Em termos gerais, os adenocarcinomas de pâncreas representam um tipo de tumor maligno com prognóstico muito ruim. A maioria deles acomete a cabeça e processo uncinado.
Cerca de 30% dos adenocarcinomas de pâncreas ocorrem no corpo e cauda, referidos como adenocarcinomas do lado esquerdo do pâncreas, e esses têm prognóstico ainda pior, dado aos estágios avançados da doença no momento do diagnóstico. Isso porque a icterícia, comum nos tumores de cabeça e processo uncinado, não é frequente nesses tumores ou só aparece em estágios muito mais avançados de doença.
Atualmente especialistas na área estão investigando os benefícios da neoadjuvância para adenocarcinoma de corpo e cauda do pâncreas. Estudo recentemente abordado pela European Society for Medical Oncology (ESMO) avaliou o impacto da neoadjuvância em pacientes com adenocarcinoma ressecável do lado esquerdo do pâncreas.
Métodos
Estudo recentemente publicado com participação da ESMO, avaliou 2282 pacientes com adenocarcinoma de corpo e cauda de pâncreas (denominado lado esquerdo do pâncreas) ressecável.
O desfecho primário foi a sobrevida global comparada em pacientes que receberam neoadjuvância seguida por cirurgia e os que foram submetidos a cirurgia direta (up front). Trata-se de um estudo retrospectivo multicêntrico realizado em 18 países de 4 continentes. Os pacientes foram avaliados no período entre 2013-2019.
Resultados
Dos 2282 pacientes que participaram do estudo, 290 (13%) receberam terapia neoadjuvante (quimioterapia ou quimio + radioterapia). A média de idade desses pacientes foi menor do que os que receberam cirurgia up front (68 vs 70 anos, p=0,0002).
Em geral, as características dos tumores no grupo neoadjuvância eram menos favoráveis, com tamanho maior (30mm vs 25mm, p< 0,0001), maior acometimento da artéria (52% versus 28%; p<0,0001) e veia esplênica (58% versus 38%; p<0,0001), envolvimento multivisceral (21% versus 9%; p<0,0001), mais metástase linfonodal (cN1-2: 17% versus 12%; p=0,026) e níveis mais elevados do marcador Ca19.9 (103 U/ml vs 54 U/ml, p=0,0005).
A análise do desfecho primário revelou melhor sobrevida global nos pacientes submetidos a neoadjuvância em relação aos pacientes submetidos a cirurgia up front (mediana de 59 meses vs 38 meses). O estudo também avaliou as taxas de sobrevida em 1, 3 e 5 anos, com melhores resultados nos pacientes submetidos a neoadjuvância (92%, 62% e 42% vs 86%, 51% e 36%, p=0,009). Além disso, o risco de recidiva de doença foi menor no grupo neoadjuvância em relação ao grupo cirurgia up front (HR ajustado 0,83, IC 95% 0,70% a 0,99%).
Melhores resultados foram mantidos nos pacientes submetidos a neoadjuvância após análises de regressão Cox.
A redução tumoral nos pacientes que receberam neoadjuvância foi observada em 34%, tanto em relação à resposta radiológica quanto na normalização dos níveis de Ca 19.9.
Em relação ao tipo de cirurgia, os pacientes submetidos a neoadjuvância apresentaram maior prevalência de cirurgia aberta em relação aos pacientes submetidos a cirurgia up front (78% versus 63%; P < 0,0001), além de maiores taxas de ressecção de múltiplos órgãos (36% versus 21%; P < 0,0001).
Além disso, o grupo neoadjuvância apresentou tumor com menores tamanhos à cirurgia (26mm vs 30mm, p=0,0002), menor acometimento linfonodal e maiores taxas de ressecção R0 (84% versus 73%; P < 0,0001).
Fatores como envolvimento dos vasos esplênicos, acometimento de órgãos vizinhos por contiguidade e envolvimento do retroperitônio não tiveram associação com a sobrevida global ou com o efeito da terapia neoadjuvante
Mensagem prática
O presente estudo revela resultados melhores e com diferença estatística significativa nos pacientes submetidos à terapia neoadjuvante seguida por cirurgia em relação aos pacientes submetidos à cirurgia up front.
Esses resultados indicam melhores chances de resposta positiva ao tratamento e melhor sobrevida global. Entretanto, o grande desafio nos pacientes com adenocarcinoma de pâncreas do lado esquerdo continua sendo o diagnóstico precoce ou em fases passíveis de tratamento curativo.
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