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Cirurgia23 julho 2025

Neoadjuvância no câncer de pâncreas ressecável esquerdo

Neoadjuvância melhora sobrevida em câncer de pâncreas esquerdo ressecável, segundo estudo com 2.282 pacientes.
Por Jader Ricco

Em termos gerais, os adenocarcinomas de pâncreas representam um tipo de tumor maligno com prognóstico muito ruim. A maioria deles acomete a cabeça e processo uncinado.  

Cerca de 30% dos adenocarcinomas de pâncreas ocorrem no corpo e cauda, referidos como adenocarcinomas do lado esquerdo do pâncreas, e esses têm prognóstico ainda pior, dado aos estágios avançados da doença no momento do diagnóstico. Isso porque a icterícia, comum nos tumores de cabeça e processo uncinado, não é frequente nesses tumores ou só aparece em estágios muito mais avançados de doença. 

Atualmente especialistas na área estão investigando os benefícios da neoadjuvância para adenocarcinoma de corpo e cauda do pâncreas. Estudo recentemente abordado pela European Society for Medical Oncology (ESMO) avaliou o impacto da neoadjuvância em pacientes com adenocarcinoma ressecável do lado esquerdo do pâncreas. 

câncer de pâncreas

Métodos 

Estudo recentemente publicado com participação da ESMO, avaliou 2282 pacientes com adenocarcinoma de corpo e cauda de pâncreas (denominado lado esquerdo do pâncreas) ressecável.  

O desfecho primário foi a sobrevida global comparada em pacientes que receberam neoadjuvância seguida por cirurgia e os que foram submetidos a cirurgia direta (up front). Trata-se de um estudo retrospectivo multicêntrico realizado em 18 países de 4 continentes. Os pacientes foram avaliados no período entre 2013-2019. 

Resultados  

Dos 2282 pacientes que participaram do estudo, 290 (13%) receberam terapia neoadjuvante (quimioterapia ou quimio + radioterapia). A média de idade desses pacientes foi menor do que os que receberam cirurgia up front (68 vs 70 anos, p=0,0002).  

Em geral, as características dos tumores no grupo neoadjuvância eram menos favoráveis, com tamanho maior (30mm vs 25mm, p< 0,0001), maior acometimento da artéria (52% versus 28%; p<0,0001) e veia esplênica (58% versus 38%; p<0,0001), envolvimento multivisceral (21% versus 9%; p<0,0001), mais metástase linfonodal (cN1-2: 17% versus 12%; p=0,026) e níveis mais elevados do marcador Ca19.9 (103 U/ml vs 54 U/ml, p=0,0005).  

A análise do desfecho primário revelou melhor sobrevida global nos pacientes submetidos a neoadjuvância em relação aos pacientes submetidos a cirurgia up front (mediana de 59 meses vs 38 meses). O estudo também avaliou as taxas de sobrevida em 1, 3 e 5 anos, com melhores resultados nos pacientes submetidos a neoadjuvância (92%, 62% e 42% vs 86%, 51% e 36%, p=0,009). Além disso, o risco de recidiva de doença foi menor no grupo neoadjuvância em relação ao grupo cirurgia up front (HR ajustado 0,83, IC 95% 0,70% a 0,99%).  

Melhores resultados foram mantidos nos pacientes submetidos a neoadjuvância após análises de regressão Cox.  

A redução tumoral nos pacientes que receberam neoadjuvância foi observada em 34%, tanto em relação à resposta radiológica quanto na normalização dos níveis de Ca 19.9. 

Em relação ao tipo de cirurgia, os pacientes submetidos a neoadjuvância apresentaram maior prevalência de cirurgia aberta em relação aos pacientes submetidos a cirurgia up front (78% versus 63%; P < 0,0001), além de maiores taxas de ressecção de múltiplos órgãos (36% versus 21%; P < 0,0001).  

Além disso, o grupo neoadjuvância apresentou tumor com menores tamanhos à cirurgia (26mm vs 30mm, p=0,0002), menor acometimento linfonodal e maiores taxas de ressecção R0 (84% versus 73%; P < 0,0001). 

Fatores como envolvimento dos vasos esplênicos, acometimento de órgãos vizinhos por contiguidade e envolvimento do retroperitônio não tiveram associação com a sobrevida global ou com o efeito da terapia neoadjuvante 

Mensagem prática 

O presente estudo revela resultados melhores e com diferença estatística significativa nos pacientes submetidos à terapia neoadjuvante seguida por cirurgia em relação aos pacientes submetidos à cirurgia up front 

Esses resultados indicam melhores chances de resposta positiva ao tratamento e melhor sobrevida global. Entretanto, o grande desafio nos pacientes com adenocarcinoma de pâncreas do lado esquerdo continua sendo o diagnóstico precoce ou em fases passíveis de tratamento curativo. 

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Referências bibliográficas

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