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Cirurgia7 julho 2022

Antibiótico no manejo de apendicite aguda não complicada

Nos últimos anos e com o impacto da pandemia de covid-19 houve uma ênfase nos estudos de tratamento da apendicite de maneira não operatória.

Por Felipe Victer

Nos últimos anos e com o impacto provocado pela pandemia de covid-19 houve uma ênfase nos estudos de tratamento da apendicite de maneira não operatória. Os trabalhos iniciais do APPAC Trial primeiramente compararam a realização de apendicectomias com o manejo com antibióticos.

Esta última publicação vai além e compara o antibiótico com placebo no manejo de pacientes com apendicite aguda não complicada. Esta ideia tem como base o manejo de diverticulites agudas não complicadas, que em algumas situações podem ser tratadas sem antibióticos.

Leia também: Apendicite aguda: como diagnosticar com poucos recursos? [revisão]

Antibiótico no manejo de apendicite aguda não complicada

Métodos

Foram selecionados pacientes com diagnóstico de apendicite aguda não complicada, que procuraram a emergência. Foi definido apendicite não complicada tomografias que demonstraram apêndice cecal com diâmetro maior que 6 mm, edema ao redor e/ou mínima quantidade de líquido ao redor. Critérios de complicação com apendicolito, perfuração, abcesso ou suspeita de tumor foram excluídos do estudo.

Foram randomizados os pacientes numa proporção 1:1 entre placebo e tratamento, que receberam de forma duplo cego as formulações previamente manipuladas pelas farmácias dos centros participantes. O tratamento era composto de ertapenem 1 g venosos diário por três dias, complementado por quatro dias de levofloxacino 500 mg/dia e metronidazol 500 mg de 8/8 horas por via oral. Os pacientes do grupo placebo receberam doses venosas e orais com esquemas idênticos ao grupo tratamento. Aqueles pacientes que não obtiveram um bom manejo nos dias iniciais com piora clínica eram levados para apendicectomia videolaparoscópica e a peça era utilizada para definição patológica.

O desfecho primário analisado foi o sucesso da terapia após dez dias do diagnóstico e os desfechos secundários relacionados a complicações também nesse período.

Resultados

No período do estudo (maio de 2017 a setembro 2020) foram selecionados 72 pacientes, que devido a exclusões posteriores permaneceram 66 para as análises estáticas sendo 35 do grupo antibiótico e 31 do grupo placebo. A idade média foi de 37,5 anos e 39% do sexo feminino.

A taxa de sucesso no grupo placebo foi de 87%, com 27 dos 31 pacientes tendo resolução completa dos seus sintomas. No grupo tratamento o sucesso foi de 97% com 34 dos 35 pacientes com resolução do quadro nos dez primeiros dias de evolução. A análise estatística desta taxa de sucesso entre os grupos não apresentou diferença estatística e não pode ser atribuída ao uso do antibiótico (p=0,142).  Dos cinco pacientes que foram submetidos a apendicectomia, três (dois do grupo placebo e um do grupo tratamento) apresentavam apendicite complicada o que reflete uma falha primária real de 7% no grupo placebo e 3% no grupo tratamento.

Discussão

Este estudo apresentou dificuldade de inclusão de pacientes e foi realizado com o menor número possível para a análise. Com este limitante do número de análises, a diferença de dez pontos percentuais entre o grupo placebo e tratamento não foi possível determinar a inferioridade do tratamento sem antibiótico nas apendicites agudas. Mesmo assim, com esse baixo poder estatístico, este é o primeiro estudo a demonstrar a não superioridade do uso de antibiótico no manejo da apendicite aguda e pode nortear trabalhos futuros.

Saiba mais: Preditor de falha do tratamento conservador na apendicite aguda

Os estudos sobre manejo conservador de apendicite aguda têm sofrido uma alteração da sua estratégia para melhor personalização do tratamento, visto que a apendicectomia é uma tratamento definitivo. Assim o manejo conservador poderá ser aplicado em situações nas quais o paciente não está na situação ideal para ser submetido a cirurgia (ex: viagens, tratamento para outras patologias, etc.)

Conclusão

Mesmo sendo uma patologia recorrente e com tratamentos estabelecidos, sempre teremos alguns pontos para questionar. O não uso de antibiótico está longe de ser uma prática clínica recomendada na apendicite, porém este estudo sugere que talvez tenha um fundamento que venha ser provado no futuro.

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Referências bibliográficas

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