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Cirurgia29 abril 2020

Apendicite em tempos de Covid-19: como proceder?

Os casos de Covid-19 têm praticamente lotado todas as emergências. E se um paciente infectado desenvolve um quadro compatível com apendicite aguda?

Por Felipe Victer

Infelizmente o número de casos de Covid-19 é tão grande que praticamente todas as emergências estão lotadas de casos suspeitos ou até mesmo confirmados. A realidade do Brasil não tem se mostrado diferente do resto do mundo como muitos almejavam, sobrecarregando nosso sistema de saúde pública e suplementar.

Um fenômeno não amplamente estudado, porém notado por diversos plantonistas é que as patologias usuais não estão aparecendo com a mesma frequência que ocorria na era pré-pandemia. Uma explicação simples, é que os pacientes permanecem em casa, até um maior agravamento dos sintomas para de forma tardia buscar auxilio médico.

Também de forma informal e sem nenhum tipo de metodologia, alguns cirurgiões notaram um menor número de apendicites iniciais em contrapartida maior número de apendicites complicadas.

E se um paciente em vigência de infecção por corona vírus desenvolve um quadro de dor abdominal compatível com apendicite aguda, o que devemos fazer como cirurgiões?

Leia também: Apendicite aguda: como diagnosticar com poucos recursos?

Equipe de cirurgia realiza operação em paciente com apendicite durante a pandemia de Covid-19

Apendicite durante Covid-19

Todos os esforços devem ser feitos para economizar recursos médicos e assim é ainda mais importante uma certeza do diagnóstico correto. Apesar de alguma discussão na literatura, na prática, o tratamento conservador de apendicite não é uma realidade na maioria dos centros em nosso país. Quando presente um apendicolito, a taxa de insucesso do tratamento clínico pode chegar a 50% dos casos. Portanto ao optar por um tratamento não operatório o cirurgião deve ter em mente que o paciente poderá necessitar de recursos hospitalares futuros em caso de falha terapêutica. Assim é fundamental uma avaliação criteriosa, tanto para indicar um procedimento cirúrgico como para não indicar, o que poderia resultar em um retorno para o hospital em um momento de crise ainda maior.

Uma vez indicada a cirurgia, cuidados adicionais devem ser tomados. Apesar da carga viral na cavidade abdominal ser usualmente baixa, isto não isenta a necessidade dos cuidados para o Covid-19. Este paciente, mesmo que estável clinicamente, deve estar isolado idealmente em setor específico do hospital.

Veja ainda: Coronavírus: precauções do time cirúrgico durante a pandemia

É imprescindível que cada hospital possua seus protocolos internos de transporte de pacientes. Rotas devem ser criadas e o pessoal de transporte com treinamento específico, assim como a equipe que irá recepcionar o paciente na entrada do centro cirúrgico. São coisas que parecem simples, mas se não houver este treinamento, infelizmente uma parte destes profissionais serão também infectados e transmitirão para outras pessoas.

Cirurgia

Quanto a cirurgia propriamente dita, não há grandes diferenças do ponto de vista técnico, a não ser a necessidade de cuidado com os possíveis aerossóis criados. Durante a entubação um número mínimo de pessoas dentro da sala operatória. A equipe em campo operatório deve utilizar capotes impermeáveis, máscara N95, protetor facial, gorro e luvas.

Nos casos da cirurgia videolparoscópica, atentar para trocartes que estejam com vazamentos, e não permitir que o gás abdominal escape para o ambiente. O ideal é a utilização de sistemas evacuadores de gases, porem nem sempre estão disponíveis. Mesmo não estando presente não é impeditivo o procedimento por videolaparoscopia, porém o CO2 intra-abdominal deve ser aspirado diretamente para o circuito de aspiração.

A desparamentação é tão importante quanto o uso dos EPIs durante o procedimento, não infrequente o contágio ocorre neste momento. Os membros da equipe cirúrgica devem tomar banho ainda no hospital e colocar roupas novas.

Conclusão

Em resumo devemos tratar os pacientes da mesma forma que era previamente tratado, porém sempre com o intuito de economizar os recursos disponíveis, acrescido dos cuidados extras para o Covid-19.

Referências bibliográficas:

  • Frazee RC, Abernathy SW, Davis M, et al. Outpatient laparoscopic appendectomy should be the standard of care for uncomplicated appendicitis. Journal of Trauma and Acute Care Surgery. 2014 Jan;76(1):79-83. doi: 10.1097/TA.0b013e3182ab0d42
  • Mahida JB, Lodwick DL, Macion KM, et al. High failure rate of nonoperative management of acute appendicitis with an appendicolith in children. J Pediatr Surg. 2016 Jun;51(6):908-11. doi: 10.1016/j.jpedsurg.2016.02.056.
  • American College of Surgeons. COVID-19 Guidelines for Triage of Emergency General Surgery Patients. Disponível em: https://www.facs.org/covid-19/clinical-guidance/elective-case/emergency-surgery
  • Chia, Clement LK. Being a Surgeon in the Pandemic Era. Clement LK. Journal of the American College of Surgeons. 20202;0(0). doi: https://doi.org/10.1016/j.jamcollsurg.2020.04.010
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