Ao longo dos anos, abordagens menos invasivas em cirurgia bariátrica vêm sendo desenvolvidas com o intuito de diminuir resposta inflamatória grave, complicações e acelerar a recuperação pós-operatória.
Realizando uma comparação rápida entre os diversos tratamentos da obesidade, a tradicional dieta e atividade física é, sem dúvida, o mais seguro, mas não tão eficaz em grande parte dos casos. A cirurgia, apesar de ser o método com maior eficácia, possui também mais risco associado. No meio termo, com melhor eficácia em relação a dieta e atividade física e menor risco em relação à cirurgia, tem-se os tratamentos endoscópicos.
Dentre os métodos endoscópicos, o balão intragástrico, indicado para pacientes com IMC entre 30 e 40 kg/m², atua ocupando espaço no estômago proporcionando saciedade mais rápido e retardando o esvaziamento. Dentre os diversos tipos, o balão ajustável é o melhor, pelo fato de seu volume poder ser reduzido em casos de intolerância, permitindo maior tempo do dispositivo e melhores resultados. A perda de peso estimada é de 16% e o tempo de permanecia ideal é de 1 ano.
E esse foi um dos temas também abordado na 36ª edição do Congresso Brasileiro de Cirurgia.
Novas abordagens endoscópicas
Um mecanismo recentemente aprovado pelo CFM (maio/2024) é a sutura gástrica endoscópica. Esse método tem perda de peso estimada em 14% e pode ser potencializado com técnicas mais modernas que aliam o uso de plasma de argônio.
Existem também dispositivos que realizam pregas gástricas, reduzindo a capacidade do estômago, chamados procedimentos de polissutura gástrica (POSE). A perda de peso estimada é de 14%.
Além dos procedimentos gástricos foram desenvolvidos procedimentos no intestino. Dentre eles, o duodenal mucosas reaurfacing (DMR) é um método com resultados iniciais satisfatórios, inclusive no controle da diabetes tipo 2, que realiza ablação da mucosa duodenal levando a regeneração dessa mucosa, reduzindo a resistência insulínica.
Outro mecanismo intestinal são as anastomoses magnéticas, que atuam provocando isquemia lenta e gradual nas mucosas junto a um imã magnético levando a uma anastomose duodeno-ileal, com bons resultados e baixo risco de fístulas.
As terapias endoscópicas na obesidade são métodos com aplicações definidas em alguns casos, com boas perspectivas e menor morbidade em relação a cirurgias. Entretanto, a cirurgia para obesidade permanece sendo o método com melhor eficácia e indicações específicas.
O papel da inteligência artificial na cirurgia bariátrica
Em todos os âmbitos da medicina, a inteligência artificial (IA) tem se mostrado um forte aliado na melhoria dos serviços prestados ao paciente, desde o diagnóstico ao tratamento. E não se trata de uma ferramenta que irá substituir o trabalho médico, mas um aliado à força humana para elevar o potencial no tratamento de doenças.
Na cirurgia bariátrica, a IA pode auxiliar na seleção pacientes com melhor indicação cirúrgica, apoio à decisão clínica, planejamento do procedimento além de avaliar os riscos de complicações e resultados. Pode também ser uma ferramenta no treinamento dos cirurgiões.
Os tão falados algoritmos de aprendizagem da IA (machine learning) têm sido utilizados para identificar pacientes com maior risco de complicações, prever perda ponderal e auxiliar na seleção do tipo de procedimento mais adequado para cada caso. Apesar de, até o momento, os sistemas atuais não substituirem o julgamento clínico dos especialistas, modelos de IA podem processar grandes volumes de dados clínicos e laboratoriais, proporcionando uma abordagem mais personalizada e baseada em evidências.
No intraoperatório, a IA pode atuar na sistematização dos tempos cirúrgicos, auxiliando na identificação de pontos cruciais do procedimento com resultados mais efetivos.
Já no pós-operatório, a predição de complicações e estimativas de resultados, auxiliam na tomada de medidas tanto para prevenir efeitos adversos como para otimizar os resultados esperados com a cirurgia e, especificamente no caso das bariátricas, prevenir ganho de peso futuro.
Mensagem final
Estima-se que, em poucos anos a medicina e a cirurgia vão mudar proporcionalmente muito mais do que nos últimos 30 anos e a IA é um dos responsáveis por essas mudanças. Seu uso racional é como aliado do médico: tem o potencial de trazer grandes benefícios na prática médica.
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