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Cirurgia1 dezembro 2025

Reparo robótico vs. laparoscópico nas hérnias ventrais: o que diz a evidência?

Meta-análise compara reparo robótico e laparoscópico das hérnias ventrais e avalia desfechos como recorrência, reoperação e tempo de internação.

As hérnias ventrais, as quais incluem hérnias primárias e incisionais, apresentam alta taxa de incidência. Seu reparo pode ser feito via laparoscópica convencional ou através de cirurgia laparoscópica assistida por robótica. A laparoscopia de forma tradicional, embora eficaz, apresenta algumas desvantagens como curva de aprendizado estendida e limitação da manobrabilidade cirúrgica, ao passo que a robótica oferece vantagens como maior precisão e destreza e visualização tridimensional, reduzindo a inflamação, contribuindo para diminuição da dor e infecção em pós-operatório e acelerando o processo de recuperação.  

Embora a cirurgia robótica apresente essas vantagens, ainda há desafios a serem abordados como tempo operatório mais longo, custo elevado e preferência do operador.  

Uma revisão sistemática foi realizada e publicada na BMC de cirurgia em 2025, com o propósito de avaliar a eficácia e segurança das abordagens robóticas em comparação com as laparoscópicas no tratamento das hérnias ventrais.  

cirurgia robótica nas hérnias ventrais

Métodos 

Foi realizada uma revisão sistemática seguindo as diretrizes de Cochrane e a lista de Itens Preferenciais para Relato de Revisões Sistemáticas e Meta-Análises (PRISMA).  

A base de dados utilizada incluiu o PubMed, Web of Science, biblioteca Cochrane, Embase, Scopus e SpringerLink, com o período de recuperação desde o início do banco de dados até dezembro de 2024.  

Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados com pacientes com hernia abdominal, sendo considerado o grupo de tratamento os que foram submetidos a abordagem robótica e o grupo controle os que receberam abordagem laparoscópica tradicional.  

Os desfechos clínicos avaliados a fim de comparação entre os grupos foram infecção do sítio cirúrgico, re-hernioplastia, recorrência, tempo de internação hospitalar e tempo operatório. A meta análise foi realizada utilizando R (versão 4.23) e o pacote meta, utilizando intervalos de confiança (IC) de 95%. Para as variáveis dicotômicas como infecção de sítio cirúrgico, recorrência, re-hernioplastia foram utilizadas as razões de risco (RR) e para as variáveis contínuas (duração da internação hospitalar e tempo operatório) foram usadas as diferenças médias (DM).  

Resultados 

Após estabelecidos os critérios de inclusão e exclusão, um total de 5 estudos foram analisados, totalizando 237 pacientes, sendo 114 submetidos a laparoscopia tradicional e 123 submetidos a abordagem robótica. Estes estudos variaram um tempo de acompanhamento entre 1 e 24 meses.  

As análises revelaram que a abordagem robótica se comparada a laparoscópica, reduziu significativamente a necessidade de re-hernioplastia (RR geral = 0,17, IC 95%: 0,04-0,66; p = 0,011), o tempo operatório (DM = 69,45, IC 95%: 45,76, 93,14; p < 0,001) e o tempo de internação hospitalar (DM = 0,47, IC 95%: 0,18, 0,76).  

A menor da taxa de recorrência também pode ser atribuída ao uso de cirurgia robótica, mas a diferença estatística foi marginal (RR = 0,46, IC 95%: 0,19, 1,13). Quanto a ocorrência de infecção de sítio cirúrgico, não houve diferença entre os grupos (RR geral: 0,80, IC 95%: 0,12, 5,07, p = 0,809).  

Discussão 

A abordagem robótica permite menor dano tecidual e redução da resposta inflamatória, com melhor cicatrização da ferida, resultando em menor níveis de aderências com consequente redução do risco de recorrência, compatível com o resultado da meta-análise.  

Entretanto o acompanhamento desses pacientes por apenas de 24 meses, poderia não permitir a detecção de recorrências tardias, já que em um estudo recente de JAMA Surgery (Fry et al., 2024), por exemplo, a taxa de recorrência foi maior na abordagem robótica com um tempo de acompanhamento mais prolongado, de 5 anos.  

Em relação ao tempo de internação hospitalar, esta revisão apresentou menor tempo no grupo robótico, o que poderia ser explicado pela maior precisão no manejo dos tecidos com redução da resposta inflamatória, permitindo melhor recuperação. 

O tempo operatório na cirurgia robótica tende a ser maior se comparado a abordagem laparoscópica tradicional, devido a necessidade de calibração do sistema, ajuste da mesa cirúrgica e posicionamento dos braços robóticos, além do monitoramento prolongado pós cirúrgico.  

Tal fato contrasta com os achados nessa meta-análise que revelaram menor tempo cirúrgico no grupo submetido a abordagem robótica.  

Quanto a taxa de infecção em sítio cirúrgico, não houve diferença entre os grupos, provavelmente devido ao número reduzido da amostra.  

Entretanto, a cirurgia robótica supostamente reduziria as taxas de infecções por permitir maior precisão no fechamento facial, com menor exposição dos tecidos internos a bactérias e contaminante externos e redução do espaço morto, minimizando o acúmulo de fluidos. 

Conclusão 

O uso de abordagem cirúrgica robótica e laparoscópica tradicional nas hérnias ventrais são seguras e eficazes, com evidências nessa meta-análise de melhores desfechos em termos de recorrência e menores taxas de re-hernioplastia ao uso de abordagem robótica, entretanto mais estudos são necessários para validação desses resultados.  

Mensagem prática 

1 – A abordagem robótica e laparoscópica tradicional são ambas seguras e eficazes no tratamento das hérnias. 

2- Evidências recentes apontam que a abordagem robótica reduz a recorrência e as taxas de re-hernioplastia.

Autoria

Foto de Rodolfo Kalil de Novaes Santos

Rodolfo Kalil de Novaes Santos

Graduado em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), em Ipatinga (MG), no ano de 2017. Residência Médica em Cirurgia Geral no ano de 2020 pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG) e Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo no ano de 2024 pelo Hospital Governador Israel Pinheiro - IPSEMG. • Cirurgião geral  na Casa de Caridade Hospital São Paulo; Casa de Saúde Santa Lúcia e Prontocor. Docente da disciplina de anatomia II da Faculdade de Minas (FAMINAS) de Muriaé (MG).

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