinal superior, cabeça e pescoço, outros procedimentos maiores e outros procedimentos gerais. 

Resultados e discussão 

Os dados do subestudo revelaram sangramento em 130 (8,0%) dos pacientes que usaram TXA e em 171 (10,5%) dos pacientes que usaram placebo (HR, 0,74; IC 95%, 0,59-0,93; P = 0,01). Sangramento grave ocorreu em 110 (6,7%) pacientes no grupo intervenção e em 152 (9,4%) no grupo placebo (HR, 0,71; IC 95%,0,55-0,90; P < 0,01).  

Analisando as subcategorias de cirurgia geral, observou-se um risco de sangramento estatisticamente menor e significativo com uso de TXA em comparação com o grupo placebo nos pacientes submetidos à cirurgia hepatopancreatobiliar (15,0% vs. 25,0%; HR, 0,55; IC 95%,0,34-0,91; P = 0,02) e à cirurgia colorretal (9,3% vs. 13,6%;HR, 0,67; IC 95%, 0,45-0,98; P = 0,04). No quesito desfecho de segurança, os pacientes do grupo intervenção submetidos à cirurgia de cabeça e pescoço apresentaram menor risco de eventos cardiovasculares em comparação com os pacientes do grupo placebo (4,2% vs. 10,4%; HR, 0,39; IC 95%, 0,18-0,84; P = 0,02). 

Um dado importante observado foi o de não haver diferença significativa tanto na eficácia quanto na segurança quando se comparou subgrupos de pacientes oncológicos e não oncológicos entre os dois grupos principais. 

Embora o ATX não possa resolver todas as formas de sangramentos, os resultados dos dados do presente estudo mostram que esse antifibrinolítico pode reduzir o risco de hemorragias significativas nos procedimentos de cirurgia geral. 

Em relação aos eventos cardiovasculares, especialmente tromboembólicos, os dados não revelaram aumento da incidência desses eventos. Outros estudos e meta-análises também não indicam inferioridade do ATX em relação ao placebo na ocorrência de eventos cardiovasculares e sugerem que esses eventos são raros quando comparados ao sangramento. 

O que podemos levar para casa? 

Assim como no POISE-3, o subestudo conduzido por Park LJ et al., demonstrou redução dos riscos de sangramentos em cirurgia geral com uso de ATX sem aumentar os riscos dos eventos cardiovasculares. Cada vez mais estudos vêm demonstrando a eficácia e segurança do ATX.  

Embora sejam necessários mais estudos para se definir com segurança, esse agente fibrinolítico vem demonstrando ter papel significativo nos procedimentos de cirurgia geral. 

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Referências bibliográficas

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