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Cirurgia28 dezembro 2016

20% dos residentes de cirurgia geral estão desistindo do programa. Saiba o porque

Diferente do que as novelas querem vender, a vida de um residente não é nada romântica. A cirurgia geral é responsabilizada altos índices de decepção.

Por Bernardo Schwartz

Nos filmes e séries médicas, assistimos a cirurgiões salvarem vidas na mesa operatória, enfrentando cirurgias de longas horas e plantões atribulados. Junte a isso seus assuntos pessoais que os esperam em casa. A impressão que nos desperta é de quase um “glamour” esse tipo de rotina. Não ter tempo para o parceiro, para a família e para eles mesmos parece ser instigante. Como o termo “glorification of busy” soa para você?

Diferentemente do que essas novelas da vida real querem vender, a vida de um residente médico não é nada romântica. A especialidade de cirurgia geral é responsabilizada por talvez os maiores índices de decepção dentro da medicina. Quase 20% dos residentes de cirurgia geral não completam seu programa, e a maioria cita questões relacionadas ao estilo de vida como razão, segundo estudo.

Zeyad Khoushhal, MBBS, MPH, da Divisão de Cirurgia Vascular, St. Michael’s Hospital em Toronto, Ontário, Canadá e colegas relatam suas descobertas online em 14 de dezembro no “JAMA Surgery”.

Coautor Mohammed Al-Omran, MD, MSc, chefe da Divisão de Cirurgia Vascular no St Michael’s Hospital, disse em entrevista que, sem soluções para este problema, potenciais talentos poderão ser perdidos e pacientes serão prejudicados.

As mulheres eram muito mais propensas a abandonar do que os homens (25% x 15%). Os autores relataram que possíveis razões para isso incluem a falta de modelos, percepção de discriminação sexual ou atitudes negativas em relação a mulheres em cirurgia por colegas ou pacientes e a falta de apoio dos seus programas.

De todos os residentes, 48% que saíram o fizeram após o primeiro ano do programa e 28%, após o segundo ano. A maioria optou pela troca de especialidade.

Os pesquisadores analisaram 22 estudos em programas de residência de cirurgia geral: 20 em programas dos EUA e um no Paquistão e um na China. Os resultados mostraram amplas variações entre os programas de cirurgia em números de desistência e razões para isto.

Veja também: ‘A saúde mental dos médicos Residentes e suas consequências no dia a dia’

Os dados são escassos para outras especialidades, mas o desgaste na cirurgia geral parece estar ao nível da obstetrícia/ginecologia e neurocirurgia. Porém, o desgaste com residentes de cirurgia geral é muito maior do que para oftalmologia, otorrinolaringologia e ortopedia, segundo a análise.

As duas principais razões para a desistência eram o difícil estilo de vida durante o treinamento e o interesse em outra especialidade. A especialidade mais comum de interesse foi a anestesiologia. Outras razões abdicar da especialidade incluíam dificuldades financeiras, mau desempenho ou demissão, necessidades familiares e problemas de saúde.

Uma pesquisa nacional mostrou que quase dois terços dos residentes de cirurgia geral fechavam critérios para “burnout”.

Dr. Al-Omran disse que grande parte do problema é que os residentes não tiveram contato suficiente com a especialidade antes de se comprometerem. Ele sugeriu que um estágio adicional de seis a oito semanas, como os de alguns países europeus, daria aos residentes mais responsabilidades na cirurgia e os ajudaria a obter mais informações sobre o estilo de vida antes de entrarem no programa.

Embora isso acrescente despesas à educação médica, deixar o programa tem implicações financeiras muito maiores, segundo o Dr. Al-Omran.

Veja mais: ‘Residência cirúrgica: o limite entre o cuidado integral do paciente e o cuidado com o residente’

A limitação de carga horária nos Estados Unidos em 2003 não parece ter tido muito efeito sobre a percepção de satisfação do estilo de vida para os cirurgiões, ressaltam os autores.

“Não é só sobre as horas, é sobre a intensidade das horas”, disse o Dr. Al-Omran em entrevista. Ele a compara às forças armadas: “Nem todo mundo pode ser um comandante ou um Navy SEAL”, disse.

Os autores sugerem que pode haver melhores maneiras de apoiar os residentes de cirurgia do que a limitação das horas de serviço.

Atribuir mentores durante os últimos dois anos da escola de medicina poderia ajudar a garantir que os residentes em potencial estejam preparados academicamente, mas também psicologicamente, para os rigores da cirurgia, disse o Dr. Al-Omran.

Os autores também abordaram outros assuntos como o fato da desistência ser maior no grupo das mulheres.

 

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Referência:

  • Prevalence and Causes of Attrition Among Surgical Residents: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Surg. Published online December 14, 2016. doi:10.1001/jamasurg.2016.4086
  • Nearly 20% of General Surgery Residents Quit Their Program. Medscape. Dec 16, 2016.
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