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Cirurgia4 dezembro 2025

SADI-S na bariátrica - técnica, indicações e resultados

Conheça o bypass duodeno-ileal com gastrectomia vertical, técnica bariátrica SADI-S, suas indicações, execução segura e resultados clínicos e metabólicos.
Por Jader Ricco

A obesidade é uma doença com relevância no Brasil e no mundo, associada vários fatores ameaçadores à vida. Um dos tratamentos com eficácia comprovada no combate à obesidade é a cirurgia bariátrica. As técnicas mais conhecidas incluem a gastrectomia com by pass em Y de Roux (RYGB – Roux-en-Y gastric bypass), gastrectomia vertical (Sleeve), derivação biliopancreática com switch duodenal tradicional.  

Nos últimos anos, o by-pass duodeno-ileal com gastrectomia vertical, conhecido como SADI-S (Single-anastomosis duodenal-ileal bypass with sleeve gastrectomy), tem se destacado em vários aspectos em relação às técnicas atualmente praticadas. Trata-se de um procedimento restritivo, pela gastrectomia vertical, e disabsortivo, decorrente da anastomose duodeno-ileal que reduz a área de intestino delgado destinada à absorção de nutrientes. 

Indicações e seleção de pacientes para cirurgia bariátrica SADI-S 

A literatura médica aponta a técnica SADI-S como uma opção bem indicada em procedimento revisional em casos de reganho de peso ou resultados subótimos após gastrectomia vertical ou bypass gástico em Y de Roux. 

Além disso, diretrizes de consenso internacional recomendam a técnica SADI-S como primeira opção em pacientes com índice de massa corporal (IMC) acima de 45 kg/m² e doenças metabólicas mal controladas, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia.  

Fatores associados e comparação com outras técnicas bariátricas 

A técnica SADI-S apresenta vantagens que estão centradas na perda de peso e no controle eficaz do diabetes tipo 2. Estudos recentes demonstram que tem melhores resultados em relação à perda ponderal quando comparada a outras técnicas como o RYGB, com diferença média de 10 kg, além de melhores resultados em relação à remissão do diabetes. 

Limitações e desafios técnicos na cirurgia bariátrica SADI-S 

Em relação às limitações, uma das barreiras é a dificuldade técnica, devido à dissecção duodenal, riscos intraoperatórios associados, e ao risco de desnutrição após a cirurgia. 

Além do risco de desnutrição, diarreia e esteatorreia são complicações possivelmente mais vistas nesse procedimento em relação a outras técnicas como RYGB.  

Técnica cirúrgica na cirurgia bariátrica SADI-S 

Após o acesso à cavidade abdominal, o passo inicial da SADI-S é a ressecção parcial do estômago por meio da gastrectomia vertical, preservando cerca de 6,0 cm do antro gástrico a partir do piloro. 

Em seguida, realiza-se a secção do duodeno há cerca de 3,0 cm do piloro. Um seguimento de intestino delgado, que será a alça comum, é definido há cerca de 250 a 300 cm da válvula ileocecal. Comprimento da alça comum de 200 cm foi associado a maiores taxas de desnutrição grave e, atualmente, não é mais usado. 

A alça ileal demarcada é então levada até o duodeno, onde será realizada a anastomose duodeno-ileal término-lateral. 

Resultados clínicos e metabólicos da SADI-S 

Um estudo recentemente publicado por Sanchex-Cordero S et al. avaliou resultados a longo prazo (5 anos) em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pela técnica SADI-S. Os resultados foram perda de peso significativa em 5 anos, com perda de peso total de 38,8% e IMC de 28.  

Em relação às doenças metabólicas prévias, foi encontrado resolução média em 80,5% dos casos de diabetes tipo 2, 71,1% para hipertensão arterial, 72,2% apneia do sono e 70,5% para dislipidemia.  

Seguimento pós-operatório e manejo das complicações 

O seguimento deve ser realizado com equipe multidisciplinar e vitalício, devido ao risco elevado de deficiências nutricionais e complicações metabólicas. Recomenda-se avaliações clínicas em 1, 3, 6, 12, 18 e 24 meses após a cirurgia e, após esse período, anualmente.  

Deficiências nutricionais mais comuns 

As principais deficiências nutricionais associadas a SADI-S são hipoalbuminemia, deficiência de ferro, hipocalcemia, deficiência de vitamina B12, e deficiências de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K).  

Propedêutica laboratorial 

Exames laboratoriais periódicos devem ser solicitados para identificar deficiências nutricionais. Além disso, a propedêutica também deve ser estendida para acompanhamento da evolução das doenças metabólicas prévias. 

Suplementação obrigatória em cirurgia bariátrica 

É necessário introduzir suplementação alimentar com polivitamínicos diários, ferro (30-60mg/dia), cálcio (1200-1500 mg/dia), vitamina D (2000-4000 UI/dia), vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e proteína (mínimo de 1,0-1,5 g/kg/dia). As doses devem ser ajustadas de acordo com exames laboratoriais e sintomas. 

Considerações finais 

A técnica SADI-S é aceita pela International Federation for the Surgery of Obesity (IFSO) e pela American Society for Metabolic and Bariatric Surgery (ASMBS) desde 2020. Os resultados vêm se mostrando promissores com perda de peso efetiva e resolução de doenças metabólicas.  

No entanto, seu uso ainda não é amplamente adotado pelos cirurgiões. Além disso, pelo fato de ainda ser uma técnica relativamente nova, as evidências disponíveis até o momento são limitadas e estudos prospectivos de longo prazo são necessários para estabelecer seu papel definitivo na cirurgia bariátrica. 

Autoria

Foto de Jader Ricco

Jader Ricco

Graduado pela UFMG ⦁ Membro do corpo clínico do Oncoclínicas Cancer Center  ⦁ Cirurgião Oncológico no Instituto de Oncologia da Santa Casa ⦁ Cirurgião Oncológico e preceptor de cirurgia Geral na Santa Casa de Belo Horizonte e Hospital Vila da Serra.

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Referências bibliográficas

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