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Cirurgia29 novembro 2025

Deficiências nutricionais após bariátrica: diferenças entre Sleeve e Bypass

Diferenças nutricionais entre Sleeve e Bypass após 10 anos: estudo compara deficiência de ferro e adesão a suplementos. Veja o que muda.

A obesidade é um problema de saúde pública atual e sua incidência vem aumentando gradativamente. Visando o tratamento da obesidade, a cirurgia bariátrica tem sido a melhor opção, com alta eficácia na perda ponderal e na melhora de comorbidades associadas a esta condição. Porém, após a cirurgia bariátrica, pode ocorrer deficiências nutricionais importantes, como hipovitaminoses e deficiências de nutrientes, levando a um quadro de anemia.  

As técnicas de gastrectomia vertical (sleeve) e bypass gástrico, ambas realizadas por videolaparoscopia, são as mais indicadas na atualidade. Mas será que há diferenças nutricionais após a execução de cada uma dessas técnicas cirúrgicas?  

O objetivo deste estudo, denominado SLEEVEPASS, publicado no jornal britânico de cirurgia (BJS), foi comparar as deficiências nutricionais e adesão aos suplementos nutricionais prescritos após 10 anos de acompanhamento em pacientes submetidos à gastrectomia vertical laparoscópica comparado ao bypass gástrico laparoscópico. 

deficiências nutricionais após bariátrica

Métodos 

Trata-se de um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, realizado na Finlândia, entre os anos de 2008 e 2010 com uma amostra de 240 pacientes. Estes foram randomizados e submetidos a gastrectomia vertical laparoscópica e bypass gástrico laparoscópico, respeitando-se as indicações de cirurgia bariátrica. Foram realizadas ainda suplementações de vitaminas D, B12, multivitamínicos orais, cálcio, e ferro em alguns casos específicos. O acompanhamento destes casos foi finalizado em 2021, após 10 anos passados. 

Resultados 

Após o acompanhamento de 10 anos, foi evidenciada maior deficiência de ferro nos pacientes submetidos ao bypass gástrico em comparação com a gastrectomia vertical, respectivamente, definidos pelo valor da ferritina (12 de 29 pacientes – 41% versus 4 de 29 pacientes – 14%; p = 0,017).  

Em contrapartida, no grupo bypass gástrico, houve maior adesão aos suplementos nutricionais e multivitamínicos (83 de 93 pacientes – 89% versus 70 de 99 pacientes – 71%; p = 0,002).  

Não houve diferença estatística nas prevalências de insuficiência de vitamina D (10 de 94 – 11% versus 9 de 84 – 11%; p = 0,545), deficiência de vitamina B12 (2 de 46 – 5% versus 0 de 45 – 0%; p = 0,240) e hipocalcemia (3 de 92 – 3% versus 1 de 83 – 1%; p = 0,088). 

Discussão 

Atualmente, a cirurgia bariátrica é o tratamento mais eficaz para obesidade. Após alguns anos de acompanhamento, pode ocorrer deficiências nutricionais resultantes do procedimento cirúrgico e de acordo com a técnica empregada.  

bypass gástrico promove um desvio do trânsito alimentar e exclusão da absorção duodenal, interferindo na absorção do ferro sérico, o que promove maiores níveis de deficiência de ferro, definidos pela dosagem da ferritina, condizentes com os achados do estudo SLEEVEPASS.  

A adesão à suplementação de micronutrientes no grupo bypass foi maior do que o grupo submetido à gastrectomia vertical e não há uma razão clara e estabelecida para isso atualmente. Sabe-se que fatores tais como esquecimento, falta de hábitos consistentes, efeitos colaterais gastrointestinais, alterações de paladar, são alguns dos motivos relatados pelos pacientes para justificarem uma baixa adesão à suplementação. 

Apesar dessa baixa adesão aos suplementos no grupo submetido à gastrectomia vertical, não houve uma consequência e diferença estatística para os níveis de vitamina D, vitamina B12 e cálcio, em comparação ao bypass gástrico. Isso reforça que o tempo de acompanhamento duradouro, como neste estudo de 10 anos, interferiu mais para contribuição e manutenção destes níveis, do que comparado a estudos de curto prazo (Schiavo et al. 2017). 

Conclusão 

A deficiência de ferro, medida pelos níveis de ferritina, é maior em pacientes submetidos ao bypass gástrico laparoscópico, porém a adesão aos suplementos nutricionais é maior neste grupo, em comparação à gastrectomia vertical. Não há diferença estatística entre as técnicas cirúrgicas em relação aos níveis de vitamina B12, vitamina D e cálcio.  

Mensagem prática 

1 – Pacientes que apresentam deficiência de ferro, com estoque de ferritina baixa, devem ser suplementados e deve ser dada preferência à gastrectomia vertical na escolha da técnica cirúrgica. 

2 – A adesão aos suplementos nutricionais deve ser estimulada em ambas as técnicas de cirurgia bariátrica, mesmo que seja maior em pacientes submetidos ao bypass. 

Autoria

Foto de Rodolfo Kalil de Novaes Santos

Rodolfo Kalil de Novaes Santos

Graduado em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), em Ipatinga (MG), no ano de 2017. Residência Médica em Cirurgia Geral no ano de 2020 pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG) e Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo no ano de 2024 pelo Hospital Governador Israel Pinheiro - IPSEMG. • Cirurgião geral  na Casa de Caridade Hospital São Paulo; Casa de Saúde Santa Lúcia e Prontocor. Docente da disciplina de anatomia II da Faculdade de Minas (FAMINAS) de Muriaé (MG).

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