O HPTS atinge aproximadamente 44% dos pacientes em diálise por Insuficiência Renal Crônica (IRC), apresentando prejuízo na qualidade de vida além de aumento do risco de doenças cardiovasculares e de óbito.
A PTx, seja a paratireoidectomia total com autoenxerto imediato heterotópico (PTx-AG) ou a paratireoidectomia sub-total (S-PTx), é uma modalidade de tratamento indicada em até 30% dos pacientes com HPTS e reservada aos casos de falha no tratamento clínico inicial, o qual consiste em diálise associada à dieta com restrição proteica e uso de medicações para controle metabólico como análogos de vitamina D e calciomiméticos (para diminuição da secreção de PTH) e sevelamer (para redução de absorção de fósforo e da hiperfosfatemia).
Mesmo após sucesso da cirurgia de PTx podem ser necessárias diferentes medicações como o sevelamer, paricalcitol, calcitriol e reposição de cálcio até o adequado controle metabólico do paciente e aproximadamente 10 a 30% dos pacientes podem apresentar recorrência do HPTS após a PTx e, em outro extremo, alguns podem evoluir com hipoparatireoidismo podendo haver necessidade de uso de diferentes medicações para manejo metabólico assim como novas cirurgias na recorrência do HPTS conferindo ao tratamento do HPTS diferentes componentes de custo pré-operatório, da cirurgia em si e no manejo pós-operatório desses pacientes.
Outra medicação utilizada no contexto de persistência do HPTS é o Cinacalcet, agonista alostérico de receptores sensíveis a cálcio, reduzindo liberação do hormônio paratireoideano (PTH) e consequente normalização de cálcio e fósforo séricos. Essa é uma medicação de alto custo portanto com limitação econômica em países em desenvolvimento.
O autor do estudo propõe avaliar os custos das medicações antes e após o tratamento do HPTS com PTx.
Materiais e métodos
Estudo retrospectivo realizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, de 2012 a 2015 em paciente submetidos a PTx por HPTS por DRC.
Foram avaliadas as características epidemiológicas, laboratoriais (perfil de cálcio e PTH), técnica cirúrgica utilizada e os custos das medicações referentes ao manejo do metabolismo do PTH e fósforo (cinacalcet, paricalcitol, calcitriol, sevelamer, cálcio e vitamina D) utilizadas no período pré-operatório e até 18 meses após a cirurgia de PTx. Os valores das medicações foram cotados no site da Anvisa.
Resultados e discussão
O estudo contou com 89 pacientes analisados, a mediana de idade de 47 anos (16-68), cálcio médio pré-operatório 9,8mg/dL(mínimo 7,1 e máximo 12). PTH médio 1552 pg/mL(436-7657), fósforo 5,3mg/dL(2,7-10,2).
Antes da cirurgia a mediana de custo mensal foi R$645,00(429,60-860,10). Após a cirurgia, o custo mais que dobrou no primeiro mês (mediana R$1429,00) e no 3° e 6° meses os custos foram semelhantes ao período pré-operatório. Após o 12° mês o custo (mediana R$305,40) apresentou queda sustentada até o 18º quando comparada com valor pré-operatório (p=0,0011 e p=0,0015). A mediana de custo por paciente no período foi R$8.375,00(474,00-41.703,00). Não houve diferença de custo entre os grupos PTX-AG vs S-PTx.
A PTx nesse estudo mostrou uma diminuição do custo de medicações para o período analisado de 18 meses nos pacientes com HPTS dialíticos, reforçando o papel da cirurgia no tratamento desses pacientes do ponto de vista econômico.
Discussão e impacto da prática clínica
O estudo realizado em centro de excelência experiente no manejo desses pacientes contou com um desenho randomizado que analisou de forma detalhada os custos das medicações e demostrou uma redução desses custos após a PTX, algo bastante importante no contexto de otimização de recursos financeiros vivenciado pelos sistemas de saúde público e privado.
Mensagem prática
O cuidado multidisciplinar do paciente com HPTS por IRC deve contar com a especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço para oferecer a PTX, procedimento já consagrado em literatura com benefícios de qualidade de vida e aumento de sobrevida e com demonstrada diminuição de custos em relação à terapia medicamentosa.
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