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Cirurgia14 novembro 2025

Força ou resistência: qual treino mantém melhor o peso após bariátrica?

Estudo compara exercícios de força e resistência na manutenção do peso e parâmetros metabólicos após cirurgia bariátrica. Confira os achados.

A obesidade é uma doença crônica, multifatorial e de caráter recidivante. Mais importante do que a perda de peso no início do tratamento, é a manutenção do peso perdido, seja via tratamento farmacológico, seja via tratamento cirúrgico com a cirurgia bariátrica. 

Baseado na relevância do tema, recentemente foi publicado um artigo que visou avaliar a comparação de exercícios de força (EF) versus exercícios de resistência (ER) na manutenção de peso perdido e outros fatores metabólicos em pacientes pós bariátrica. 

Vamos ver o que artigo nos trouxe de informações: 

Dado que o sobrepeso e a obesidade são problemas de saúde a nível mundial, é importante que essas condições sejam reconhecidas e que sejam tratadas da maneira mais adequada de acordo com o perfil de cada paciente. 

O tratamento cirúrgico com cirurgia bariátrica do tipo by-pass com Y de Roux é uma modalidade bem conhecida no tratamento da obesidade bem como auxilia na melhora de algumas comorbidades a exemplo do diabetes mellitus tipo 2 (DM2). 

Apesar da superioridade do tratamento cirúrgico em comparação com o tratamento farmacológico, ainda não há evidências sobre qual o melhor tipo de exercício físico para auxiliar na manutenção do peso perdido. 

Por tal razão, o presente estudo foi um ensaio clínico randomizado que visou comparar os efeitos pós operatórios de exercícios de força (EF) com exercícios de resistência (ER) em parâmetros glicêmicos, antropométricos, lipídicos, inflamatórios e de qualidade de vida em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica. 

treino após cirurgia bariátrica

Metodologia: 

O estudo transcorreu no período entre abril de 2012 a abril de 2019. 

Foi um estudo monocêntrico, controlado, randomizado, aberto e de grupos paralelos que avaliou a intervenção do tipos de exercício no pós operatório de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.  

Depois da cirurgia, os pacientes foram alocados em grupo controle x grupos intervenção (grupo de EF e grupo de ER), que se iniciou após 28 dias da cirurgia bariátrica. Foram então avaliados os desfechos em parâmetros glicêmicos, lipídicos, antropométricos, inflamatórios e de qualidade de vida após 6 meses. 

Os critérios de inclusão foram: idade entre 18-60 anos, IMC ≥ 40 kg/m² e < 60 kg/m² ou IMC> 35 kg/m² com as comorbidades relacionadas a obesidade. 

Os critérios de exclusão foram: presença de qualquer doença maligna ou inflamatória crônica, DM1, contraindicações para a prática de exercício físico, abuso de álcool ou qualquer outra droga, cirurgia bariátrica prévia, disfunção tireoidiana não tratada, gestantes e lactantes. 

Os ER foram feitos em esteiras e/ou bicicletas em 2 dias não consecutivos da semana com duração total de 65 minutos além do aquecimento de 10 minutos, sendo ajustados a cada 8 semanas. Já os EF foram realizados em máquinas de treinamento com 3 séries por grupo muscular, também em 2 dias não consecutivos da semana com duração total de 65 minutos além do aquecimento de 10 minutos, também ajustados a cada 8 semanas. 

Ambos os grupos de intervenção deveriam manter treinos de moderada intensidade em pelo menos 150 minutos semanais. 

Já o grupo controle foi aconselhado a realizar qualquer tipo de exercício  2x na semana com duração de também 65 minutos. 

Além disso, ambos os grupos foram aconselhados a realizar dietas hipocalóricas (1200kcal por dia para mulheres e 1400kcal para homens), seguindo o guideline europeu para manejo de obesidade em adultos. 

Resultados: 

Os desfechos analisados foram: o desfecho primário glicêmico  de Teste de tolerância oral a glicose (TTGO) em jejum e 2h pós, no início do estudo, 3 e 6 meses após o início do mesmo. 

Nos mesmos intervalos de tempo, foram vistos: dados antropométricos via bioimpedância (Ex: peso, IMC, relação cintura-quadril, percentual de gordura e de massa magra), glicemia de jejum, Hba1c, resistência insulínica via índice HOMA-IR, Perfil lipídico completo, dosagem de IL-6 e PCR, questionários nutricionais e de qualidade de vida. 

Dos 93 pacientes do estudo, 89 completaram o estudo, sendo 30 para o grupo controle, 29 para o grupo de EF e 30 para o ER. 

A perda de peso (-2,5kg) , bem como redução do IMC(-0,82kg/m²) foram significativamente maiores no grupo de intervenção quando comparados ao grupo controle, porém sem diferença significativa dentro dos grupos de ER e EF. Não houve diferença na relação cintura-quadril entre nos grupos controle e os 2 grupos de intervenção. 

Em relação à massa de gordura, houve redução maior nos grupos de intervenção (-3kg), porém sem diferença entre eles. 

Para o desfecho primário, houve redução na concentração plasmática de glicose no TTGO de 8,3 para 4,8 mmol/L, porém foi após a cirurgia e antes da intervenção, também com diferença irrisória entre os grupos de intervenção. Também houve pouca diferença entre os níveis de insulina, Hba1c, índice HOMA-IR entre os grupos intervenção e controle. Dos 26 pacientes diagnosticados com diabetes, 10 entraram em remissão e 5 evoluíram para pré-diabetes. 

Em relação aos parâmetros inflamatórios e lipídicos, também não houve diferenças importantes entre os grupos intervenção e controle.  

Por fim, em relação aos questionários referentes à melhora de qualidade de vida, todos os grupos apresentaram melhora, sem distinção entre os grupos controle e intervenção. 

Discussão: 

Esse foi o primeiro estudo controlado randomizado que comparou atividade física de força e resistência versus atividade física livre em parâmetros antropométricos e metabólicos em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica por by-pass. 

Foi observado que a atividade física em si foi capaz de reduzir parâmetros, porém sem distinção entre o tipo de atividade física. 

Algumas das diferenças observadas podem ter sido decorrentes do fato de o efeito de perda de peso ser mais significativo após 6 meses de cirurgia e não dos tipos de atividade física em si. 

Algumas limitações do estudo poderiam auxiliar nessa melhor avaliação tais como: análise dos parâmetros de interesse com tempo maior que 6 meses de pós operatório, escolha de outro parâmetro glicêmico com desfecho primário, visto que o TTGO pode ser ruim em pacientes com Síndrome de Dumping e, por fim, a preferência pelo tipo de atividade física não foi levada em consideração, o que prejudicou uma análise individual do metabolismo de cada paciente. 

Conclusão e mensagem prática: 

O presente estudo avaliou que um programa estruturado de atividade física é capaz de promover perda ponderal, mais às custas de massa de gordura em pacientes pós bariátrica. No entanto, efeitos adicionais nos parâmetros glicêmicos, lipídicos, inflamatórios e de qualidade de vida não foram observados. Além disso, não foram observadas tantas diferenças entre as modalidades de exercício (força x resistência). 

Tal fato nos mostra que são necessários mais estudos, principalmente com maior tempo de duração e com início após um tempo maior de pós operatório da cirurgia para poder validar outros possíveis benefícios de diferentes modalidades de atividade física em parâmetros antropométricos e metabólicos de pacientes pós bariátrica. 

Autoria

Foto de Juliane Braziliano

Juliane Braziliano

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Editora-médica de Endocrinologia do Portal Afya.

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Referências bibliográficas

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