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Cirurgia26 fevereiro 2025

Pré-reabilitação na capacidade funcional perioperatória em pacientes oncológicos

Estudo analisou os efeitos de programas de reabilitação perioperatória em relação à capacidade funcional
Por Jader Ricco

Cirurgias oncológicas são procedimentos complexos, com índices de morbidade e mortalidade consideráveis e que envolvem uma resposta endócrino-metabólica ao trauma intensa. Um dos mecanismos que podem melhorar a recuperação pós-operatória e reduzir a morbidade e mortalidade é aumentar a capacidade funcional do paciente. 

Nesse contexto, programas de reabilitação que se iniciam no pré-operatório e continuam no pós (perioperatório) vem sendo cada vez mais incentivados com o objetivo de melhorar os desfechos cirúrgicos.  

perioperatória

Metodologia 

Uma meta-análise europeia avaliou 27 ensaios clínicos randomizados, abrangendo 1889 pacientes portadores de câncer que seriam submetidos à cirurgia oncológica. O estudo analisou os efeitos de programas de reabilitação perioperatória em relação à capacidade funcional, que foi medida por dois parâmetros: distância máxima percorrida em 6 minutos (do inglês maximum distance covered in 6 min – 6MWD) e captação máxima ou pico de oxigênio (do inglês maximum or peak oxygen uptake – VO2max e VO2Peak). 

O estudo, conduzido por Laza-Cadigas R et. al. envolveu pacientes portadores de câncer de pulmão, colorretal, trato gastrointestinal, urológicos, próstata. O grupo controle foi constituído por pacientes que receberam tratamento padrão e, o grupo variável, por pacientes submetidos a programas de reabilitação perioperatória. Todos os programas de reabilitação envolveram exercícios físicos. Terapia nutricional foi concomitante em 10 ensaios avaliados e suporte psicológico em 9. 

Fatores observados 

Os dados do estudo europeu revelou melhores resultados nos pacientes submetidos a programas de reabilitação nos dois parâmetros medidos: distância máxima percorrida em 6 minutos (g = 0,273, IC de 95% 0,174 a 0,371, Z = 5,406, p < 0,001) e VO2Peak (g = 0,615, IC de 95% 0,243 a 0,987, Z = 3,240, p = 0,001). 

Entretanto, algumas considerações são necessárias. O efeito da 6MWD em comparação com o grupo controle foi discreto, referido no estudo como “pequenas melhorias” no grupo 6MWD. Já em relação ao efeito  VO2Peak, apesar dos efeitos também serem melhores no grupo reabilitação, houve grande variação entre os ensaios analisados e, segundo Laza-Cadigas R et al. não se pode afirmar que a reabilitação melhora o VO2Peak em 100% dos casos. 

Outro ponto importante é que os ensaios avaliados foram divergentes em vários aspectos, como duração dos programas de reabilitação, tipos (unimodal ou multimodal) e protocolos de treinamento para exercícios físicos. Além disso, alguns estudos envolveram pacientes que receberam quimio e radioterapia neoadjuvantes, o que também pode ter impactado a reabilitação perioperatória. 

A reabilitação perioperatória pode melhorar a capacidade funcional pré-operatória dos pacientes oncológicos. Entretanto, não existe um padrão específico e aplicável a todos da mesma forma. As intervenções devem ser adaptadas às necessidades individuais dos pacientes. 

Aceleração da recuperação após o trauma 

Atualmente vários estudos se dedicam a desenvolver estratégias para melhorar a recuperação pós-operatória. Assim, dois grandes programas de aceleração da recuperação aplicados no Brasil são o Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) e Aceleração da Recuperação Total Pós-operatória (ACERTO). A melhoria da capacidade funcional por meio de programas de reabilitação é preconizada por esses estudos e deve ser encorajada.  

Nas doenças oncológicas, esses programas devem ser direcionados ao tipo de câncer e individualizados para os pacientes. Reabilitação perioperatória para pacientes portadores de câncer de pulmão não, necessariamente, será a mesma para pacientes portadores de câncer gástrico. O importante é que programas direcionados são promissores em acelerar a recuperação pós-operatória. 

 

Autoria

Foto de Jader Ricco

Jader Ricco

Graduado pela UFMG ⦁ Membro do corpo clínico do Oncoclínicas Cancer Center  ⦁ Cirurgião Oncológico no Instituto de Oncologia da Santa Casa ⦁ Cirurgião Oncológico e preceptor de cirurgia Geral na Santa Casa de Belo Horizonte e Hospital Vila da Serra.

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