O câncer de próstata é frequente assim como o câncer colorretal, e com o aumento do rastreio, associado ao aumento da expectativa de vida, o número de pacientes com o diagnóstico sincrônico tem aumentado ao longo dos anos.
A grande questão que envolve o tratamento destas duas entidades é que possuem tratamento distintos, e o tratamento de um pode interferir no tratamento do outro, principalmente pela proximidade anatômica. Alguns tumores de cólon envolvem radioterapia, a qual pode prejudicar a ressecção cirúrgica da próstata e vice-versa.
Um trabalho publicado em 2025 sobre o tema identifica que na literatura não há um consenso de como abordar, e que varia até de ressecção em bloco dos dois órgãos, ressecções simultâneas e até diferentes estratégias de neoadjuvância.
Métodos
Foi realizada uma metanálise com revisão sistemática que envolvessem artigos sobre o tratamento curativo de um tumor retal associado a um tumor sincrônico de próstata. O objetivo foi avaliar se há alguma abordagem preferencial em relação às demais.
O trabalho objetivou definir o desfecho cirúrgico nos 30 primeiros dias, o desfecho oncológico e a sobrevida a longo prazo entre as diferentes estratégias, além das morbidades associadas a cada estratégia.
Resultados
Um total de 82 artigos foram identificados, porém apenas 8 preencheram os critérios de inclusão, sendo estudos retrospectivos e apenas 2 multicêntricos. Na soma dos estudos foi possível incluir 124 pacientes com tumores sincrônicos de reto e próstata. Entre os estudos a idade média variou de 60 a 73 anos e o IMC 23 a 28 kg/m2. A maior parte dos pacientes foram classificados como ASA I ou ASA II. Ao total 70 (56,5%) foram classificados como tumor retal T3, seguidos de 26(21%) pacientes T2 e 11 como T4 e apenas 7 como T1. A maioria dos casos de câncer de próstata foram diagnosticados durante o estadiamento do câncer retal.
Houve uma grande variedade de abordagens terapêuticas entre os diferentes estudos, sendo a modalidade de radioquimioterapia seguida de excisão total mesorectal com ou sem prostatectomia associada, foi a modalidade mais empregada, utilizada em 36 casos (29%). A segunda modalidade mais empregada foi uma dose inicial de radioterapia para próstata, após a neoadjuvância retal, seguido da cirurgia (30 casos; 24,2%). A braquiterapia adicional foi utilizada em 10 pacientes (8%).
Uma pequena amostra de pacientes (n=2) realizou neoadjuvância total para câncer da próstata e reto, e seguiram um protocolo de watchful waiting.
Discussão
Apesar de relativamente frequente, o manejo de tumores sincrônicos de reto e próstata é complexo e carece de uma literatura robusta que corrobora as medidas a serem adotadas. Como encontrado neste artigo existe uma grande heterogeneidade de condutas adotadas o que dificulta determinar qual a melhor estratégia.
Não é muito claro se a presença de um tumor sincrônico de próstata influencia a sobrevida de um paciente com tumor retal, e se o tratamento deve-se focar apenas no tumor do reto. Pacientes submetidos a ressecção simultânea com anastomose retal e uretral estão mais propensos a fístulas urinárias e sepse relacionada a isto. A dose de radioterapia necessária para o tratamento da próstata é mais elevada que a dose para o reto, o que dificulta anastomoses intestinais.
Alguns achados sugerem que a ressecção robótica envolve um menor número de fístulas urinárias e/ou retais pelos estudos desta meta análise, no entanto muitos pacientes do grupo aberto foram submetidos a exenterações pélvicas, que necessariamente envolvem uma maior morbidade cirúrgica.
Em resumo não há dados consistentes nos manejos de tumores sincrônicos de próstata e reto, sendo decidido de acordo com cada centro.
Para levar para casa
Apesar de relativamente frequente, conta a necessidade da discussão em grupo para definir a estratégia caso a caso. Como existem inúmeras condutas a serem adotadas seria necessário um estudo que estratificasse os diferentes cenários, porém isso não foi encontrado.
Autoria

Felipe Victer
Editor Médico de Cirurgia Geral da Afya ⦁ Residência em Cirugia Geral pelo Hospital Universitário Clementino fraga filho (UFRJ) ⦁ Felllow do American College of Surgeons ⦁ Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões ⦁ Membro da Sociedade Americana de Cirurgia Gastrointestinal e Endoscópica (Sages) ⦁ Ex-editor adjunto da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (2016 a 2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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