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Cirurgia22 agosto 2025

Perda sanguínea intraoperatória prevê recidiva local em câncer de cólon?

Perda sanguínea intraoperatória associa-se à maior recidiva local em câncer de cólon, reforçando a importância do controle cirúrgico.
Por Felipe Victer

O câncer de cólon apresenta uma alta frequência e seu tratamento é baseado em ressecções, complementado ou não com terapia adjuvante. Sabemos de estudos anteriores que uma perda elevada de sangue durante a cirurgia, estaria associada a uma menor sobrevida global e tempo livre de doença.  

Manejar os aspectos cirúrgicos é fundamental para um melhor desfecho dos pacientes, e tentar quantificar o que cada elemento pode representar para o paciente é importante para proporcionar outros benefícios. É justamente isso que o trabalho publicado na World Journal of Surgery tem por objetivoquantificar se a perda sanguínea durante a cirurgia teria algum impacto na recorrência de doença. 

câncer de cólon

Materias e métodos 

Foram incluídos pacientes de 15 instituições japonesas, submetidos a colectomia com intuito curativo, cuja margem de ressecção apresentavam-se microscopicamente livres. Excluídos pacientes com doença disseminada ou aqueles submetidos a cirurgia de resgate, no período de janeiro de 2017 a dezembro de 2019.  

A perda sanguínea estimada foi calculada pelo volume de líquido aspirado e também pela diferença de peso entre as compressas secas e molhadas de sangue. Para fins de quantificação foi estipulado que 1g seria equivalente a 1 mL de perda sanguínea. Além disso, o volume perdido foi relacionado ao peso de cada paciente, visto que um mesmo volume perdido pode impactar de maneira distinta em pacientes com pesos diferentes.  

Resultados  

Ao total foram incluídos 3200 pacientes no estudo e destes 459 (14,3%) apresentaram recorrência, sendo 411 recidivas a distância, 34 com recidiva local e 14 com recidiva local e a distância. Para uma análise da recidiva local foram agrupados os pacientes com recidiva local e a distância e criado três grupos de análise: sem recidiva, recidiva local e recidiva à distância. 

Os pacientes com recidiva local apresentavam uma maior taxa de perda de sangue, quando comparado com aqueles com recidiva à distância ou sem recidiva (p<0,001). Assim como os pacientes com recidiva local apresentaram um maior índice de tumores T4. 

Curiosamente a proteína C reativa e a razão neutrófilos/linfócitos também eram maiores no grupo recidiva local que nos outros dois grupos. Os pacientes com recorrência a distância apresentaram uma maior taxa de uso de terapia adjuvante quando comparado aos pacientes sem recidiva ou com recidiva local (p<0,001) 

Na análise multivariada identificou que a taxa de perda sanguínea como fator independente para a recorrência local (p=0,025). 

Discussão 

Esta revisão buscou identificar fatores relacionados à recidiva de doença de tumores do cólon retais. Enquanto a metástase a distância foi mais relacionada a fatores do próprio tumor, a recidiva local foi mais relacionada à taxa de perda sanguínea e a tumores pT4. Assim como desfechos de recidiva, a perda de sangue elevada também esteve relacionada a um aumento do tempo de recuperação pós-operatória e complicações.  

Diversos fatores podem tentar explicar esta relação de perda sanguínea e aumento da taxa de recidiva local. Como também está relacionado a tumores maiores, a dificuldade técnica relacionada a retirada do tumor pode levar a maiores sangramentos.  

Tumores maiores, possuem um maior número de células tumorais circulantes e assim de alguma forma o sangue que cai na cavidade poderia proporcionar que estas células fixem no local gerando uma recidiva local. Uma outra teoria que o sangramento e dificuldade local, poderia gerar uma área de hipoxemia, e com isto interferir negativamente na defesa nativa antitumoral.  

Em conclusão, esse estudo foi capaz de demonstrar a associação de sangramento durante a cirurgia com taxa de recidiva local, o que sugere que os cirurgiões devem focar, ainda mais, em diminuir a taxa de sangramento operatório.  

Para levar para casa   

Ver sangue no campo operatório não é desejável, porém esse estudo recomenda ser ainda mais meticuloso nas dissecções. Não explorado no texto, no entanto até mesmo o sangue de retorno da peça deve ser controlado. 

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Referências bibliográficas

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