Tradicionalmente, nos livros de clínica cirúrgica a nos serviços hospitalares, ensina-se que a inflamação do apêndice cecal configura uma condição cirúrgica denominada apendicite aguda, cuja tratamento padrão é a apendicectomia de urgência.
A forma aguda é amplamente conhecida, com critérios diagnósticos bem estabelecidos, além de sinais e sintomas patognomônicos reconhecidos no exame físico.
Por representar cerca de 90% dos casos de apendicite, especialmente em adultos e jovens, e ser amplamente discutida em provas de residência e plantões de pronto-socorro, não será o foco deste artigo.
A seguir, abordaremos as formas menos comuns de apendicite: a crônica e a recorrente que, embora raras, apresentam importância diagnóstica e cirúrgica crescente na prática clínica.
Leia mais: Manejo atual da apendicite em adultos: o que você precisa saber

Evoluções clínicas distintas da apendicite
Apesar de menos frequentes, há pacientes que apresentam evoluções clínicas distintas da apendicite aguda. Abaixo, serão descritas as principais características clínicas e diagnósticas de cada um dessas apresentações:
Apendicite recorrente
A apendicite recorrente caracteriza-se por episódios repetidos de apendicite aguda, manifestados por dor no quadrante inferior direito do abdômen, com ou sem sintomas. Esses episódios costumam ocorrer em pacientes que não receberam diagnóstico imediato nem tratamento cirúrgico na fase aguda.
Quando a apendicectomia é finalmente realizada, o exame histopatológico a peça cirúrgica é enviada para estudo histopatológico com evidência de processo inflamatório agudo do apêndice, além de desaparecimento dos sintomas após a cirurgia.
Estima-se que essa forma clínica represente aproximadamente 10% na literatura, baseado no resultado das revisões de lâminas.
Apendicite crônica
A apendicite crônica caracteriza-se por dor persistente no quadrante inferior direito do abdômen, com duração superior a 30 dias e o exame histopatológico demonstrar processo inflamatório crônico, com ou sem fibrose, e o quadro clínico melhora após a apendicectomia.
Essa forma corresponde a cerca de 1% a 1,15% dos casos descritos em revisões sistemáticas.
Diagnóstico e tratamento da apendicite crônica e recorrente
Embora a etiopatogenia da apendicite crônica e recorrente ainda não esteja completamente elucidada, admite-se que o principal mecanismo envolvido seja a obstrução intermitente ou parcial do lúmen apendicular.
Os exames laboratoriais costumam mostrar leucograma normal, sem alterações específicas.
Entre os diagnósticos diferenciais frequentemente considerados estão: gastroenterites, aderências pélvicas, doença de Crohn, oclusão intestinal, diverticulites e dor abdominal de etiologia desconhecida.
Na maioria dos casos, está presente o apendicolito, que pode atingir grandes dimensões, e é visto na radiografia simples de abdômen como área de calcificação na topografia apendicular.
O tratamento definitivo de todas as formas de apendicite continua sendo a apendicectomia, realizada por via laparoscópica ou laparotômica. Nos casos de intervenção tardia, o cirurgião pode encontrar complicações intraoperatórias, como aderências ao epíplon, íleo, ceco, parede abdominal, anexos uterinos e alças intestinais, além de abscessos, fibroses, plastrões e bloqueios inflamatórios.
Leia mais: Apendicite aguda: você sabe fazer uma apendicectomia videolaparoscópica?
Considerações finais
Alguns pacientes podem apresentar sintomas recorrentes durante anos até que recebam o diagnóstico e o tratamento definitivos, geralmente durante a agudização do quadro clínico ou após o desenvolvimento de complicações.
Com o aumento do número de casos documentados e o avanço das análises histológicas, o conceito de múltiplas formas de apendicite vem sendo cada vez mais discutido, deixando de ser um tema controverso como antigamente.
Essas observações reforçam a importância de considerar as formas crônicas e recorrentes no diagnóstico diferencial da dor abdominal persistente, evitando atrasos terapêuticos e complicações cirúrgicas.
*Este conteúdo foi atualizado em: 13/10/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
Referências bibliográficas:
- Rocha, J. J. R., Aprilli, F., & Féres, O. (2001). Apendicite crônica e apendicite recorrente: artigo de revisão e apresentação de casuística. Medicina (Ribeirao Preto), 34(3/4), 292-296.
- Orozco, A. F. M., Anderson, A. J. G., & Junior, N. B. (2006). Apendicite crônica: diagnóstico pré-operatório. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, 8(2), 25-27.
- Casanova, A. B., Arend, F. P., & Guimaräes, M. E. T. (1999). A verdade sobre a apendicite crônica: relato de caso e revisão bibliográfica. Rev. cient. AMECS, 60-3.
Autoria

Fernanda Mello Tavares
Cirurgiã Geral formada pelo Hospital Regional de Presidente Prudente ⦁ Residente (subespecialização) de Endoscopia na mesma instituição ⦁ Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade do Oeste Paulista ⦁ Membro Aspirante do Colégio Brasileiro de Cirurgiões em 2018 ⦁ Pós-Graduada em Urgência e Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein ⦁ Graduada em Medicina pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro ⦁ Instagram: @doc.fernanda
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.