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Cirurgia29 agosto 2025

Pneumonia pós-gastrectomia: fatores de risco e prevenção no câncer gástrico

Identificar fatores de risco e aplicar protocolos como ERAS reduz a pneumonia após gastrectomia no câncer gástrico.
Por Jader Ricco

Uma das principais complicações pós-operatórias após gastrectomia é a pneumonia, com incidência variando de 2,2% a 26%. Esse evento acarreta em maiores períodos de internação, maior mortalidade, que pode corresponder em até 30%, além de aumento dos custos hospitalares. 

O fato de a gastrectomia ser o único meio potencialmente curativo para câncer gástrico avançado (tumores com estadiamento igual ou maior que T2) estudos direcionados a fatores de risco específicos desse tipo de cirurgia é de fundamental importância clínica. 

Veja também: Tratamento de pneumonia: terapias adjuvantes

pneumonia pós-gastrectomia

Métodos 

Meta-análise chinesa publicada em 2025 avaliou 27 artigos científicos relacionados a complicações cirúrgicas em pacientes com câncer gástrico submetidos a gastrectomia, envolvendo um total de 20.840 pacientes. Nesse levantamento, 23 artigos eram estudos de coorte retrospectivos, 3 relatos de caso e 1 estudo de coorte prospectivo. 

Resultados e discussão 

A prevalência de pneumonia encontrada na meta-análise citada foi de 11,0% (IC 95% = 8,0% a 15,0%). Os autores identificaram quinze fatores de risco estatisticamente significativos associados tanto a características dos pacientes quanto do procedimento. 

Dentre os fatores inerentes ao paciente, foram identificados tabagismo (OR 2,71, IC 95% = 2,09-3,50, I2 = 26%), diabetes mellitus (OR 4,58, IC 95% = 1,84-11,38, I2 = 96%), sexo masculino (OR 3,56, IC 95% = 1,50-8,42, I2 = 0%), DPOC (OR 4,72, IC 95% = 3,80–5,86, I2 = 0%), função respiratória afetada (OR 2,72, IC 95% = 1,58–4,69,I2 = 92%) e hipertensão (OR 2,21, IC 95% = 1,29–3,79, I2 = 0%). 

Os fatores relacionados propriamente à cirurgia corresponderam a retenção prolongada de sonda nasogástrica no pós-operatório (OR 2,25, IC 95% = 1,36-3,72, I2 = 63%); sangramento intraoperatório ≥ 200 ml (OR 2,21, IC 95% = 1,15-4,24, I2 = 79%); extensão da gastrectomia, sendo a gastrectomia total com maiores riscos em relação a gastrectomia subtotal (OR 2,59, IC 95% = 1,83-3,66, I2 = 0%); extensão da linfadenectomia, sendo a D2 com maiores índices de pneumonia encontrados (OR 4,14, IC 95% = 2,29–7,49, I2 = 0%); e transfusão sanguínea perioperatória (OR 4,21, IC 95% = 2,51–7,06, I2 = 90%). 

Os autores também identificaram fatores de risco considerados moderados que foram a duração excessiva da cirurgia (OR 1,51, IC 95% = 1,25–1,83, I2 = 90%), idade avançada (OR 1,91, IC 95% = 1,42–2,58, I2 = 94%), estado nutricional (OR 2,62, IC 95% = 1,55–4,44, I2 = 71%) e histórico de doença pulmonar (OR 1,61, IC 95% = 1,17–2,21,2 = 79%). 

Diante de tais resultados, observa-se que alguns fatores de risco são imutáveis, como o sexo masculino, que também é um fator de risco para o câncer gástrico. A extensão da gastrectomia (total) e linfadenectomia (D2) apesar de terem sido classificadas como fatores de risco, não correspondem a alternativas a serem modificadas, uma vez que a gastrectomia total, quando indicada, não pode ser substituída pela gastrectomia subtotal e, a linfadenectomia a D2, já é comprovadamente superior em termos oncológicos do que linfadenectomias inferiores (D1 ou D1+) 

Outros fatores como uso prolongado de sonda nasogástrica, sangramento, estado nutricional e tempo de cirurgia podem e devem ser modificados. Preparo pré-operatório adequado, com terapia nutricional, ajudam a reduzir as complicações relacionadas ao estado nutricional. Equipe com expertise em gastrectomia tem menores taxas de sangramento e menor tempo cirúrgico, com eficácia mantida. Aplicações de protocolos já bem estabelecidos como o ERAS promovem retirada mais precoce de sondas nasogástricas. 

Além disso, outros fatores como controle adequado da dor, fisioterapia respiratória e motora, e preparo perioperatório adequado também auxiliam na redução dos índices de pneumonia 

O que podemos levar para casa? 

Dado à representatividade da pneumonia nas gastrectomias, o conhecimento dos fatores de risco necessários para reduzir essa complicação são cruciais para o sucesso do tratamento cirúrgico do câncer gástrico.  

Dentre os fatores modificáveis e as medidas necessárias para isso, sem dúvida o preparo pré-operatório e aplicação de protocolos como ERAS são de grande valia na redução da pneumonia, pois recomendam medidas que aceleram a recuperação pós-operatória.  

Além disso, a experiência da equipe cirúrgica, especialmente com cirurgiões oncológicos bem treinados, reduz complicações diretamente associadas ao procedimento como sangramentos.

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Referências bibliográficas

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