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Cirurgia17 junho 2025

Biópsia do linfonodo sentinela no câncer endometrial inicial e hiperplasia

BLNS é eficaz no câncer endometrial inicial, com alta taxa de detecção. Na hiperplasia atípica, a ausência de metástases questiona sua real necessidade.
Por Jader Ricco

O câncer de endométrio (CE) ocupa a 7ª posição entre os tumores malignos mais incidentes nas mulheres e é mais comum após a menopausa. A classificação desses tumores é estabelecida pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO).  

O tratamento curativo inclui a histerectomia associada à anexectomia bilateral. A linfadenectomia pélvica e para-aórtica sistemática vem dando lugar a biópsia de linfonodo sentinela (BLNS), um procedimento com alto valor preditivo negativo (99,6%) e com menor morbidade. 

A biópsia do linfonodo sentinela para CE em estágio inicial e HEA ainda não está bem estabelecida. Entretanto, alguns fatores corroboram com a BLNS para esses casos.  

Estima-se que em cerca de 60% dos pacientes incialmente diagnosticados com hiperplasia endometrial atípica (HEA), a histologia final, após ressecção cirúrgica, corresponde a CE. Além disso, em cerca de 22% dos pacientes com diagnóstico inicial de CE FIGO I, é constatado estágios mais avançados após análise da peça cirúrgica.  

Um estudo alemão de coorte retrospectivo, unicêntrico, avaliou 20 pacientes com HEA e 82 pacientes com CE em estágio inicial no período entre janeiro de 2018 e dezembro de 2023. Os objetivos do estudo foram correlacionar o estadiamento diagnóstico inicial com o estadiamento patológico final e avaliar a viabilidade e eficácia da BLNS, realizada por laparoscopia, para HAE e CE em estágio inicial. 

Câncer de endometrio

Métodos 

Todos os 102 pacientes foram submetidos à BLNS durante a cirurgia para tratamento do tumor.  

Resultados e Discussão 

Em mais de 75% dos casos, o estadiamento patológico final revelou lesões em estágio pT1a ou pT1b, com 92,2% pN0 e o tipo histológico predominante foi o adenocarcinoma endometroide (88,2%). A identificação bilateral do linfonodo sentinela foi possível em 19 (95%) pacientes com diagnóstico inicial de HAE e em 77 (95,1%) pacientes com diagnostico inicial de CE.  

Em relação ao acometimento por doença, não foi identificado nenhuma metástase linfonodal nos pacientes inicialmente diagnosticados com HAE. Entretanto, nas pacientes com diagnóstico inicial de CE, foram identificadas metástases linfonodais em três (3,6%) pacientes. Essas três pacientes foram então submetidas à linfadenectomia, sendo duas à linfadenectomia pélvica apenas, e uma à linfadenectomia pélvica e para-aórtica. 

Destacou-se o fato de que em 11 (55%) pacientes inicialmente diagnosticadas com HAE, o diagnóstico patológico final foi de CE. Esse valor está de acordo com os dados da literatura vigente e reforçam a importância do tratamento cirúrgico nos casos de HAE. Nas pacientes previamente diagnosticas com CE, o estadiamento final foi diferente do inicial em 31 (33,7%) pacientes. Esses dados sugerem a possibilidade do estadiamento inicial subestimar a gravidade da doença. 

A duração média das cirurgias foi de 97,5 minutos, sendo a média das cirurgias videolaparoscópicas menor (92,3) minutos. A BLNS não prolongou significativamente o tempo cirúrgico nem aumentou as complicações cirúrgicas. 

O alto índice na detecção de linfonodos sentinela, associado à diferença entre o estadiamento inicial e final, indicando subestadiamentos da doença além dos desfechos cirúrgicos equivalentes a cirurgias sem BLNS (tempo de cirurgia e complicações associadas) falam a favor da eficácia e viabilidade da BLNS nos casos de CE. 

Por outro lado, o fato de nenhum paciente com HAE ter apresentado metástase linfonodal, não corrobora com a BLNS nesses casos. 

O que podemos levar para casa? 

A BLNS pode ser útil em pacientes com CE em estágio inicial, principalmente tendo-se em vista o uso de terapias modernas como terapia alvo e imunoterapia em pacientes com metástase linfonodais detectadas. Entretanto, nos pacientes com HAE, a BLNS não foi considerada essencial dado a ausência de metástases em todos os casos avaliados no estudo. 

Cabe destacar que o presente estudo apresenta dados limitados, com amostra pequena, unicêntrico, retrospectivo e não serve como base para mudança de conduta. Mais estudos são necessários para se estabelecer com segurança a eficácia e viabilidade da BLNS em CE em estágio inicial e HAE. 

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Referências bibliográficas

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