A apendicite consiste em uma patologia de alta prevalência, tendo como tratamento de primeira linha a cirurgia, tanto aberta como laparoscópica. Apesar da necessidade do tratamento, esse pode ocasionar complicações, sendo a infecção de sítio cirúrgico a principal delas.
Alguns fatores podem aumentar o risco dessa complicação, dentre eles a obesidade, com a espessura de tecido adiposo subcutâneo parecendo influenciar na ocorrência dessa complicação.
Uma meta-análise e revisão sistemática, publicada no ano de 2025, na revista BMC Surgery, avaliou a incidência de infecção de sítio cirúrgico pós-apendicectomia, aberta ou laparoscópica e a sua relação com a espessura do tecido adiposo subcutâneo.

Métodos
A base de dados realizada nesse estudo incluiu Pubmed, Embase, Scopus, Google Scholar e Web of Science, com pesquisa de estudos, de 2000 a 2024, associando infecção cirúrgica pós-apendicectomia à espessura e tecido adiposo.
A avaliação da gordura subcutânea foi definida avaliando a média de espessura da prega cutânea tricipital. Ao todo, 9 estudos foram incluídos nessa análise, sendo utilizado o software estatístico STATA versão 17 para a análise dos dados, estimando a incidência de infecção do sítio cirúrgico após apendicectomia com um intervalo de confiança (IC) de 95%.
A heterogeneidade entre os estudos foi controlada utilzando a metarregressão e a análise de subgrupos avaliou o desfecho com base no tipo de cirurgia, aberta ou videolaparoscópica.
Resultados
Essa meta-análise analisou 9 estudos coorte, totalizando 4439 pacientes submetidos a apendicectomia, incluindo apendicite complicada e sem complicações. A maioria da amostra era composta por homens (2615 pacientes, representando 58.9% da amostra), a idade média foi de 37,23 anos, o IMC médio de 23,78 (±1.3 kg/m2) e média de duração da cirurgia de 66,9 minutos (±15.4 min). A incidência de infecção de sítio cirúrgico após apendicectomia foi de 17,2% (IC 95%: 11,5, 23, I² = 95,6), sendo superior na cirurgia aberta em relação a laparoscópica (24,8% e 10%, respectivamente).
Na avaliação da espessura do tecido adiposo subcutêno, foi observado uma média da amostra de 18,11 mm (± 3,4 mm). A espessura média em pacientes com e sem infecção de sítio cirúrgico, foi de 23,04 mm e 15,98 mm respectivamente (IC 95%: 15,4, 30,53; I²: 85,1 e IC: 9,3, 22,6; I²: 97,1%; com valor de p: 0,001). O estudo mostrou, portanto, uma espessura 7 mm maior no grupo de pacientes que apresentou infecção cirúrgica (IC 95%: 5,07, 8,94; I²: 99,2%; p: 0,001).
A análise global dos 9 estudos mostrou que o aumento da espessura de tecido adiposo aumentou o risco de infecção de sítio cirúrgico (OR: 1,32, IC 95%: 1,12, 1,52, I²: 82,4%, p: 0,001)
Na análise de subgrupos foi verificado que a espessura adiposa em pacientes submetidos a cirurgia aberta foi relacionada a um risco aumentado infecção cirúrgica (OR: 1,82, IC 95%: 1,27, 2,38, I²: 84,3%, p: 0,001), enquanto na laparoscopia não houve essa associação (OR: 1,09, IC: 0,90, 1,28, I²: 53,1%, p: 0,001).
Discussão
No presente estudo foi verificada maior incidência de infecção de sítio cirúrgico em pacientes submetidos a cirurgia aberta, com um risco cerca de 2,5 vezes maior do que em pacientes submetidos a laparoscopia, sendo compatível com a maioria dos estudos sobre o tema, que também mostram uma associação da cirurgia aberta com aumento do risco de infecção.
Já quanto a relação entre tecido adiposo com a ocorrência de infecção, nesse estudo foi verificado um aumento de 30% do risco para cada 1 mm de aumento da espessura da prega cutânea, sendo que a espessura da prega cutânea média era maior nos pacientes que desenvolverem essa complicação.
Essa associação entre obesidade e ocorrência de complicação infecciosa pós apendicectomia está presente na literatura sobre o tema, e poderia ser explicada pela obesidade gerar redução da função imunológica e menor oxigenação da ferida operatória, dificultando a penetração do antibiótico pós-operatório, além do fato da espessura de tecido adiposo dificultar o acesso ao sítio cirúrgico, gerando aumento do tempo operatório, aumentando a ocorrência de infecção cirúrgica pós apendicectomia.
Conclusão
Evidências atuais sugerem que a espessura da prega cutânea tricipital, aumentada em doenças como sobrepeso e obesidade, estão associados a maior risco de infecção de sítio cirúrgico em pacientes submetidos a apendicectomia aberta, sem impacto estatístico na abordagem laparoscópica.
Tais achados mostram a importância de se considerar tais comorbidades na escolha do método cirúrgico, de modo a reduzir a ocorrência de complicações infecciosas.
Mensagem prática
1 – A espessura do tecido adiposo subcutâneo, aumenta a ocorrência de infecção de sítio cirúrgico após apendicectomia aberta, mas sem significância quando utilizado cirurgia laparoscópica.
2- Considerar a presença de obesidade como fator para escolher o tipo de abordagem da apendicectomia pode reduzir o risco de complicações.
Autoria

Rodolfo Kalil de Novaes Santos
Graduado em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), em Ipatinga (MG), no ano de 2017. Residência Médica em Cirurgia Geral no ano de 2020 pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG) e Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo no ano de 2024 pelo Hospital Governador Israel Pinheiro - IPSEMG. • Cirurgião geral na Casa de Caridade Hospital São Paulo; Casa de Saúde Santa Lúcia e Prontocor. Docente da disciplina de anatomia II da Faculdade de Minas (FAMINAS) de Muriaé (MG).
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